quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Nelson Mandela

Gabriel Novis Neves
 
Mais do que como o grande lutador e vencedor contra o apartheid sul-africano, Mandela, certamente, será lembrado como a maior figura humana do século XX e desse início de século XXI.

Não somente pelo grande estadista que foi, mas, principalmente, pelo homem íntegro e corajoso que demonstrou ser, tanto na sua vida afetiva quanto na política.

Soube se livrar, como ninguém, das vaidades que assolam o poder. Foi honesto em todos os momentos de sua vida, mostrando um espírito conciliador, sem cinismo nem oportunismo, muito raro entre os mortais.

Sua longevidade apenas comprovou que ser coerente consigo mesmo e com os outros, é o grande segredo da felicidade.

Ainda jovem conseguiu se desvencilhar de um casamento arranjado, como só acontece em tribos pequenas onde foi criado.

Mais tarde, em nova união, sofreu os dissabores de alguém que traiu os seus valores, usando das prerrogativas do poder para se vincular às práticas de corrupção.

Novamente teve coragem de se separar para manter intactos os seus ideais de honestidade.

Somente aos 80 anos encontrou a companheira ideal, com a qual conviveu até aos 95 anos, por ocasião de sua morte.

A vida afetiva de alguém diz muito de sua vida como cidadão. Pessoas inescrupulosas na vida privada, dificilmente conseguem integridade na sua vida pública.

Quando nos reportamos aos nossos políticos e seus escândalos amorosos, temos uma verdadeira dimensão do que esperar deles como figuras absolutamente despidas de caráter. Conseguem fazer da vida privada e da vida pública um verdadeiro palco de falcatruas e mentiras.

Alijado de preconceitos, Mandela gostava de dizer que não queria ser o primeiro presidente negro da África do Sul, mas sim, o primeiro presidente de brancos e negros do seu país.

Seus anos de prisão, em função da luta política, apesar de muitos, não conseguiram tirar dele a compaixão e a ternura.

No momento em que, não só a maior parte da classe política brasileira, mas também a internacional, nos desperta tanto asco, figuras da relevância de um Mandela conseguem nos emocionar, pois ele encarna o verdadeiro líder almejado por todos.

Foi-se o homem, mas fica na história um dos maiores estadistas de todos os tempos.

Parabéns à África do Sul, que durante alguns anos conseguiu experimentar a glória de uma verdadeira liderança!

Gabriel Novis Neves é médico

Natal de Jesus!

José de Paiva Netto
 
Duas datas significativas preparam o espírito dos povos para as comemorações de mais um Natal de Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista. Refiro-me ao Dia Internacional da Solidariedade (20/12) e ao dedicado, no Brasil, aos órfãos (24/12).

Quando de Sua primeira vinda visível ao planeta, o Provedor Celeste exemplificou com a própria vida o valor da solidariedade sem fronteiras, sejam elas de idioma, cor da pele, opinião política etc. É Dele também uma postura ecumênica de amparo aos desfavorecidos da Terra.

Refletindo sobre o amplo e irrestrito significado do Natal de Jesus para a LBV e para os que com ela cerram fileiras na construção “de um Brasil melhor e de uma Humanidade mais feliz”, recordo trecho de circular que escrevi em Brasília/DF, datada de 4 de junho de 1997. Faz parte da minha obra “Liderar sob a proteção de Deus”, em preparação.

Dedico a todos os corações de Boa Vontade: (...) Elevemos uma fervorosa Prece ao Cristo, nosso Senhor, porquanto este é o caminho seguro que nos conduzirá à vitória. No Cristo, venceremos! Que queremos nós senão oferecer aos deserdados do mundo uma Ceia Especial que nutra, para todo o sempre, os seus Espíritos sequiosos de um alimento que vem do Alto: Jesus, o Pão que desceu do Céu? E esse Pão que desceu do céu igualmente é Educação e Cultura, Alimentação, Segurança, Saúde e Trabalho com Espiritualidade Ecumênica! Um sonho que nos vem do Cristo de Deus, de forma que o tornemos uma instituição em toda a Terra, para o que precisamos desenvolver um sentido realista, a fim de infalivelmente conduzir multidões pelas estradas da Alma.

Isso porque nestes tempos de avançada tecnologia, é urgente que a Humanidade seja mais sensível aos sentimentos generosos, que impulsionam a Fraternidade e a Solidariedade Social, que andam fazendo bastante falta nos dias que correm. (...)
Um Feliz Natal a todos, e um ano-novo próspero em realizações no Bem!


José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.

Resgatando a feminilidade

Lair Ribeiro
 
Cada vez mais as mulheres estão abandonando os afazeres domésticos para assumir postos no mercado de trabalho.

De acordo com pesquisa realizada em 2005 pelo Grupo Catho, nos últimos dez anos, a participação feminina no mercado de trabalho brasileiro dobrou, revelando os seguintes percentuais de “ocupação” feminina nas empresas:

 presidência: 17,5%

 diretoria: 23%

 gerência: 26%

 chefia e coordenação: 49

O avanço das mulheres no mercado de trabalho é marcado, principalmente, pela onda de mudança que o mundo está atravessando, onde habilidades mais femininas que masculinas têm sido fator determinante para a permanência de muitas empresas no mercado. Hoje, a agressividade e a objetividade – características notadamente masculinas – estão cedendo terreno para a intuição e a capacidade de adaptação, traços marcantes no perfil feminino.

As mulheres estão descobrindo seus. Não precisam mais se espelhar na atuação masculina para provar sua competência. Agora, são os homens que estão buscando adquirir as qualidades femininas tão procuradas pelo mundo corporativo, como a habilidade de cultivar bons e produtivos relacionamentos, por exemplo. Além disso, as mulheres são mais flexíveis que os homens e se adaptam com mais facilidade e mais rapidamente que eles, o que é fundamental para um mundo em constante mudança.

O estilo feminino, aliado ao esforço, força de vontade e determinação das mulheres em colocar em prática sua competência, tem sido reconhecido e recompensado pelas empresas, que apostam nessa nova força de trabalho.

Um importante ponto positivo do estilo feminino é a capacidade de trabalhar com o lado direito do cérebro, mais emotivo, intuitivo, criativo. E como, durante muito tempo, tiveram de agir à semelhança dos homens para conquistar seu espaço, as mulheres acabaram desenvolvendo também a utilização do hemisfério cerebral esquerdo. Com isso, saíram ganhando! Agora, é a vez dos homens correrem atrás do prejuízo e buscar meios para desenvolver o hemisfério direito. Recursos para isso não faltam. Vários de meus cursos têm essa abordagem.

Entretanto, ainda restam alguns pontos importantes a serem conquistados pelas mulheres com relação ao universo corporativo. O principal é que ainda existe um preconceito não-declarado em relação às mulheres. Prova disso é que elas ganham cerca de 10% menos que os homens nas mesmas funções. O mercado tem algumas justificativas para isso, mas as principais são: 1) a mulher é uma mão-de-obra nova e ainda é preciso descobrir seu potencial; 2) semanalmente, elas trabalham cerca de três horas menos que os homens.

Um importante aspecto negativo em relação à participação das mulheres no mercado de trabalho, levantado pela pesquisa do Grupo Catho, é que a porcentagem de mulheres nas empresas diminui conforme o tamanho da empresa aumenta. Mas, mesmo assim, o panorama da participação feminina no mercado de trabalho é promissor. Estima-se que daqui a 20 anos, quase 50% dos cargos de presidência nas empresas serão ocupados por mulheres!

Como tudo na vida tende a encontrar um ponto de equilíbrio, também o mundo corporativo encontrará o seu, equilibrando homens e mulheres em cargos e rendimentos. Afinal, nada mais produtivo que dispor harmonicamente de duas frentes de trabalho tão distintas e, ao mesmo tempo, tão complementares.

MT - Educação Ambiental em Juruena envolve quase 2 mil alunos


Projeto Poço de Carbono, em Juruena ensina alunos a cuidar do ambiente
 
Projeto em Juruena envolve 2 mil crianças na educação ambiental
 
O Programa de Educação Ambiental do projeto Poço de Carbono Juruena, envolveu quase 2 mil alunos e cerca de 40 professores no município, localizado na região Noroeste de Mato Grosso. O projeto, desenvolvido pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental, apoiou os professores na realização de pesquisas, oficinas, palestras e aulas de campo cujos resultados foram apresentados em feiras de ciências nas escolas e também no II Seminário de Educação Ambiental para Sustentabilidade e Florestania, realizado no final do mês passado, com apoio da Prefeitura Municipal.
 
“Foi muito importante levar professores e alunos para conhecer hortas, viveiro de mudas e sistemas agroflorestais em propriedades de agricultores que participam do projeto Poço de Carbono Juruena”, aponta Elaine Raasch, coordenadora pedagógica do projeto. Com esse verdadeiro intercâmbio, além das feiras de ciências, foram desenvolvidas seis hortas pedagógicas com orientação técnica, insumos e atividades com os alunos. “Nós trabalhamos a importância do cultivo de hortaliças e legumes, além de importantes benefícios para o meio ambiente com a reutilização de pneus e garrafas pets para a formação de canteiros”, complementa. As crianças se sensibilizaram sobre a importância de respeitar o meio ambiente e passaram a incentivar as famílias a plantar frutas e hortas nos quintais, valorizando a produção orgânica.
 
Outro importante tema trabalhado foi a gestão de resíduos sólidos, trabalhado em todas as escolas com enfoque especial para a reciclagem e o reaproveitamento de materiais, como garrafas pet e pneus. O projeto Poço de Carbono Juruena apoiou a construção de três parquinhos com pneus e uma sala de “Ecoleitura”, construída com garrafas pets na Escola Municipal Guilherme Antônio Cortonez Crozetta, que conseguiu transformar o espaço escolar, reaproveitando garrafas pet, pneus e madeiras desvitalizadas.
 

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Dos 8.184 cursos de graduação avaliados pelo MEC, apenas 98 receberam nota máxima

A avaliação feita pelo MEC mostra que há muito que melhorar no ensino superior no Brasil.

Agência Brasil -

Dos 8.184 cursos de graduação nas áreas de ciências sociais, humanas e tecnológicas avaliados pelo Ministério da Educação em 2012, apenas 98 receberam a nota máxima no Conceito Preliminar de Curso (CPC), em uma escala que vai de 1 a 5.

Mais da metade dos cursos que receberam a nota máxima ficam em instituições privadas. São Paulo concentra o maior número de cursos com a maior nota.

O CPC avalia o rendimento dos estudantes, a infraestrutura da instituição, a organização didático-pedagógica e o corpo docente. São considerados satisfatórios os cursos com conceito 3 ou mais.

Foram avaliados 8.184 cursos e, desses, cerca de 1.800 não tiveram essa nota atribuída na avaliação, que foi divulgada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) na edição do dia 6 do Diário Oficial da União.

Segundo o Inep, os conceitos 4 e 5 foram apresentados na maioria por instituições públicas, 33,7% do total. As particulares somaram 21,5%. O Inep aponta que, na comparação com os resultados gerais da última avaliação, de 2009, houve melhora em todas as faixas.

Os conceitos satisfatórios (3, 4 e 5), que totalizavam 51,5% em 2009, somaram 71,6% em 2012. Os conceitos insatisfatórios (1 e 2) caíram de 27% para 12%. Os cursos sem conceito, que não atenderam aos critérios mínimos de participação no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), diminuíram de 21,6% para 16,3%.

Os cursos avaliados são de 1.762 instituições. Neste ciclo, foram avaliados os cursos de humanidades: administração, ciências contábeis, ciências econômicas, design, comunicação social, direito, psicologia, relações internacionais, secretariado executivo e turismo. Os cursos superiores de tecnologia das áreas de gestão comercial, gestão de recursos humanos, gestão financeira, logística, marketing e processos gerenciais também foram avaliados.

MEC divulga nesta terça o resultado da avaliação de cursos de pós-graduação

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, divulga, nesta terça-feira (10), às 14 horas, no edifício-sede da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) os resultados atribuídos durante a Avaliação Trienal dos cursos de pós-graduação stricto sensu, concluída no Conselho Técnico-Científico da Educação Superior (CTC-ES) no final de novembro.

No total, foram avaliados 5.082 cursos de mestrado e doutorado. O processo considerou todas as informações prestadas pelos cursos durante os anos de 2010, 2011 e 2012.

O resultado será oficiado às pró-reitorias das respectivas instituições de ensino superior, acompanhados das fichas individualizadas de cada programa de pós-graduação.

No ofício constarão orientações acerca de prazo e forma de apresentação de eventuais pedidos de reconsideração. A avaliação da pós-graduação stricto sensu é realizada pela Capes desde o ano de 1976.
Ao longo de quase 40 anos, se consolidou como instrumento de grande importância para o Sistema Nacional de Pós-Graduação e para o fomento, tanto por parte das agências brasileiras, vários setores governamentais e não governamentais, bem como dos organismos internacionais.

Na primeira etapa as atividades de avaliação contaram com a participação, durante quatro semanas, de 1.200 consultores vindos de todas as regiões do país, distribuídos nas comissões das 48 áreas de avaliação.

Relatório sobre Lei de Responsabilidade Educacional será apresentado amanhã na Câmara dos Deputados

A ideia do relator é que nenhuma escola possa baixar sua nota no Ideb até que sejam atingidas as metas previstas no PNE.


Agência Câmara -

A comissão especial que analisa a chamada Lei de Responsabilidade Educacional (LRE - Projeto de Lei 7420/06 e apensados) se reúne nesta quarta-feira (11) para apresentação do relatório do deputado Raul Henry (PMDB-PE).

No mês passado, o relator defendeu que prefeitos e governadores fiquem inelegíveis por quatro anos se houver queda na qualidade de ensino das escolas de seus estados e municípios.

A ideia, segundo Henry, é que nenhuma escola possa baixar sua nota no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) até que sejam atingidas as metas previstas no Plano Nacional de Educação (PNE – PL 8035/10, já aprovado pela Câmara e atualmente em análise pelo Senado).

O Ideb é um indicador criado pelo governo federal em 2007 para medir a qualidade do ensino nos colégios públicos e privados. As notas – de zero a dez – são calculadas a partir de dados sobre aprovação escolar e médias de desempenho dos estudantes em avaliações padronizadas.

Conforme o PNE, as escolas da primeira e da segunda fases do ensino fundamental e do ensino médio devem tirar, em média, notas 6, 5,5 e 5,2, respectivamente, ao final dos dez anos de vigência do plano. Hoje, as médias das escolas são: 5, 4,1 e 3,7. “Nem tudo o que está errado no ensino deve ser responsabilidade dos gestores, mas é preciso criar um mecanismo externo de pressão para que os governantes tenham também o olho na qualidade da educação pública”, argumentou Henry.

A inelegibilidade, no entanto, não é consenso na comissão especial. “Tenho dúvidas em relação à sanção. Por um lado, reconheço que regras sem sanções são pouco cumpridas no País. Por outro, suspeito que, nos países em que houve essa responsabilização, a estratégia não deu certo”, ponderou o deputado Artur Bruno (PT-CE), que faz parte do colegiado.

A proposta também deve regulamentar o chamado padrão mínimo de qualidade do ensino, já previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB – Lei 9.394/96). Segundo o relator, o substitutivo deverá conter uma lista de 15 pontos a serem cumpridos por todas as escolas, como plano de carreira dos professores, infraestrutura adequada, programa de reforço escolar e cumprimento da lei que determina o piso salarial para os docentes (Lei 11.738/08), hoje fixado em R$ 1.567.

Nesse caso, se alguma escola deixar de cumprir todos os itens, o Ministério Público poderá entrar com uma ação civil pública de responsabilidade educacional contra o gestor. Caso o estado ou o município comprove que não tem recursos para cumprir esses dispositivos, no entanto, ele poderá solicitar ajuda financeira à União, conforme o substitutivo.

A ação civil pública de responsabilidade educacional já está prevista no Projeto de Lei 8039/10, do Executivo, que faz parte do grupo de propostas analisadas. Os 19 textos tratam basicamente de três temas, como explicou o presidente do colegiado, deputado Waldenor Pereira (PT-BA): responsabilidade penal das autoridades públicas; responsabilidade dos gestores por desempenho escolar; e regulamentação do regime de colaboração entre os entes federados.

Henry descartou a possibilidade de responsabilidade penal dos gestores: “a ideia é criar apenas um mecanismo simbólico para o gestor que não for capaz de proporcionar qualidade no ensino”. Ele também não deve incorporar ao relatório a punição de secretários de educação e diretores de escola. “Já temos problemas suficientes para construir quadro adequado no setor. Não queremos criar mais dificuldades nesse aspecto”, sustentou.

A reunião será realizada às 14h30, no Plenário 13.

Na educação, Brasil tem motivos para celebrar e para se preocupar, diz jornalista


FABIANO MAISONNAVE

DE SÃO PAULO
Ao topar com um gráfico comparativo da evolução educacional em 15 países ricos, a jornalista dos EUA Amanda Ripley, 39, viu sem surpresa, que, em meio século, quase nada mudou no desempenho medíocre dos alunos da nação mais rica do mundo. Mas lhe serviu como revelação a melhora apresentada em lugares como Finlândia e Coreia do Sul em apenas uma década.

Ripley decidiu, então, acompanhar alunos americanos de intercâmbio em três países bem avaliados no Pisa --reputado teste internacional de desempenho de alunos entre 15 e 16 anos em matemática, leitura e ciências. Do mais recente participaram de 65 países, com o Brasil nas últimas colocações.

Na Finlândia, a jornalista encontrou crianças que "alcançam alto grau de pensamento sem competição excessiva ou interferência paterna". O contrário da "panela de pressão" sul-coreana, onde as jornadas escolares já tiveram 16 horas. Na Polônia, o fim do comunismo criou uma escola mais rigorosa, porém estimulante.

As conclusões estão no recém-lançado "The Smartest Kids in the World" (As crianças mais inteligentes do mundo, em tradução livre), que está na lista dos cem livros "notáveis" deste ano do "New York Times". O lançamento no Brasil será em 2014. Confira trechos da entrevista concedida à Folha, por telefone.

FOLHA - A sra. diz que o Pisa é um bom método de avaliar o pensamento crítico. O que isso significa do ponto de vista educacional?
Amanda Ripley - Eu mesma fiz o teste enquanto escrevia o livro. Ele requer mais pensamento do que qualquer outro teste padronizado que conheço. Exige que um problema do mundo real seja traduzido em termos matemáticos. Que você critique um trecho de leitura e diga como ele pode ser melhorado. É uma avaliação com base na qualidade do argumento.

A partir do Pisa, a sra. escolheu visitar três países bem diferentes entre si. O que eles têm em comum?
Acompanhei três adolescentes americanos, de Estados diferentes, e que foram a três países muito diferentes também. Todos notaram que as crianças desses países levam a escola mais a sério do que nos EUA -justamente pela escola ali ser mais séria. O trabalho que fazem é mais desafiador, os professores são mais bem treinados e o foco é no aprendizado.
Nos EUA e em outros países está menos claro para que a escola serve. Entrevistei centenas de alunos de intercâmbio nos EUA, e 90% disseram que as escola americana era mais fácil.
Disseram ainda que havia mais tecnologia, o que é importante apenas na medida em que há muito investimento nessa área no país, e é preciso um retorno. Porém, ter iPads em sala de aula não leva necessariamente ao aprendizado.

Qual é a importância do professor?
Anos de pesquisa têm mostrado o que, no fundo, já sabíamos: o professor é o fator intraescolar mais importante na educação. Alguns países concentram toda a energia no recrutamento, treinamento e aprimoramento dos professores. Esses países são poucos e distantes entre si, mas parecem ter sistemas mais justos, com crianças mais inteligentes.

Uma de suas conclusões otimistas é que o sistema educacional pode mudar rapidamente. Isso é verdade mesmo em países grandes?
Acho que sim. Escrevi este livro porque as mudanças são muito estimulantes. É muito encorajador ver países grandes e complexos, como Polônia, Canadá e mesmo partes da China melhorarem dramaticamente o que as crianças podem fazer em dez anos, que não é um período muito longo.
Mesmo nos EUA, há dois Estados, Massachusetts e Minnesota, onde nossa performance é de muito alto nível em comparação com o resto do mundo.


Brooke Bready 
A jornalista Amanda Ripley visitou a Finlândia, a Coreia do Norte e a Polônia, país bem ranqueados no Pisa
No Brasil, o governo comemorou ter sido o que mais avançou em matemática desde 2003, mas o país continua nas últimas posições. Há mais motivos para celebrar ou para se preocupar?
Não saberia interpretar os resultados do Brasil, mas o país ainda tem um longo caminho adiante, assim como outros países na América do Sul. Mas há muitas nações que não estão nem perto do Brasil ou que estão piorando. No caso brasileiro, há bons motivos para comemorar e motivos para gerar ansiedade e preocupação.

O sistema educacional mais exigente parece ser o sul-coreano. Ele deve ser copiado?
Há lições a serem aprendidas, mas não é o modelo ideal para nenhum país. O caminho é extremamente infeliz -muito eficiente, porém doloroso. Você não vai querer ter dois sistemas escolares, um de dia, outro de noite [aulas de reforço], e os alunos assistindo a ambos. É melhor investir num sistema escolar durante o dia confiável a pais e alunos. Lá todos me diziam que o modelo finlandês é o melhor para o mundo.

A sra. diz que o rigor com o aluno é parte importante do sistema educacional eficiente. Isso explicaria a diferença entre escolas privadas de elite e escolas públicas no Brasil?
O último Pisa é o primeiro a mostrar que as escolas privadas estão agregando valor em todo o mundo. Isso é preocupante, porque o acesso à educação não deveria ser baseado em quanto dinheiro os pais têm.
Sobre o rigor, os sistemas mais humanos e de alta performance são os que priorizam qualidade sobre quantidade. Portanto, o objetivo não é gastar muitas horas na escola e muitas horas fazendo tarefa de casa. O objetivo é que o tempo usado seja desafiador, com trabalho difícil que valha a pena fazer. Muitos americanos fazem mais lição de casa que os finlandeses. Mas não é muito criativo ou exigente, é apenas para mantê-los ocupados.

A surpresa do ano foi o Vietnã, país pobre que teve um desempenho melhor do que países ricos. O que explica?
Não sei muito sobre o Vietnã, mas fiquei impressionada com a performance do país. Tem o mesmo nível da Finlândia, Canadá e Holanda, apesar da pobreza. O que eu sei é que, como a Coreia do Sul, há muita aula de reforço depois da escola. É algo com que você tem de ser cuidadoso, ninguém quer que as crianças sejam tristes, estudem dia e noite. Especialmente porque países como Finlândia, Alemanha e Canadá estão no topo sem serem infelizes.

Se a sra. pudesse voltar no tempo, onde faria o ensino médio?
Definitivamente, não seria na Coreia do Sul. É um país fantástico e interessante, mas o sistema é muito esgotador.
Eu estudei no exterior quando era adolescente. Como muitos jovens, estava desesperada para sair da minha escola, então eu embarquei na chance de passar um semestre na França.
O país não tem um forte sistema educacional em relação ao topo do mundo, mas foi uma das melhores decisões que eu tive na minha vida. De repente, entendi que o mundo era um lugar grande, que não gira em torno dos EUA --uma grande conclusão para um norte-americano.

Nelson Mandela, o Brasil e o amigo FHC Olga Lustosa

Olga Lustosa
   Em 1º de agosto de 1991, um ano após ter sido libertado da prisão, Nelson Mandela desembarca pela primeira vez no Brasil. Foi recebido com samba, inaugurou Cieps acompanhado pelo governador Brizola. A visita de Nelson Mandela nessa escola fortaleceu a ideia de igualdade. Ainda hoje, entrevistados, os alunos disseram lembrar do olhar carismático que transmitia toda a sua história e a sua luta contra a segregação racial. O legado dele ficou. Hoje é o patrono da escola.
   Foi condecorado pelo presidente da República, Fernando Collor e pelo Congresso Nacional. Mais de uma vez elogiou a democracia brasileira e o belos sorrisos multi raciais que se abriam para recebê-lo. Nos anos 50, Mandela era um advogado ativo e líder carismático que militava no partido do Congresso Nacional Africano, CNA e atiçava as massas negras contra o apartheid com uma campanha de desobediência civil.

Nos anos 60, após um massacre, no qual os policiais mataram 67 negros, Mandela resolveu fundar um grupo guerrilheiro para enfrentar o apartheid. Mandela ė um politico em absoluta paz com a sua história. Casou-se três vezes, teve seis filhos, escreveu um belo livro autobiográfico, que fala do espírito do triunfo sobre a opressão.

   Dedicou a vida à libertacão do seu povo, começando pela militância num partido negro e pela adesão a luta armada. Passou 27 anos numa prisão, onde entrou aos 44 anos e saiu com 72 para ser consagrado como o primeiro presidente negro da historia da África do Sul, com mandato de 1994 a 1999.

  Mandela inspirou movimentos contra o racismo em todo o mundo. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1993. Voltou ao Brasil em seu último ano como presidente para estar com o amigo Fernando Henrique Cardoso, presidente do Brasil, que o havia visitado 2 anos antes. Discursou em Brasília, falando do sentimento de irmãos separados pelo Atlântico, enalteceu o fato de o Brasil ser um destino turístico respeitável e popular, creditando o fato, ao nosso vasto território, cheio de recursos naturais, nossa criatividade, paixão e diversidade cultural. Descontraído, disse que veio também para aprender a dançar e mostrou-se orgulhoso por estar estabelecendo um contato baseado no respeito, na estabilidade política e numa agenda positiva de contribuição para ambos os países.

   Entre as razões para aprofundar a amizade, citava alguns itens considerados coincidentes, como o fato dos dois países terem emergido após enfrentar problemas em suas democracias e hoje enfrentarem problemas também para superar as disparidades entre ricos e pobres; o desafio imenso de erradicar a pobreza, gerar empregos r melhorar os serviços oferecidos para a população. No tom eloquente e elegante elogiou o programa Comunidade Solidária, citado como uma lição para outros países seguirem, como forma de estreitar as desigualdades sociais.

  Logo após deixar a presidência, em 2002, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu uma carta convite de Mandela para integrar a organização internacional, que ele liderava, os “The Elders”, um grupo de homens notáveis dispostos a elaborar e discutir propostas de paz, de colaboração entre os povos e nações nas áreas sociais, de saúde e educação. Fernando Henrique é o único sul-americano a fazer parte do grupo, que conta, entre outros, com ex-presidentes de alguns países, laureados com Prêmio Nobel da Paz e um ex-secretário geral da ONU.

   Inevitável render homenagem a esse homem extraordinário, líder visionário que partiu dessa terra imortalizado como um símbolo de resistência e coragem.

  Olga Borges Lustosa é cerimonialista pública e escreve exclusivamente neste blog toda terça-feira - olga@terra.com.br

A urgência de viver o Amai-vos

José de Paiva Netto
 
Na Boa Nova de Jesus, aprendemos com o Preceptor Celestial que é imprescindível amar-nos uns aos outros como Ele nos tem amado (Evangelho segundo João, 13:34). E mais: passamos a definir qualquer situação, de modo que a necessidade do ensinamento do Senhor quanto à “Essência de Deus para a Vida” — que é o Mandamento Novo, na definição do saudoso fundador da Legião da Boa Vontade Alziro Zarur (1914-1979) — seja efetiva.

Fica patente esse anseio que temos de ser felizes, razão por que nos devemos esforçar com decisão, de forma que haja uma Sociedade Solidária Altruística Ecumênica. Para que o Respeito, a Fraternidade, a Solidariedade, a Compaixão possam fazer realmente vigorar a Verdade e a Justiça. (...)

ANTÍDOTO AO ÓDIO

O Amor, aliado à Justiça, é essencial. Porque o outro lado da moeda é isso de que todos estão querendo livrar-se: o ódio, que promove a violência que atrai mais violência, o desencontro de sentimentos. Assim, “o xis do problema” não reside necessariamente nos regimes políticos e sociais, mas na índole do ser humano, que os constitui, impõe e vive. Costumo afirmar: não há regime bom enquanto o Homem for mau (desculpem o cacófato).

Como é que um Ser, na carne ou no etéreo, que ainda não tem devidamente demonstrado seguras condições para desfrutar de um clima de civilidade, é capaz de estabelecer uma vivência de fato solidária, se no seu cerne reincide em não querer ouvir esses assuntos básicos, sem os quais não pode existir um lugar que seja em que a ferocidade da guerra (o Cavalo Vermelho do Apocalipse, 6:4) permaneça como o juiz perverso em todas as decisões? Se a sua Alma não for bafejada pela emoção pura de Amor e de Justiça (de maneira alguma confundam Justiça com vingança), ele vai sofismar, engabelar, iludir.

Então, a urgência de vivermos o “Amai-vos como Eu vos amei”, de Jesus, é resultado do exemplo pessoal Dele: doou a Sua própria vida, submeteu-se à crucificação, prova de que portava um recado novo que punha em xeque interesses danosos a certa parte da Humanidade. Portanto, o Missionário Celeste havia se transformado em uma ameaça ao status quo vigente e, ipso facto, foi pregado à cruz do sacrifício.

Por conseguinte, o Cristo deu a maior demonstração de Amor. Consequência: Sua mensagem de Irmandade sem fronteiras espalhou-se pelo planeta, mesmo que, por vezes, tenha sido quase que negada, a modelo do que se viu no Século das Guerras Religiosas: o 16, e nas inqualificáveis Cruzadas.

Por isso, reitero, Jesus é uma conquista diária, uma descoberta permanente para os que têm sede de Saber, de Fraternidade, de Liberdade, de Igualdade e de Paz. (...) E não me refiro ao Cordeiro quando aprisionado por restritas concepções terrenas, sejam filosóficas, religiosas, políticas, científicas.

Ele é um Libertador, jamais um prisioneiro. Sobrepaira a tudo. A Sua identidade com Deus é tamanha que se tornou — para a sobrevivência da espécie humana — o Revelador da primacial causa da penúria de alma que ainda sofremos, tendo em vista a falta de nos amarmos uns aos outros da mesma forma com que Ele nos amou e ama.

Aí vem a decisão para a boa trajetória civilizante que o Sublime Educador nos aponta no versículo 35 do capítulo 13 do Evangelho consoante João: “Somente assim: se vos amardes uns aos outros como Eu vos tenho amado, podereis ser reconhecidos como meus discípulos”. Eis a Política de Deus.


José de Paiva Netto é Jornalista, radialista e escritor.

MT - Estabelecimentos não poderão exigir garantias, diz órgão



Matrícula é uma parcela da anuidade/semestralidade, diz Procon

 
 
 
Com a chegada do fim do ano letivo, iniciam as matrículas e rematrículas em instituições de ensino particulares. Nesta época, questões como anuidade/semestralidade, taxas e inadimplência estão entre as principais dúvidas dos consumidores.

Conforme a superintendente do Procon-MT, Gisela Viana, a matrícula é uma parcela da anuidade/semestralidade. A instituição pode reajustar o valor, acrescentando correção proporcional ao aumento que teve com pessoal (como salários e encargos sociais), despesas gerais e administrativas (material, manutenção, aluguéis, entre outros) e investimentos em atividades pedagógicas (como construção de laboratórios e academias). “Na assinatura do contrato é estabelecido o valor total das mensalidades, que podem ser parceladas de seis a 12 vezes. Também poderão ser negociadas outras formas de pagamento, desde que o valor não ultrapasse o total contratado. Gastos para ampliar o número de vagas não podem ser repassados para os pais”.

A instituição deverá divulgar 45 dias antes do final do prazo de matrícula, em lugar de fácil acesso, texto da proposta do contrato, o valor da anuidade ou semestralidade e o número de vagas por sala/classe. Os estabelecimentos não poderão exigir garantias, como cheques pré-datados e notas promissórias para a assinatura do documento, que deverá também estar escrito em linguagem de fácil compreensão. “É importante que o consumidor leia com muita atenção e tire todas as dúvidas antes de assinar o contrato,” salienta a superintendente do Procon-MT.

As instituições poderão cobrar taxa de reserva de vaga e de matrícula, mas o valor deverá ser descontado na primeira mensalidade. Caso desista antes do início das aulas, o aluno ou responsável têm direito à devolução integral do que foi pago. “Porém, a escola poderá reter parte do valor se houver despesas administrativas e essa possibilidade deve constar no contrato”, explica Gisela Viana.

O estudante inadimplente não tem direito à renovação de matrícula, mas é assegurado o direito de trancar a matrícula. Caso opte pela transferência, seus documentos não podem ser negados. Aqueles alunos que estiverem matriculados e ficarem inadimplentes não poderão ser impedidos de fazer provas e avaliações, lembra a superintendente.

No caso de estudantes que desejarem cursar apenas as disciplinas de dependência, a instituição de ensino não poderá cobrar o valor total da mensalidade. O preço deverá ser proporcional ao número de disciplinas cursadas.

Com relação ao material escolar, é vedado à instituição incluir na lista itens de uso coletivo dos estudantes ou da própria escola, conforme lei recente aprovada pelo Congresso Nacional e já sancionada pela Presidência da República, finaliza Gisela Viana.

Para mais informações, procure o Procon-MT pelos telefones 151 ou 3613-8500. E para formalizar reclamações, o órgão atende em sua Sede Estadual na Avenida Historiador Rubens de Mendonça, nº 917, Edifício Eldorado Executive Center – Bairro Araés, das 13h às 19h e no Posto de Atendimento do Ganha Tempo, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 18h30, e aos sábados, das 07h30 às 12h.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Temos que reinventar a educação brasileira


entrevista com Pedro Demo, publicada na edição 441, outubro de 2013.

Pedro Demo professor emérito da Universidade de Brasília, doutor em Sociologia pedrodemo@gmail.com
 
Dados recentes do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) apontam que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) avançou no Brasil. Porém entre os três itens analisados – longevidade, renda e educação – o que menos cresceu foi o último. Ainda é um grande desafio qualificar o ensino público e garantir que as crianças aprendam, após anos de escola. Em outubro, quando comemoramos o Dia dos(as) Professores(as), acreditamos ser uma oportunidade de refletir sobre as mudanças necessárias à educação e sobre a importância de valorizar os(as) professores(as). Para isso, conversamos com Pedro Demo, professor emérito da Universidade de Brasília, doutor em Sociologia, com mais de 90 livros publicados.
  • Como está a educação do Brasil, comparada à de outros países?
Infelizmente, na comparação internacional nós temos uma imagem muito deficitária. Nossos dados nos aproximam de certa forma mais da África. No IDH nós estamos no 85º lugar, que é um dos mais baixos da América Latina. Temos tido muita dificuldade de arrumar isso, porque a nossa escola pública, que abriga 95% dos estudantes no Ensino Fundamental, literalmente é assim uma coisa de pobre para o pobre. Acho que o desafio mais importante é o professor. O Brasil não está cuidando do professor. Aqui, professor é uma das piores profissões que a sociedade oferece. O piso salarial é infame, completamente inaceitável. Todas as grandes mudanças que se fizeram na educação, por exemplo, nos países asiáticos ? Japão, Coréia e Singapura ?, que disputam o melhor lugar no mundo em termos de desempenho, começaram pelo professor. Montaram uma bela carreira, atrativa, que pega as melhores cabeças da sociedade. A gente pode ver na cara deles que a educação vale a pena. Aqui não. E nós não conseguimos avançar.
  • Mas tivemos alguns avanços, sobretudo na questão da avaliação.
Sim, criamos alguns sistemas de avaliação, mas que mostram que nós estamos indo muito devagar. A própria avaliação do Ideb é um pouco enganosa, porque é facilmente adulterada. Então nós temos um sistema de ensino que não consegue progredir. Ele é feito para dar aula. Não é feito para o aluno aprender. Nós temos muita aula. Aula de tudo que é jeito, mas não é voltada para a aprendizagem dos estudantes. Os estudantes não têm um bom aprendizado.
  • Existe uma movimentação da sociedade por mais investimento na educação. Isso pode resolver?
Isso também é outra coisa angustiante, porque todo mundo quer ver mais dinheiro em educação, mas muitas vezes é um dinheiro jogado fora. Não adianta investir na escola que temos hoje, porque é uma escola onde não se aprende. Precisaríamos recomeçar, como os Tigres Asiáticos recomeçaram. Eles reinventaram a escola, reinventaram o professor. Aí sim vale a pena pedir 10% do orçamento para a educação, e será um grande investimento. Eu tenho a impressão de que uma das coisas que mais favorece o desenvolvimento de um país é uma população bem qualificada, que nós não temos. Para se ter uma ideia, o movimento Todos pela Educação apresentou um dado de que, chegando ao fim do Ensino Médio, só 10% sabem Matemática. São 12 anos para 10%. É um aproveitamento absolutamente triste. É um país que não aprende e quer fazer parte do Primeiro Mundo.
  • As diversidades regionais do nosso país não são um agravante para os nossos problemas?
Isso complica, sim. Porque é um país muito diverso e precisa de muitos esforços diversificados. Consomem-se muitos recursos também com isso. Mesmo assim isso não é um problema de outro mundo, porque outros países enormes, como os Estados Unidos, superaram essa dificuldade. O problema maior é nosso sistema de ensino. Existem dados que mostram que quando se aumentam as aulas, os alunos, em geral, aprendem menos. O aluno não vai para a escola para escutar. Ele vai para a escola para escrever, para produzir, para fazer o seu conhecimento, para participar da sociedade do conhecimento. Não quer ficar como um ouvinte, copiando as coisas. Todo mundo sabe que isso está errado, mas a gente insiste nisso.
  • Que modelos existem no mundo que a gente segue ou deveria seguir?
Penso que todo país, de certa maneira, precisa inventar a sua proposta. A gente não pode ficar copiando. Por exemplo, Singapura teve muito êxito. Há 30 anos atrás ela não era nada e agora tem um dos melhores desempenhos do mundo. Mas Singapura era um país ditatorial e é lá do Oriente. Não tem nada a ver conosco. O que a gente pode aprender daí é que Singapura teve cabeça para fazer uma proposta própria. Valorizaram muito o professor e optaram por uma escola onde realmente o aluno aprende. Eles abandonaram a ideia do ensino. Só ficaram com a aprendizagem. Aqui nós estamos sempre atrás de um sistema de ensino. O que tem de sobra na escola é aula. O que tem de menos é aprendizagem.
  • O que significa ensino e o que significa aprendizagem?
Aprendizagem é uma coisa mais centrada no aluno. Mas nós sabemos hoje que o aluno aprende bem quando o professor aprende bem. Você tem que conseguir que o aluno se forme. Na verdade, é um movimento que você anima de fora, motiva de fora, mas acontece lá dentro, na cabeça das pessoas e da sociedade. Essa virada é muito importante. Você vai para a escola para aprender. Teria que mudar muito a formação original. Bom professor é aquele que, além de ganhar bem, sabe ler, sabe pesquisar, sabe produzir, tem texto próprio, é um protagonista da sociedade do conhecimento. O ensino tem muito de adestramento. Nem a cidadania aparece.
  • E o currículo?
O currículo é uma organização oficial dos conteúdos que a gente imagina necessários para cada ano. Há uma tendência hoje de reduzir a carga curricular. Por exemplo, para o estudo da Matemática, o Japão adota dez tópicos. O Brasil adota 40 ou 50. Ficam entupindo a criança. O Japão sempre tira os primeiros lugares nas Olimpíadas de Matemática. Eles adotam dez tópicos, mas fazem bem os dez. Os estudantes participam intensamente e por isso o Japão conseguiu que a matéria preferida pelos estudantes na escola é Matemática. Eles fazem muita gincana, muita competição, muita farra em torno da Matemática. No Brasil a Matemática ainda é um horror. E como é que a gente entra no Primeiro Mundo sem Matemática? Isso é ciência, e ciência a gente aprende não é fazendo aula. Precisa de laboratório, de museu de ciência, levando a ciência ao cotidiano da pessoa.
  • Mas implicitamente nós estamos seguindo alguns modelos?
O nosso modelo é o que nós chamamos tecnicamente de instrucionista. Na escola a gente faz instrução. Faz treinamento, mas não aprendizado, não formação. Porque o aluno fica lá escutando aula, tomando nota e fazendo provinha. E isso prepara para o século passado, mas não para o século futuro. Estamos também muito distantes das novas tecnologias. Há uma resistência muito grande da pedagogia e também do governo, insistindo que os cursos têm que ser presenciais. A nova tecnologia está aí e todo mundo precisa de computador e internet, sobretudo as crianças que vão viver nesse mundo. Mas a escola, a pedagogia se permite ignorar isso. Também não acho que novas tecnologias vão resolver tudo. Não é uma coisa mágica, mas elas invadiram tudo e se pode aprender melhor com elas. A primeira inclusão tem que ser do professor. Nós erramos, achando que colocar o computador na escola resolve. Primeiro temos que colocar o computador na cabeça do professor, porque ele é que tem que decidir o que fazer com o computador e também evitar os riscos que o computador traz para a criança. Tudo o que você quer mudar na escola com alguma profundidade tem que passar pelo professor.
  • Fala-se hoje em autoria. O que significa isso?
A questão da autoria está na moda no mundo todo porque recebeu um empurrão das novas tecnologias, que a gente tem chamado de web 2.0. Está baseada na produção de conteúdo próprio. São plataformas que não são feitas para copiar, só transmitir, reproduzir. Mas você tem que montar, construir, elaborar alguma coisa. Um exemplo mais convincente é a Wikipédia. Para você se meter na Wikipédia tem que levar texto seu. A mensagem importante é de que aprender é fazer texto próprio, é construir suas coisas, não é ficar escutando aula, copiando, repassando. Não adianta estar numa escola onde o aluno não é convidado a fazer a sua produção, onde é convidado apenas para escutar e a fazer provinha. Nós estamos na contramão da história e ficando para trás. Eu penso até que a dificuldade que nós temos hoje do crescimento da economia já é um reflexo disso. Não temos população qualificada para uma economia boa.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Família e escola: parceiras na formação do sujeito aprendiz

entrevista com Isabel Parolin, publicada na edição nº 435, abril de 2013.

Isabel Parolin psicopedagoga, autora de diversos livros e consultora institucional, Curitiba, PR. http://www.isabelparolin.com.br
 
O diálogo entre família e escola tem sido tema de muitos debates educacionais nos últimos anos. Todos nós, de certa forma, já refletimos sobre de quem é a responsabilidade de educar as crianças e os jovens. Neste mês, o jornal Mundo Jovem se propõe a discutir como essas diferentes “instituições” podem, em conjunto, contribuir para que a educação seja melhor. Para isso, conversamos com a escritora e psicopedagoga Isabel Parolin, que aborda estas e outras tantas questões sobre a família e a escola.
  • De quem é a tarefa de educar as crianças e os jovens, hoje? Realmente há uma grande dúvida, porque as famílias, a comunidade de um modo geral, imaginam que só se aprende na escola. Isso é uma crença enganosa. Na escola nós aprendemos, sem dúvida alguma, mas não é só lá que isso acontece. Costuma-se dizer que é um espaço privilegiado para se aprender. No entanto aprende-se de uma forma diferente do que se aprende na família. Quando se coloca um filho na escola, ainda que lá seja um espaço para aprendizagem, não se pode achar que ele vai aprender tudo ou que a escola conseguirá ensinar tudo que ele precisa aprender para bem viver. Por exemplo, a escola também ensina valores e algumas coisas que a família ensina, porém de forma diferente, com encaminhamento diferente e uma pontuação diferente. A família precisa ser educadora, ensinar seu filho, porque é ela quem constitui o sujeito, a pessoa, a forma de ele entender o mundo, de ler o mundo. Isso tudo é fruto da qualidade da relação que ele tem com a família. Todos têm uma forma de manifestar a sua religiosidade, de se alimentar, enfim ? isso são coisas que vão construindo o sujeito, que vão construindo um olhar sobre o valor da refeição, da união, da família, ou seja, uma forma de entender o mundo e de vivê-lo. Diferente do que acontece na escola. A escola tem recreio, tem hora de lanchar, e essas experiências, juntas, encaminham a formação do cidadão. Ambas trabalham para a mesma pessoa, mas com métodos diferentes.
  • São responsabilidades que se complementam? Sim, são complementares. As famílias, erroneamente, transferem para a escola responsabilidades que são suas. Por exemplo, a respeito da forma de se alimentar há uma queixa grande por parte das mães. A escola pode oferecer um lanche balanceado, mas, para que a criança aprenda de verdade, ela precisa saber do valor de uma nutrição adequada. Ela vai aprender na escola a diferenciar a hortaliça da verdura etc., mas quando chegar em casa precisa que a família faça isso para que ela tenha esses conceitos como verdade. E é isso que muitas vezes não acontece na relação família e escola. Existe uma transferência de tarefas, e assim a validação fica difícil. O exemplo é fundamental na aprendizagem. Quando isso não acontece, o discurso fica vazio. Por isso é que os pais queixam-se: "Eu digo, mas ele não faz!". Outro exemplo é com relação à lição de casa. A lição de casa é do aluno. O que os pais precisam é ter uma rotina em casa para valorizar a tarefa do filho. Existem pais que dizem o seguinte: "A escola passa lição para casa, mas eu trabalho o dia inteiro, como é que vai ser?" Não tem problema algum. É só desenvolver uma rotina adequada, hábitos adequados, ensinar para o filho que a responsabilidade de fazer a lição é dele e que depois a professora corrige. A construção do sujeito é da família, e a construção do aprendiz é da escola.
  • Quais são os ganhos quando família e escola formam uma parceria? O resultado é um cidadão adequado. O ganho que uma pessoa tem é o fato de aprender a fazer uma leitura adequada do mundo e a consequente inserção social. Essa pessoa vai aprender a respeitar uma fila, a atravessar a rua na faixa de segurança, porque existe uma disciplina de trânsito que possibilita que a pessoa esteja mais assegurada e uma prática social que valida essa conduta e essas leis. Se você observar, há toda uma repercussão social negativa quando há falta de entendimento do adequado fluxo social. Os pais e os avós ficam muito felizes quando as crianças têm aula de trânsito. As escolas têm projetos para educação no trânsito, mas na hora de ir para a cidade com a família, seja de carro ou de ônibus, alguns pais não agem corretamente. Aproveitam o sinal amarelo, não atravessam a rua na faixa de segurança... Não se comportam de forma que a criança veja que o que ela aprendeu na escola é validado na sociedade. E daí a criança começa a não perceber direito o que é verdade e o que não é; o que é importante saber e o que não é importante.
  • A integração entre escola e família é, então, uma responsabilidade social? A escola tem sido a grande parceira da família. Antigamente, as pessoas procuravam outros núcleos como igreja, centros comunitários etc. Hoje, as pesquisas têm mostrado que, na hora de buscar apoio, as famílias recorrem à escola. Inclusive uma consulta em postos de saúde revela que, quando é solicitado um exame neurológico, por exemplo, a família busca se certificar com a professora se aquilo é adequado. Isso representa que realmente a escola tem uma responsabilidade social importante e que ela ajuda a família a pensar os rumos que vai tomar. Muitas escolas, inclusive, perdem o mote da sua tarefa, que é provocar aprendizagem sistematizada, porque se perdem no atendimento às famílias, como se o pátio da escola pudesse se transformar num quintal de casa. Mas esse não é o caminho. As escolas de pais, por exemplo, atendem as demandas das famílias de uma forma muito bacana. Existem também as palestras e outras iniciativas. E uma coisa que vale destacar é o fato de que as escolas que tiveram melhor média no seu Ideb apontaram que fizeram um trabalho com os pais. Esse é um dado interessante, porque se espera das famílias que cumpram o seu papel de formadoras do sujeito, assim como se espera da escola que cumpra o seu papel de ensinar e provocar as aprendizagens necessárias para que essa pessoa, realmente, viva seu papel cidadão.
  • Quais problemas são percebidos quando os pais não acompanham a vida escolar dos filhos? Os problemas são bem visíveis, pois falta um pilar nessa construção: os índices baixíssimos que o Brasil tem de qualidade de educação (é o 84º país no IDH). Especialmente se considerarmos que somos a sexta economia do mundo, isso dá um disparate imenso. Há pais que não estão preocupados com o que o filho aprende, apenas querem saber se o filho foi aprovado no final do ano. Mas aprovado significa que o aluno sabe, que ele aprendeu? Com isso não estou eximindo a escola de sua responsabilidade. Acredito que a escola deve ensinar com o apoio da família ou apesar da família que a criança tenha. Um cidadão é um aprendiz, que se apropria do conhecimento historicamente acumulado na sociedade e cientificamente desenvolvido, e o torna instrumento para o bem viver e conviver. A pessoa que tem conhecimento articula o pensamento e torna-se um sujeito melhor.
  • Há responsabilidade da família para o insucesso dos índices da educação? Atenção: é da escola a responsabilidade de ensinar a ler, escrever, resolver situações problemas, entender o funcionamento do mundo através do entendimento das ciências, história etc. A família é parceira, que viabiliza, que dá suporte e que potencializa. Mesmo que a escola nem sempre ensine de forma exitosa, pois ainda se tenta ensinar muito conteúdo sem significado para os alunos, a criança ou o jovem, quando lê um jornal, precisa conseguir identificar, por exemplo, um fato geográfico nessa notícia. Caso contrário, não terá nenhum sentido ler a notícia, pois não entenderá a mensagem. Um dos motivos pelo qual o aluno não faz articulações é porque a sociedade, hoje, pouco conversa e muito pouco lê. Os pais ficam horas no Facebook, na frente da televisão, ou vão para o shopping comprar, deixando a criança sozinha, sem orientação e, geralmente, com brinquedos eletrônicos. Por isso é uma sociedade que pouco pensa. É importante pensar sobre a vida, conversar. Sem dúvida alguma, o êxito de uma criança ? do ponto de vista de ela se tornar uma pessoa sábia, conhecedora, com uma inserção social bacana ? tem a ver com uma boa escola que ensine e uma família que eduque.
  • As novas configurações familiares acarretam novos desafios para o acompanhamento escolar dos filhos? Sem dúvida, é um grande desafio. Será muito importante um diálogo diferente, uma forma de ver essa relação diferente. Por exemplo, escuto as pessoas dizendo que "avós não têm compromisso de educar". Mas o IBGE mostrou que muitos avós, hoje, ficam com a responsabilidade de encaminhar o dia a dia dos netos. Neste caso, não se pode afirmar que são só avós daquela criança. Eles são seus educadores. Quando os avós criam um neto, eles são tudo na vida daquela criança. Assim também os padrastos ou madrastas não podem se eximir de suas responsabilidades. A tarefa de educar é de todos. As reuniões com pais precisam acontecer até para que os pais tirem suas dúvidas e se formem pensadores, pensando junto com a escola a respeito de alguns aspectos que a família não tem pensado.

Integração pela escola de pais

A relação entre escola e família pode ser trabalhada pelo que se chama escola de pais, que se apresenta de várias formas. Há escolas que fazem reuniões mensais com os pais, desenvolvendo temas gerais: limites, como a pessoa aprende, como se forma um leitor etc. Existem instituições que promovem encontros com os pais a cada três ou quatro meses. Depende muito da formatação e da necessidade da escola. Mas o ideal seria que as escolas tivessem uma rotina de acolher os pais para trabalhar temas vinculados à vivência do dia a dia de educar uma criança na sociedade.

Inicialmente, é muito difícil os pais irem até a escola. Os grupos começam tímidos, mas aí a escola monta uma forma de atrair esses pais para as reuniões. E, na medida em que começam a participar, vão percebendo a importância e passam a ser multiplicadores.

Os pais atrapalham a escola quando não há clareza das fronteiras relacionais que se deve estabelecer e quando eles não podem usufruir de um processo de informação. O ideal é que a escola mostre para a família o que ela vai fazer de bom para o filho e oriente-a a respeito do que está faltando na educação da criança. Vale lembrar que a criança em casa é filho e na escola é aluno; papéis diferentes com pautas de desempenho diferentes.

Quando vão tomando conhecimento desses assuntos, os pais sentem-se mais seguros para participar na escola de uma forma mais adequada. Só que esse é um conhecimento que a escola tem que articular.

E a escola também transfere muitas coisas para a família. Não raro uma professora chama os pais e comunica que seu filho não está aprendendo... Quando necessário, a escola tem que chamar os pais, explicar que o processo de educação não acontece pela pressão, explicar que a escola tem projetos pensados para provocar aprendizagens. É comum encontrar, nas agendas, bilhetes de professores para os pais com o seguinte recado: “Seu filho está indo mal nas avaliações. Favor providenciar que ele estude”. Mas esta tarefa é da escola: recuperar a aprendizagem do aluno. Tarefa da família é garantir que ele vá à escola, faça seus temas de casa e estude.

Na maioria das escolas que se propuseram a promover escola de pais, os resultados são excelentes. Não funciona quando a escola traz os pais e não tem muito clara a fronteira que há entre eles e ficam num jogo de empurra. Quem sai perdendo é a criança que não aprende, e a sociedade que perde um cidadão adequado para o bom convívio.

Políticas sociais: para que todos tenham direitos



entrevista com Giovane Antonio Scherer, publicada na edição 442, novembro de 2013.

Giovane Antonio Scherer assistente social, mestre e doutorando em Serviço Social, da Faculdade de Serviço Social da PUCRS. giovane.scherer@pucrs.br
 
Mesmo que o Brasil tenha avançado muito nos últimos anos em termos de inclusão social e de políticas públicas para quem mais precisa, ainda permanecemos um país extremamente desigual. Segundo dados recentes, publicados pela revista Forbes, as 124 pessoas mais ricas do Brasil acumulam cerca de 12% do PIB. Esse é o verdadeiro escândalo brasileiro que deve lotar as ruas de manifestantes, por um lado, e, por outro, é a razão da necessidade e da urgência de políticas sociais na direção da equidade. Sobre este tema conversamos com o professor Giovane Antonio Scherer, assistente social, mestre e doutorando em Serviço Social, da Faculdade de Serviço Social da PUCRS.
  • O que são as políticas de inclusão?
Quando falamos em política, falamos em política pública, isto é, uma resposta dada pelo Estado a determinadas demandas da sociedade. As políticas públicas materializam-se em diversos segmentos, de diversas formas. Assim como nós temos uma política econômica, temos também a política social. Dentro da política social surgem muitas nomenclaturas: políticas de inclusão, políticas compensatórias, entre outras. O termo mais adequado seria políticas sociais, até porque inclusão é um tema muito questionado dentro do ambiente acadêmico.
  • Por que o questionamento sobre inclusão?
O que é inclusão e o que é exclusão? O que seria ser um excluído? Muitos autores falam de uma inclusão precária, ou seja, as pessoas estão dentro de algum segmento, de algum mercado, mas de uma forma precarizada. Essa dialética de inclusão-exclusão, às vezes, se torna uma armadilha. Por exemplo, se fala muito em exclusão social, mas o que é estar incluído ou excluído socialmente? Todas as pessoas participam da sociedade de alguma forma, até os moradores de rua estão inseridos dentro da sociedade e participam de alguma forma, mesmo que seja uma inclusão precária. Então eu penso que o termo mais correto para tratar essa forma de política seria política social.
  • Por que há necessidade de políticas sociais?
Principalmente a partir da Constituição de 1988, formou-se um marco para a política social. Voltando um pouco na história, podemos perceber que a política social se constitui numa luta por direitos. E a política social é uma forma de materializar esse direito. Nos primórdios do século 18, quando se rompe com a lógica absolutista da sociedade, temos o início da luta pelos direitos humanos. E a política social, então, vem dar respostas em função de pressões da sociedade, que foi se organizando e buscando pressionar o Estado para obter respostas às suas demandas, suas necessidades sociais. O Estado vai cedendo a essas demandas também por interesse em manter seu status quo, para manter o contexto apaziguado. No Brasil a gente tem a primeira aproximação com essa lógica da política social com Getúlio Vargas. Era uma lógica bem populista, de forma assistencialista, isto é, voltada para a benesse. Porém com a Constituição de 1988 é que se dá o marco histórico em que a política social se constitui numa política universal, principalmente por um tripé que se chama seguridade social, composto por: uma política de saúde (uma política universal para todas as pessoas); uma política de assistência social (para quem dela necessitar) e uma política de previdência social (para atender o trabalhador contribuinte em algumas ocasiões especiais da sua vida, por exemplo, na velhice, na doença etc.). Essas três políticas são centrais e foram desenvolvidas ao longo do tempo.
  • Em que áreas as políticas sociais são mais visíveis?
Temos que reconhecer no Brasil um avanço de todas as políticas sociais, mas percebemos que nesse avanço também há alguns retrocessos. A lógica da Constituição de 1988 é de uma política universal, para todas as pessoas. E cada vez mais percebemos alguma privatização, uma ausência do Estado para as políticas sociais. É o caso da saúde, muito fomentado nas manifestações sociais. A política de saúde é uma política universal, mas em função de um contexto de precarização e privatizações há um aumento do mercado, em que o Estado se retrai e o mercado se expande, transformando um direito social, conquistado historicamente, em uma mercadoria. Uma outra política que cresce muito, também com seus avanços e retrocessos, é a política de assistência social. Hoje se tem um sistema único de assistência social para amparar o sujeito nas suas demandas sociais. Há todo um avanço na arquitetura dessa política pública, nos serviços que ela oferece e separado por níveis de complexidade, para atender todas as demandas dessa sociedade. Então, é uma época de fomento de política social no Brasil todo, mas também é um momento de desafios, porque todo avanço é também um retrocesso nesse contexto, principalmente em função dessa lógica do desmantelamento e da precarização da política social, fomentada no contexto mundial por determinações políticas, econômicas, com a finalidade de uma diminuição do Estado.
  • As políticas sociais não deixam as pessoas dependentes e acomodadas?
Na verdade, esse discurso tem a ver com a questão ideológica. Essa forma de compreender que a política social acomoda as pessoas é uma forma reducionista e preconceituosa de compreender o contexto da política social. Porque a política social é pensada numa visão equitativa, isto é, para possibilitar que as pessoas possam se aproximar desse contexto de igualdade, pois nem todas as pessoas são iguais. A política social é pensada para garantir os direitos. A própria gestão da política deve ser pensada para um lógica de participação e não de acomodação ou de subalternidade. Essa é a grande diferença entre a lógica assistencialista (de simplesmente dar) e para uma política social que deve ser pensada e executada para atender todas as demandas do sujeito. Na verdade, a política social não é simplesmente a doação, ceder alguma coisa, mas é também possibilitar que todos tenham acesso a bens e serviços, que de outra forma talvez não teriam. O discurso de que a política social acomoda é uma ideologia bastante liberal, simplesmente para desmantelar direitos duramente conquistados.
  • Mas a política social pode emancipar o sujeito?
Na própria prática profissional do serviço social podemos ver diversas famílias beneficiárias de um programa ? por exemplo, o Bolsa Família ? que conseguem, a partir do acesso a cursos profissionalizantes, deixar o benefício e poder buscar o seu trabalho, seus direitos, seguir sua trajetória de vida. Nem todas as políticas são compensatórias. Por exemplo, existem políticas sociais de proteção contra a violência, contra a violência sexual, ou seja, existem várias políticas sociais que visam a dar conta dessa totalidade que é o sujeito. Nós não somos parte separada, nós somos um contexto integral.
  • Será que algum dia as políticas sociais não serão mais necessárias?
A política social como um todo não vai ter fim e não deve ter fim na sociedade em que vivemos. Porque a sociedade, da forma em que está organizada, no modo de produção capitalista, sempre vai gerar um impacto social negativo: pessoas fora do mercado de trabalho, processos precarizados, processos de violência. Por isso, nesse sistema econômico, a política social vai ser sempre necessária. O que pode acontecer é uma forma de diminuição da política social em função de um retrocesso do Estado, retrocesso de direitos. Mas existe uma série de lutas para que as políticas possam ser ampliadas, efetivadas, ao invés de serem reduzidas. Talvez a muito longo prazo, com um novo sistema econômico e social, com uma outra forma de organização da sociedade, aí sim, poderia a política social chegar a um fim; mas isso não é possível no modo de produção capitalista, em razão da funcionalidade da política social.
  • Como são as políticas sociais em outros países?
Existe no mundo um sistema de proteção muito mais desenvolvido do que no Brasil. Não é coisa de países periféricos ou socialistas. É coisa de país capitalista de se gestar, de se constituir enquanto país. Não é uma particularidade do Brasil. As lutas por direitos são lutas históricas do mundo inteiro que atravessam a própria história do país. Por exemplo, alguns sistemas de proteção que existem na Europa, sistemas mais abrangentes, com políticas não fragmentadas, universalistas. Os estudiosos apontam no sentido de que há necessidade de ampliar ainda mais a política social, e não reduzi-la. Que todas as pessoas possam ter acesso a ela. Na questão das cotas de algumas universidades públicas, seria mais coerente que as pessoas não precisassem dessa forma de disputa como acontece hoje. Se todas as pessoas tivessem acesso à educação, se não houvesse a redução desse direito à educação de qualidade, que é universal, não haveria necessidade de cotas.