terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Crianças de 2 anos já usam computadores em escolas Publicidade

TALITA BEDINELLI
da Reportagem Local

No Dia das Mães deste ano, a corretora de seguros Fábia Luci de Oliveira, 34, recebeu um cartão com coração, ursinhos e florzinhas coloridos pelo filho.

Seria um presente comum, não tivesse o menino --de apenas três anos-- feito tudo no computador e enviado por e-mail, por intermédio de um professor.

Marcelo Justo/Folha Imagem

Remo (à dir.), 3, e o colega Felipe, durante a aula de informática na escola Materna, em São Bernardo do Campo, na Grande SP
O cartão foi produzido durante a aula de informática que Remo tem na escola Materna, em São Bernardo do Campo (Grande SP). No ano que vem, quando ele fizer quatro anos, a aula passará a ser semanal e ele aprenderá a usar programas como o Word e o Power Point.

A computação tornou-se assunto sério em algumas escolas de ensino infantil. Entretanto, há educadores que acham que esse aprendizado está ficando cada vez mais precoce.

Há casos, como o do Magister, na zona sul de São Paulo, em que os alunos já aprendem a usar computadores aos dois anos, quando ainda estão no mini-maternal. Eles têm, inclusive, um laboratório específico, com computadores de teclados grandes e coloridos.
"Eles chegam à escola com informações bem pertinentes à era em que eles vivem. Manuseiam o celular da mãe, máquinas fotográficas", explica a coordenadora da educação infantil do Magister, Rosana Ziemniak.

Segundo ela, nessa faixa etária os alunos usam programas específicos, com joguinhos que tocam música.
"Tentamos desde as séries iniciais contextualizar o conteúdo, tendo a informática como instrumento. A tecnologia também faz parte da matriz de habilidades e competências do Enem no fim do ensino médio."

No Pentágono, as atividades tecnológicas com as crianças começa aos quatro anos. É quando elas deixam de ter duas aulas de educação física por semana para ganhar uma de informática.

"Ela entra como suporte, para complementar o que é desenvolvido na sala de aula", conta Cláudia Mileu, coordenadora da educação infantil da unidade Morumbi (zona oeste). Se a criança está aprendendo números e cores, por exemplo, tem uma atividade lúdica no computador sobre isso.

Apesar de ter se emocionado com o presente feito pelo filho, Fábia confessa que inicialmente não via com bons olhos as aulas de informática.

"Sempre acreditei que criança tem que brincar. Vejo muitas crianças que ficam em videogame, no computador o dia inteiro, e tinha um pouco de receio disso", conta. "Mas se eu excluí-lo da tecnologia, quando ele tiver uns dez anos vai ficar para trás."
Silvia Fichmann, consultora de tecnologia da educação em escolas como a Stance Dual, concorda. "As escolas precisam acompanhar o ritmo da nossa sociedade, que é multimídia. E elas estão aprendendo a usar o computador para enriquecer o trabalho da sala de aula."

Contraindicado

Para alguns educadores, no entanto, essas aulas são inúteis e até prejudiciais.

"O tempo de atenção de crianças de até quatro anos chega no máximo a dez minutos. Forçar crianças [a ficar na frente de um computador] é contraindicado", diz Regina de Assis, consultora em educação e mídia e professora aposentada da Faculdade da Educação da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

"Há atividades muito mais ricas e proveitosas que poderiam fazer nesse tempo para desenvolver a coordenação motora."
Para ela, o uso precoce do computador pode trazer danos visuais, já que os órgãos visuais não estão totalmente desenvolvidos, e até problemas motores, pela diminuição da movimentação corporal.

A opinião é compartilhada pelo professor de ciência da computação Valdemar Setzer, da USP.

"As crianças deveriam aprender brincando. O computador prejudica o desenvolvimento da imaginação porque já apresenta na tela tudo pronto. Nessa idade, a criança tem que brincar com coisas que a ajudem a imaginar. Depois, ela se torna um adulto sem imaginação, que não sabe resolver problemas com criatividade", diz.

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