quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sem medo da qualificação

Além das consequências socioeconômicas intrínsecas, como o fechamento de empresas e postos de trabalho, queda dos investimentos e esgotamento do crédito, as crises têm efeitos colaterais perversos no contexto da sociedade e no comportamento dos indivíduos. Triste exemplo ocorre na Espanha. Enfrentando índice de desemprego em torno de 23%, engenheiros, administradores e executivos em geral estão modificando seus currículos — para pior! — na expectativa de conquistar vagas que exigem menor qualificação.

Em contraste com estudos anteriores, reveladores de que os espanhóis, como, a rigor, trabalhadores de todo o mundo, sempre buscavam “dourar a pílula” em seus históricos profissionais, é lamentável constatar a presente situação, em que a sobrevivência sobrepõe-se à tendência natural da evolução das carreiras profissionais. Isso demonstra como uma crise prolongada desorganiza os setores produtivos, o mercado de trabalho, as empresas e as próprias relações econômicas.

Torcendo para que a Espanha e toda a Europa consigam superar o mais rapidamente possível a presente conjuntura de dificuldades, é inevitável fazer o contraponto com o atual mercado de trabalho brasileiro, com baixíssimo índice de desemprego. Aliás, verifica-se em nosso país a falta de profissionais qualificados, em numerosas áreas, um problema que tem sido apontado como fator capaz até mesmo de limitar nosso crescimento econômico.

O chamado “apagão profissional” precisa ser solucionado, considerando que as perspectivas de expansão de nosso PIB continuam favoráveis, na esteira do Pré-sal, dos biocombustíveis e da ampliação do mercado interno propiciada pelo processo de inclusão socioeconômica. Por essa razão, é preocupante constatar que o investimento público direto em educação evoluiu apenas 0,1 ponto percentual em 2010, em relação ao ano anterior, chegando a 5,1% do PIB, conforme divulgou recentemente o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).

É verdade que, desde o início da série histórica produzida pelo Inep, o patamar do investimento público em ensino em relação ao PIB cresceu sensivelmente: passou de 3,9%, em 2000, para 5,1%, em 2010. Ou seja, em uma década, o Brasil ampliou em 1,2 ponto percentual do PIB os recursos aplicados em educação.

No entanto, ainda estamos atrás das nações integrantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), nas quais, em média, o investimento no ensino situa-se entre 6% e 8% do PIB. E alguns desses países são justamente os que se digladiam com a crise persistente. Portanto, precisamos nos empenhar no sentido de tornar viável a meta de, até o final da década, elevar a pelo menos 7% do PIB o aporte de recursos no ensino. Lembrando ser essa a projeção mínima do MEC para viabilizar o novo Plano Nacional de Educação (PNE).

Ao contrário dos espanhóis, precisamos melhorar os currículos, em especial das novas gerações, que terão a responsabilidade de consolidar o crescimento sustentado e o desenvolvimento brasileiro. Em tempo: em nosso país, mesmo nas mais duras crises, a qualificação profissional sempre foi muito valorizada, evidenciando o valor do ensino e do conhecimento!




Antoninho Marmo Trevisan
a.trevisan@trevisan.com.br
Diretor da Trevisan Escola de Negócios.

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