quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

STRESS, DEPRESSÃO, SÍNDROME DO PÂNICO: A ESCOLA INSALUBRE...




Escrito por Gilmar de Oliveira


Sabe aquela conversa das senhorinhas no posto de saúde do bairro? Aquele bate-papo de queixas, doenças e reclamações? "Pois é, vizinha, estou com bico-de-papagaio"... "Ai, isso não é nada, eu tenho pressão alta, trombose, artrite...". Pois visitando salas de professores nos horários de recreio em diversas escolas, ao entrar, nota-se aquele clima de postinho de saúde e aquele queixume de doenças.

Também é fato que os professores afastam-se muito da sala de aula por doenças, em longas licenças para tratamento de saúde. O número de atestados de professores é alto, talvez a categoria que mais tenha licenças médicas, afastamento, doenças ocupacionais incapacitantes e elevado desgaste em todo o Brasil.

Seria o caso da profissão pedir insalubridade ou periculosidade?
Ou seria o caso de debatermos o quê, de fato, acontece nas escolas, que faz os professores e demais funcionários (a quem chamo de educadores) adoecerem constantemente?

São cada vez mais comuns os ataques verbais e até físicos a professores e educadores de escolas em todo o país. O desrespeito é a tônica em muitas escolas. Isto abala a qualidade do trabalho e os vínculos entre professores e alunos em sala de aula, pois todos são envolvidos.
Também as pressões sociais e políticas (cuidado, professores: é ano de eleição; vai ter diretor fazendo campanha e pressionando nas escolas! Denuncie!) abalam os educadores.

As más condições das escolas, o baixo salário, o despreparo dos profissionais nas relações interpessoais e muitos diretores que "vendam" os olhos, para fingir que isto não acontece no ambiente escolar contribuem diretamente para agravar o quadro de saúde da escola.

O nível de stress emocional é altíssimo em muitos professores, levando-os a adoecerem por stress, síndrome do pânico, síndrome de Burnout, depressão.
Afinal, o que está acontecendo? A cobrança diária, as más relações, a desestrutura familiar em lidar com a moral e os limites podem causar tanto estrago?

Acontece que a sociedade está doente. A escola reflete o que a sociedade apresenta.

Os pais em geral, estão desequilibrados e "no limite". A escola não deveria, mas traz, para dentro de si, conseqüências de uma sociedade consumista, castradora, voraz.

Os professores e educadores também são gente que ama, que sofre, que paga contas, que tem filhos, parentes, que tem uma vida após a jornada de trabalho (longa e estafante). Exige-se retidão, postura, domínio técnico, pedagógico, assistencialismo barato, afetividade indevida e se oferece o quê de suporte para poder-se cobrar tanto? Lamentavelmente, quem paga o pato é o educador e o aluno, que tem um professor desgastado tentando explicar sem a energia e a "pegada" necessárias para a aprendizagem e a identificação do aluno com o mestre.

E a escola, ambiente que deveria ser de harmonia, de respeito e cooperação, acaba envolvida em ensinar a competição pelo lucro, pelo cargo, pela necessidade de ascensão profissional.

Este é um dos fatores. Outros fatores envolvem uma jornada e um preparo inadequado, desgaste de relações interpessoais, que frutificam na ausência de uma política de prevenção ao stress no trabalho, de prevenção às doenças ocupacionais associados ao ato de ensinar: na voz, na coluna, nos olhos e principalmente, na mente humana! Na cabeça do educador!

As empresas privadas jamais admitiriam tantos atrasos por consultas, tantos atestados, licenças, afastamentos e remanejamentos como na Educação Estatal. Mas se demitirem-nos, correm o risco de sofrerem processos judiciais por terem destruído a saúde do funcionário.

Para que isto não aconteça, as empresas privadas desenvolvem trabalhos de prevenção aos acidentes pessoais, ao stress, programas de conscientização da saúde e da qualidade de vida, realizam palestras e cursos para melhorar as relações no ambiente de trabalho. As empresas descobriram que é mais barato investir neste campo do que arcar com despesas por atestados e substituições de bons funcionários.

As escolas particulares também investem na qualidade das relações e economizam, além de melhorarem a qualidade de vida de seus funcionários, efetivam maior qualidade no aprendizado e nos bons exemplos que os professores dispostos e felizes podem dar a seus alunos.

Já nas escolas públicas, falta este projeto de qualidade de vida no trabalho, de conscientização da valorização do professor, de harmonização do ambiente mais lindo, mais maravilhoso que a mão humana criou: a Escola.
É necessário que a classe educacional se una e apresente pedidos de investimento na saúde mental e física do educador e aponte para soluções que minimizem os gastos públicos da Educação relacionados à doença, para se investir em viver melhor, aproveitar melhor a vida profissional, com projetos de desenvolvimento de relações e condições sadias no ambiente escolar. Sociedade, alunos, educadores e cofres públicos se beneficiariam com esta atitude.

Gilmar De Oliveira
Sobre este autor:
Psicólogo clínico e institucional; especialista em Neuropsicologia e Aprendizagem e Mestre em Educação e Cultura. CRP 12/01950. Endereço eletrônico: gilmardeoliveira@uol.com.br

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