Débora Brandão de Paula e Natália Rigueira Fernandes
DESCRIÇÃO DOS OBJETIVOS
A presente pesquisa apresenta como objetivos a verificação dos tipos de avaliação presentes nas escolas de Educação Infantil e a análise da prática docente e a concepção dos professores de Educação Infantil sobre a avaliação. Da mesma forma, este trabalho pretende detectar se as práticas avaliativas são qualitativas e processuais, conforme recomendam os estudos e pesquisas da atualidade, sobre a Educação Infantil.
INTRUDUÇÃO
A avaliação é um aspecto da educação que tem sido vastamente estudado na atualidade. Sabe-se que, para estar inserida no processo de ensino e aprendizagem, necessita ser constantemente planejada e repensada, como um processo. Caso contrário, esta prática pode se transformar em um mecanismo tradicional e mecânico. Baseado nesta premissa o presente artigo apresenta como objetivo a análise do processo avaliativo, e das possíveis práticas tradicionais, identificando, assim, as conseqüências que decorrem do tradicionalismo na Educação Infantil. Dessa forma, o enfoque principal permeia a prática tradicional, que ainda se encontra presente em muitos segmentos da educação, ou seja, o tradicionalismo decorrente na avaliação do desempenho de crianças da Educação Infantil e as possíveis conseqüências produzidas por tal ação conservadora, conforme afirma Silva (1994) em seus estudos sobre Focault e as relações de poder no interior da escola.
A elaboração da presente pesquisa foi embasada em autores renomados que estudam o tradicionalismo nas instituições e suas conseqüências, além de abordagens significativas sobre a Educação Infantil. Para que os resultados fossem alcançados de maneira satisfatória, foram realizadas entrevistas com professores de Educação Infantil para analisar suas práticas avaliativas e possíveis ações tradicionais. Assim, diante dos resultados alcançados, pôde-se verificar certa contradição entre concepção e prática no cotidiano das práticas avaliativas da escola que serviu como recorte da realidade.
DESENVOLVIMENTO
É necessário que haja uma grande reflexão em torno do planejamento avaliativo, pois, sem essa preocupação a avaliação pode se transformar em um método tradicional, voltado, exclusivamente, para se analisar a produção do aluno, ou seja, a “nota” obtida por este último. Desta forma, a avaliação pode se transformar em um mecanismo disciplinador e autoritário.
Sob esse prisma, a avaliação deixa de provocar mudança e transformação, e continua impregnada pelo tradicionalismo provocando tensão e sofrimento, além da estagnação daquilo que enfatizou Paulo Freire (1996) sobre a educação dialógica e a formação da consciência crítica. Diante desse contexto, ficam claros os prejuízos ocasionados por uma pratica avaliativa tradicional, e difícil de chegar à resposta do questionamento de muitos pesquisadores sobre como abolir o tradicionalismo presente nas práticas avaliativas na educação.
Para uma análise um pouco mais aprofundada o recorte da realidade escolhido foi uma escola particular do município de Viçosa-MG. Para tanto, foram entrevistadas duas professoras de Educação Infantil, uma de maternal e uma do segundo período. As entrevistas, de caráter semi-estruturado foram gravadas em aparelhos de MP3, em caráter sigiloso, a fim de detectar os objetivos traçados na presente pesquisa. Nas entrevistas realizadas está presente um conjunto de questões logicamente relacionadas com os objetivos deste trabalho, com a finalidade de, através de perguntas, direta e individualmente, esclarecer ao questionamento: a avaliação na Educação Infantil pode ser considerada uma prática tradicionalista e um instrumento de poder? As proposições de Hoffmann (1993) discorrem sobre esse aspecto, a partir do momento em que a autora afirma que a avaliação deve servir como um instrumento de aprendizagem para o próprio professor, que deve se basear no diálogo e na compreensão das reais necessidades de seus alunos, através de uma prática avaliativa qualitativa e voltada para o real desenvolvimento da criança.
Chamaremos as professoras entrevistadas de x e y. Quando interrogamos sobre o que é avaliar, as professoras não hesitaram, e afirmaram que a avaliação “consiste em se avaliar todo o desenvolvimento da criança”. Porém, quando consultadas sobre qual a finalidade da avaliação, ambas demonstraram não possuir um conceito definido sobre a utilidade avaliativa, expondo suas próprias dúvidas quanto a real utilidade da avaliação no segmento da Educação Infantil. Com isso, pôde-se observar que as profissionais entrevistadas não têm uma definição clara e objetiva do que seja avaliar, e da importância da prática avaliativa, competências necessárias ao professor de Educação Infantil, segundo Melchior (2002). Dessa maneira, se não há consenso entre profissionais da educação, pode-se detectar a carência da formação de professores acerca da avaliação, já que, conforme afirma Freire (1987), nossas escolas precisam contribuir para formação de sujeitos dialógicos, formados por docentes que conhecem os objetivos e pormenores dos processos avaliativos e metodológicos que utilizam como instrumentos de sua prática pedagógica.
No decorrer da entrevista, tanto a professora x como a professora y afirmaram trabalhar priorizando a abordagem qualitativa da avaliação. No entanto a professora x utiliza uma ficha de avaliação onde os alunos são rotulados por cores, onde a cor verde significa bom desenvolvimento, a cor amarela significa que a criança precisa melhorar, e a cor vermelha para quando o aluno precisa melhorar muito.
Mesmo diante da situação acima, a professora x afirmou avaliar seus alunos qualitativamente. A contradição fica, então, evidente, já que a rotulação e a conceituação dos termos pelas professoras (o que pode ser comprado com uma avaliação quantitativa na Educação Infantil) não estão em comunhão com as proposições de Paro (2001) que afirma que é importante que seja descrita a situação de cada criança em relação à etapa de seu desenvolvimento. Deve tornar-se claro na Educação Infantil, que a avaliação é um processo, tanto para o professor como para o aluno. Através do diálogo na sala de aula é que se chega ao conhecimento de qual deve ser a nova etapa no processo de construção do conhecimento para que os objetivos da aprendizagem sejam atingidos.
Quanto ao que diz respeito à auto-avaliação, as professoras afirmaram incentivar seus alunos a refletirem sobre seu comportamento, utilizando a mesma seqüência de cores citadas acima. Porém após a auto-avaliação feita pelas crianças, a professora x preenche em lacunas paralelas sua impressão sobre cada criança, permanecendo, assim, como medida na avaliação, o parecer final da professora. Certamente a intervenção da professora x, em cada auto-avaliação distorce todo o processo auto-avaliativo, causando inibição em seus alunos, que são novamente rotulados por cores, transformando essa experiência, em um processo quantitativo e tradicional diante do dos conceitos de emancipação e participação, recomendados como aspectos indispensáveis no processo avaliativo da Educação Infantil.
CONCLUSÃO
Por meio da presente pesquisa, pôde-se concluir que é uma realidade, na modalidade de Educação Infantil, a ausência de um conceito definido do que seja avaliação, dos seus objetivos e das nuances que permeiam a aplicação de tal instrumento na Educação Infantil, produzindo, muitas vezes, práticas mecânicas e autoritárias na avaliação de crianças pequenas. Com isso o tradicionalismo se estende da mesma forma que Perrenoud (1999) afirma, reproduzindo uma estrutura de dominação e poder no interior do espaço escolar, impregnando, desde a Educação Infantil uma prática docente dominadora e não dialógica, comprometendo, assim, todo o processo de ensino aprendizagem, principalmente o aspecto social e cognitivo da criança.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
_______, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 23ed. Rio de Janeiro: paz e Terra, 1987.
HOFFMANN, Jussara Maria Lerdch. Avaliação da pré-escola à universidade. Porto Alegre: Educação e realidade, 1993.
MELCHIOR, Maria Celina. Avaliação Pedagógica: função e necessidade. 3ªed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2002.
PERRENOUD, Philippe. Avaliação da excelência à regulação das aprendizagens: entre duas lógicas. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
PARO, Vitor Henrique. Reprodução Escolar. São Paulo: Xamã, 2001.
SILVA, Tadeu Tomaz da. O Sujeito da Educação: Estudos Foucaultianos. Petrópolis. RJ: VOZES, 1994.
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