segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Professora supera próprias deficiências para educar



luan.santos

Quando questionada sobre sua infância, Maria Dolores Fortes poderia citar as constantes idas aos hospitais, o preconceito que sofria ou a longa escada da escola pública que dificultava diariamente seu acesso aos estudos. Porém, a lembrança que mais a marcou quando criança foi outra.

Vítima da artrite reumatóide infanto-juvenil, doença que dificulta os movimentos e causa dores nas articulações, foi durante as hospitalizações que a atual pedagoga descobriu sua vocação para lecionar.

Filha de pai metalúrgico, de mãe lavadeira e integrante de uma família de nordestinos imigrantes na grande São Paulo, Maria Dolores começou a sentir fortes dores musculares aos dois anos de idade. Porém, foi somente aos seis anos que o problema foi identificado. A artrite reumatóide infanto-juvenil foi restringindo seus movimentos aos poucos, e por isso ela passou a maior parte da infância internada em hospitais.

“Quando eu ficava hospitalizada, virava professorinha de outras crianças que dividiam a enfermaria comigo. E nos dias que eu conseguia freqüentar a escola, ficava até mais tarde para ajudar outros colegas a fazer suas lições”, conta Dolores.

Ela conheceu o preconceito aos nove anos de idade, quando não era aceita em nenhuma escola pública por ser portadora de deficiência física. Quando o direito de estudo lhe foi concedido, a menina se esforçou o dobro para vencer os conteúdos e para subir e descer as escadas do colégio. Com dificuldade de dinheiro, Dolores não possuía cadeira de rodas, e na maioria das vezes precisava subir de joelhos os 30 degraus que a levavam para a sala de aula.

Esforçada e inteligente, com 15 anos ela começou a dar aulas para a filha de uma vizinha. Nesse momento, sua vocação foi comprovada: conseguiu alfabetizar sua primeira aluna que tinha apenas quatro anos de idade na época.


“Uma águia foi criada com as galinhas e vivia sempre a ciscar. Até que um camponês descobre que ela é uma águia e a põe a voar. No início ela relutou, mas depois conseguiu. Minha vida foi assim. Minha família, pela humildade cultural, achava que eu não ia conseguir chegar muito longe devido às minhas limitações físicas. Mas eu consegui”, conta a atual escritora de três livros, o primeiro deles uma autobiografia intitulada “O voo da águia”.

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