sábado, 1 de dezembro de 2012
A espiritualidade, o engajamento político e a vida pública
Olga Lustosa
“Eu não poderia levar uma vida religiosa se não me identificasse com a humanidade inteira, e isso eu não poderia fazer se não fizesse parte da politica”, disse Ghandi.
A Fundação Ford apóia um trabalho de pesquisa para traçar o contorno das novas práticas e expressões espirituais e suas implicações em participação de atividades civis e políticas nos Estados Unidos. O projeto propõe estudar as consequências do aumento gradativo de componentes da espiritualidade na vida política. Muitas pessoas conhecidas por seus engajamentos espirituais estão se envolvendo nas questões sociais e políticas.
O que o estudo quer apurar é se o envolvimento dessas pessoas difere de alguma forma do engajamento dos outros e quais são as alternativas que trazem esse grupo de pessoas espiritualmente mais elevadas. As conferências para discutir o tema da Espiritualidade, Engajamento Político e Vida Pública, conta com a participação de instituições tradicionais, que construíram boa reputação em atividades espirituais e outras do mundo acadêmico, como a Universidade de Boston.
Pessoas que percorrem um caminho espiritual, buscando o crescimento pessoal, a prática de atitudes desprendidas, pensamento elevado em bondade espiritual seriam recomendadas a estarem envolvidas nas questões sociais e políticas e há uma razão importante para isso: Pessoas em viagens espirituais são adeptas da mudança, da transformação. E se você pode promover uma mudança na sua vida, isso pode ser estendido a um grupo maior de pessoas.
Dezessete mil crianças morrem de fome a cada dia na terra, nós somos a única espécie no planeta, que sistematicamente destrói o próprio habitat. Esses fatos só vão mudar quando trazermos para a resolução dos problemas homens dotados de coração mais comprometido com o amor, com a inclusão e com a bondade. É de um envolvimento que transforma as questões morais e sociais que estamos falando. Sem essas coisas, o mundo não se conecta mais.
Nós evoluímos a um ponto de estarmos prontos para efetivar profundas mudanças. Mas por que elas não acontecem? Talvez porque muitas pessoas ainda insistem em não participar de atividades políticas justamente porque não acreditam na mudança. Porém precisamos contribuir com reflexões e inserções sérias, para que possamos começar uma nova conversa sobre política, com uma nova visão de mundo civil e espiritual; adotando valores humanitários como o princípio organizador da civilização humana e não a economia, como tem sido.
Não devemos desviar o olhar do cenário político, seja ele qual for. Podemos sempre levar a perspectiva do amor, compaixão e respeito para nossas ações, até que cada pessoa possa encontrar o seu próprio senso de identidade dentro do mundo. Se as coisas da política perseguem o bem comum, onde a política falhar, a espiritualidade pode intervir para trazer equilíbrio e harmonia e construir uma organização humana de natureza perfeita.
Erasmo escreveu “A educação do príncipe cristão” em 1515 e nos ensinamentos diz ao príncipe que para ser um ótimo governante, ele não poderia ser superado naqueles bens que verdadeiramente lhe pertenciam: a grandeza de alma, a temperança e a honestidade. Quando o príncipe lhe pergunta qual é a sua cruz, a resposta foi a seguinte: “ A sua cruz é não praticar o mal contra ninguém”.
Olga Borges Lustosa é cerimonialista pública e acadêmica de Ciências Sociais pela UFMT e escreve exclusivamente neste blog toda terça-feira - olga@terra.com.br
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