terça-feira, 2 de agosto de 2011

Qualidade da educação em risco

Por Sílvia Gusmão Ramos

Pesquisa do Data Popular mostra que, entre 2002 e 2009, o número de estudantes de graduação passou de 3,6 para 5,8 milhões, dos quais 58% pertencem à classe C. A ampliação da inclusão social proporcionada pelo aumento de renda no Brasil e comprovada pelos dados é, sem dúvidas, uma conquista a ser comemorada. O processo deve, entretanto, ser pensado e desenvolvido com a atenção que a complexidade do tema demanda. Isso porque algumas vezes pode se configurar numa cilada, quando se pensa em crescimento sustentável.

É o caso da educação. A precariedade da rede pública de ensino tem tido reflexo direto no desempenho desse novo perfil de alunos do ensino superior. Carentes de conhecimento e de leitura, um grande número desses jovens chega às faculdades sem o domínio das regras de ortografia, concordância e cálculo, além de não conseguir fazer a interpretação dos textos. Situação que problematiza o entendimento e o acompanhamento dos conteúdos das disciplinas dos cursos.

A dificuldade em acompanhar as matérias é tal que algumas instituições de ensino superior particulares de São Paulo têm procurado soluções para não perder seus alunos. Tem investido em aulas de nivelamento no primeiro ano das graduações. O reforço costuma acontecer antes do período normal de aulas, no caso do noturno, ou após o expediente escolar, para quem estuda pela manhã.

Trata-se de uma ação estratégica dessas instituições, imprescindível para sua sobrevivência. Ir além da queixa da precária escolaridade dos estudantes ou do estabelecimento de todo tipo de acordo, comprometendo inclusive a qualidade do ensino, para mantê-lo deles na faculdade.

Vale lembrar que um desempenho negativo dos alunos em provas como o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) coloca em risco a existência da faculdade no mercado. E os resultados recentes da rede particular não são nada animadores. Enquanto 83% das instituições de Ensino Superior que obtiveram resultados insatisfatórios são privadas, 56% das universidades que alcançaram a nota máxima da avaliação são públicas

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