Vinicius de Carvalho
Naquele ano do bicentenário de Cuiabá, o objetivo de Dom Aquino era criar um espaço onde os principais intelectuais da época pudessem se reunir para discutir as obras científicas mais importantes em áreas afins e contribuir para a formação da opinião em Mato Grosso. Sua criação foi inspirada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fundado por membros da corte do imperador Dom Pedro II no Rio de Janeiro em 1838 com objetivos similares e adaptado de instituições europeias.
Logo depois, em 1921, foi instalado também por Dom Aquino o Centro Mato-Grossense de Letras, depois transformado na atual Academia Mato-Grossense de Letras (AML). As duas instituições continuam irmanadas ainda hoje, dividindo o imóvel denominado de Casa Barão de Melgaço. Num período em que o Estado ainda não tinha um curso superior sequer, a criação de um espaço como este foi fundamental para fomentar a produção e circulação de conhecimento naquele imenso território que abrangia também os atuais Mato Grosso do Sul e Rondônia.
Ao longo de sua existência, a Casa Barão de Melgaço foi acumulando um acervo dos mais importantes, em cumprimento a sua missão original de preservação da memória estadual. São mais de 12 mil volumes entre livros, jornais, revistas, arquivos de família, fotos, cartas, manuscritos, escritos tipografados, dentre outros. Importante destacar que este acervo está todo catalogado e em boa medida digitalizado, com consulta permitida de acordo com as normas.
Com o passar do tempo, o IHG-MT passou a desempenhar imprescindível função de articulação entre diversas instituições hoje existentes na área. Existem sócios egressos das universidades, dos meios de comunicação, da área cultural e dos diversos centros de documentação existentes hoje no Estado e mesmo fora, por meio dos sócios corespondentes. Nos últimos dez anos foram recebidos importantes apoios governamentais, como a restauração do imóvel, a adesão ao programa dos Pontos de Cultura do Ministério da Cultura e, no ano passado, o acesso à totalidade do imóvel, numa importante conquista das duas instituições junto ao governo atual.
Aos 95 anos seus principais desafios são continuar e expandir suas atividades, preparando-se para o seu próprio centenário em 2019, que coincidirá com o tricentenário de Cuiabá. Deveremos ser capaz de se atualizar num ambiente marcado pelas novas mídias, a profissionalização do terceiro setor (entidades sem fins lucrativos) e a captação de recursos junto as mais variadas fontes financiadoras.
Como em 1919, a instituição deverá contribuir para a discussão sobre a identidade cultural
mato-grossense, em face da diversidade hoje presente em seu território. É sabido que Mato Grosso foi um dos Estados que mais cresceu no Brasil nas últimas três décadas. Este processo de crescimento econômico foi proporcionado por uma forte corrente migratória vinda de outras regiões brasileiras e países.
Além disso, já havia populações mais tradicionais vivendo aqui, como os grupos indígenas, quilombolas e aquela localizada nos municípios mais antigos como Cuiabá, Rosário Oeste, Cáceres, Diamantino, Vila Bela da Santíssima Trindade, Barra do Garças, dentre outros. Auxiliar na compreensão deste novo Estado que está surgindo está entre as tarefas mais importantes a serem desempenhadas pelo IHG-MT nos próximos anos. Vida longa à instituição.
Vinicius de Carvalho Araújo é gestor governamental do Estado, mestre em História Política, professor universitário e escreve neste Blog toda quarta-feira vcaraujo@terra.com.br www.professorviniciusaraujo.blogspot.com
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