segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Educação: como avançar mais - e mais rapidamente?

Nathalia Goulart

Criado pelo governo federal para funcionar como um termômetro do ensino público do país, o Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) divulgou no mês passado os resultados de sua edição 2009, revelando um retrato preocupante do setor. Numa escala de 0 a 10, apenas 5,7% das escolas conseguiram alcançar a nota 6. Nas séries iniciais do ensino fundamental (do primeiro ao quinto ano), a média ficou em 4,6 pontos, enquanto nas séries finais (do sexto ao nono), caiu para 4 pontos. No ensino médio, o cenário mais alarmante: 3,6 pontos.

Os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2009 endossam o quadro. Entre as mil melhores escolas do país, 91% são particulares. Entre as dez primeiras, apenas uma instituição pública. O dado espanta ainda mais quando se constata que o ensino público no Brasil abarca 86% dos estudantes.

Outro desafio da educação no Brasil é o alto índice de analfabetismo, que ainda figura entre os mais elevados do mundo: 11% da população acima de 15 anos não sabe ler e escrever adequadamente. O índice coloca o país em 9º lugar no ranking de analfabetismo da América Latina, atrás, entre outros, de Suriname (10,4%), Colômbia (7,2%), Chile (4,3%) e Argentina (2,8%). Não bastasse isso, cerca de 15% da população com idade entre 15 e 24 anos é considerada analfabeta funcional - ou seja, são pessoas que frequentaram a escola, mas conseguem apenas ler apenas textos curtos, como cartas, e lidar com números em operações simples, como o manuseio de dinheiro.

Avanços na educação são medidos por vários métodos, incluindo o Ideb e o Enem. Contudo, eles são pequenos e lentos. Por isso, segundo especialistas, a ser mantido o atual ritmo, o Brasil deverá atingir um nível educacional satisfatório em cinquenta anos. Os mais otimistas, falam em duas décadas. Para erradicar o analfabetismo, de acordo com estimativa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a previsão também é de vinte anos. Todos os especialistas são unânimes: se quisermos caminhar em direção a uma educação pública de qualidade, não poderemos seguir no ritmo atual. É preciso caminhar mais rápido.

Os benefícios para o país - e seus cidadãos - de um ensino de mais qualidade são evidentes. Mais conhecimento em circulação, profissionais mais capazes, mais dinamismo intelectual e econômico. Prosperidade, enfim. E isso se reverte em melhores salários. Dados da Tendência Consultoria apontam que pessoas que completam o ensino fundamental recebem salários cerca de 13% superiores aos pagos a quem não chega ao fim desse ciclo. Para quem vai mais adiante, a notícia é ainda melhor: quem se forma no ensino médio ganha, em média, 43% a mais do que quem termina apenas o fundamental. Se concluir a faculdade, o acréscimo sobre os vencimentos de quem chegou ao nível médio chega a 100%.

Durante esta semana, VEJA.com vai analisar a realidade da educação pública do Brasil, ouvindo especialistas e as campanhas presidenciais, para saber, afinal, que Brasil os candidatos pretendem construir nos próximos quatro anos.

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