Mauro Andreassa
O avião cai no meio do Atlântico matando mais de duas centenas de passageiros. Falha do sensor pitot? A barra de direção se rompe, o bólido do Fórmula 1 perde o controle e um braço de suspensão atinge o capacete do piloto, um dos maiores do mundo e herói nacional. Culpa dos pneus frios? O prédio desaba. Excesso de peso sobre as lajes? Notícias como essas são frequentes e ganham cada vez mais importância, na voz de especialistas, professores e doutores procurados nas entrevistas para explicar as razões de tais acidentes.
E então, da pior forma, as ciências e as engenharias, antes restritas ao ambiente acadêmico, se popularizam e passamos a discutir esses temas no cafezinho do escritório, nas festas de fim de semana, no happy hour. Mas não seria essa mesma a sua verdadeira vocação? Não seria esse o sentido do conhecimento – da universidade para a sociedade? Em um mundo imerso na tecnologia todos precisam ter acesso ao conhecimento, que deveria vir a la carte do ensino básico ao superior.
Penso que a carência de engenheiros no país, um assunto exaustivamente abordado, deve ser visto como uma trilogia permeada pela desmotivação com a carreira: poucos interessados pelo estudo das ciências exatas, altas taxas de evasão nas universidades e, por fim, como consequência, pequena quantidade de engenheiros formados no Brasil.
Acredito que a divulgação científica seja a chave para a motivação. Assuntos complexos comunicados de forma simples podem fornecer para o ensino de exatas um antídoto contra a aridez dos cálculos, por que crianças e jovens não se apaixonam por equações. Antes, sim, se apaixonam pela beleza da ciência em suas rotinas diárias, o envolvimento desta nos fatos e no concreto dos fenômenos locais, falando em linguagem direta, despojada de termos técnicos e não se perdendo em pormenores, já dizia o professor José Reis grande mestre da divulgação científica.
O futuro engenheiro eletrônico é aquele que fica com os olhos brilhando ao desmontar a televisão na sala de casa. O futuro engenheiro mecânico é aquele que fica deslumbrado com o capô do carro aberto no posto de gasolina.
Antes que eu me esqueça, prezado leitor: o tubo pitot é um sensor de pressão que permite o funcionamento do velocímetro da aeronave. O vento causa um aumento na pressão de ar admitida pelo oríficio do tubo e, em relação à pressão estática, gera uma expansão. Este movimento de expansão é transmitido aos ponteiros do velocímetro por hastes e engrenagens, o que faz o ponteiro se movimentar, indicando ao piloto a velocidade da aeronave. Os pneus de um carro Fórmula 1 são desenhados para trabalhar quentes, uma vez frios têm seu coeficiente de atrito alterado com um grip inferior com o asfalto.
E reformas em edifícios devem levar em consideração as vigas de sustentação das lajes.
Mauro Andreassa
mandreas@uol.com.br
Membro do Comitê de Educação de Engenharia da SAE BRASIL e professor associado do Instituto Mauá de Tecnologia.
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