domingo, 5 de julho de 2015

Estudo da OCDE confirma o “poder” das competências sociais e emocionais


A escola deve ensinar competências sociais e emocionais. A OCDE recomenda que seja dada mais importância ao desenvolvimento psíquico das crianças e dos jovens.

As crianças não nascem ensinadas. Ao contrário do que parece. O currículo escolar dita que até ao ensino secundário os alunos aprendam disciplinas essenciais para a vida adulta. Mas a par da  Matemática, das Ciências, do Português e das línguas, há outro conjunto de aptidões que desempenham um papel importante no futuro de qualquer pessoa. Boa autoestima, perseverança e sociabilidade podem ajudar os alunos a obterem melhores resultados na escola.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) recomenda aos pais, professores e decisores políticos que deem mais importância ao desenvolvimento psíquico das crianças e dos jovens.  “Aqueles que tiverem níveis elevados de competências sociais e emocionais (ex: autoconfiança e perseverança) são suscetíveis de benefiar mais de investimentos em competências cognitivas (ex: aulas de Matemática ou Ciências).”

As conclusões constam do relatório “Skills for Social Progress: The Power of Social and Emotional Skills”, apresentado em março pela organização internacional. Apontam as competências sociais e emocionais como essenciais para o futuro dos jovens. O estudo baseia-se numa análise longitudinal realizada em 2014 em nove países membros: Bélgica, Canadá, Coreia, Nova Zelândia, Noruega, Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos da América.

A OCDE sugere que os sistemas educativos só têm a ganhar se conseguirem uma boa combinação entre saberes e sentimentos. Alunos com uma boa autoestima, conscientes de si próprios, determinados em conseguirem o que pretendem, sociáveis com professores e colegas e emocionalmente estáveis têm mais hipóteses de obter bons resultados na escola, no mercado de trabalho e na sociedade. Por isso, é importante ensinar as crianças e os jovens a gerirem as suas emoções.

O estudo da OCDE alude ao facto de serem difíceis de medir como uma das razões pelas quais as competências sociais e emocionais não são mais tidas em conta. Os educadores podem não conseguir avaliar se o esforço para desenvolver este conjunto de aptidões psíquicas nos jovens está a ter algum impacto.

“Medir as competências socias e emocionais é um desafio”, confirma a OCDE, “mas há um número de instrumentos que podem ser usados de forma confiável”. Entre eles: autorretratos de personalidade, características comportamentais e avaliações psicológicas objetivas.

Outro dos entraves pode prender-se com a “perceção de que as habilidades sociais e emocionais são difíceis de melhorar, em particular através da escolaridade formal”. Mas a OCDE garante que o caminho pode fazer-se através de experiências extracurriculares e da educação informal.
O relatório confirma que os educadores têm uma palavra a dizer neste processo de aprendizagem emocional. São “competências relativamente mais maleáveis na infância e na adolescência”, diz a OCDE, por isso, podem ser nutridas. Como? Sejam pais, professores ou mentores, “se conseguirem criar laços relacionais fortes com as crianças”, ao mesmo tempo, “enfatizando experiências de aprendizagem extracurriculares que obriguem a ‘pôr as mãos na massa’, conseguem incutir sentido de responsabilidade, capacidade para trabalhar em equipa e confiança.

Entre os países analisados, a OCDE encontrou exemplos bem-sucedidos de como os Estados podem investir na capacitação emocional e social das crianças e jovens. Através de programas de intervenção precoce na infância destinados às famílias mais desfavorecidas. Entre os adolescentes, a existência de mentores e a promoção de aprendizagens em contexto de trabalho provaram ser boas estratégias para cultivar competências ao nível da motivação e da autoeficácia.    

Por outro lado, alerta a OCDE, “pequenas lacunas de habilidades, no início da vida, podem tornar-se falhas significativas no seu decurso”. De igual modo preocupante é a constatação de que “a falta de competências emocionais pode agravar as desigualdades económicas e sociais”.
Os nove países observados, diz a OCDE, apresentam abordagens muito diferentes para promover as competências emocionais e sociais. Na Bélgica, os dados sugerem que os alunos do 6.º ano com características mais extrovertidas e com uma boa autoestima têm 13% mais de probabilidades de frequentarem o ensino superior. No Canadá, uma análise feita a alunos com 15 anos sugere que as competências emocionais, com base em medidas de sensação de domínio e autoestima, vão permitir que no futuro os jovens tenham mais hipóteses de frequentar o ensino superior. De igual modo, na Suécia ficou confirmado que mais competências emocionais e sociais correspondem a uma subida da probabilidade de os alunos virem a ingressar na universidade.

Outros dados apontam uma associação entre competências emocionais e melhoria da convivência escolar. Por exemplo, na Coreia, um aumento do sentimento de responsabilidade entre os adolescentes com 14 anos mostrou-se eficaz na redução de atos de bullying para com os colegas. Um acréscimo simulado dos níveis de confiança, entre os jovens noruegueses de 15 e 19 anos, mostrou resultados positivos na diminuição da possibilidade de virem a sofrer de alcoolismo. Na Nova Zelândia, o reforço de atitudes ligadas à perseverança em crianças de 8 anos melhorou os seus resultados escolares.

Melhor gestão das emoções, mais saúde. No Reino Unido, medidas levadas a cabo em crianças de 10 anos para promover a autoestima, produziram efeitos ao nível da diminuição de casos de depressão aos 16 anos. Na Suíça o reforço da autoestima em adolescentes com 16 anos mostrou diminuírem em 26% a ocorrência de depressões. E, nos Estados Unidos da América, um estudo longitudinal concluiu que uma intervenção ao nível da primeira infância foi capaz de reduzir os índices de infelicidade das crianças em níveis de ensino mais avançados.  

Aos decisores políticos a OCDE recorda que “competências geram competências”. Por isso, termina o relatório, “as políticas educativas devem assegurar a coerência entre os contextos de aprendizagem - na família, escola e comunidade - e fases de progressão escolar (ensino primário, básico e secundário)”. 

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