domingo, 26 de fevereiro de 2012

Méritos e preconceitos

Pode-se considerar que estará razoavelmente preparada para fazer suas próprias escolhas de vida e exercer cidadania, toda pessoa de presumível maturidade, que domine os fundamentos das ciências naturais e sociais, que saiba ler e escrever funcionalmente, que tenha condições operacionais de uso da aritmética.

Este ser humano não terá necessidade de ser guiado por nenhum gênio de plantão, e a função do ensino básico é proporcionar aos alunos estas condições; educar também é, e deve ser sempre, libertar.

O mesmo ocorre nos demais níveis educacionais, educação pública ou privada custa muito caro ao país e à sociedade para ser desviada do seu real objetivo. Educação é a verdadeira perspectiva de justiça social para milhões de brasileiros, condição indispensável para o desenvolvimento do país, e o acesso à educação superior é o coroamento deste processo.

O chamado tripé da educação superior é constituído por Ensino, Pesquisa e Extensão. São partes relevantes de algo muito importante: pesquisa, quando feita seriamente e não apenas para alavancagem de currículos, é a garantia do futuro de uma nação; extensão é democracia, a abertura para a comunidade das benesses da universidade. Mas é o ensino encerra em si quase toda esperança depositada pela sociedade na academia, os recursos imensos que são gastos, tanto na esfera pública quanto privada; o tempo, o labor, a dedicação dos professores, estudantes e seus familiares na procura por conhecimento, reconhecimento, empregabilidade e melhoria de vida.

E para que isso seja alcançado é crucial que se tenha em mente uma palavra, um verdadeiro palavrão segundo alguns: resultados. É impossível que se faça qualquer coisa em qualquer área ignorando os objetivos que se almeja, e Educação, como todas as instituições, deve ser avaliada, deve ser fiscalizada, deve ser cobrada. Toda a sociedade paga por ela, e merece retorno em forma de qualidade, de estudantes bem formados, de um país melhor.

Há uma enorme resistência quando se fala em avaliar educação, educandos e educadores. Qualquer proposta de analisar métodos e resultados nesta área gera acusações ao proponente de ser “positivista”, “fordista-taylorista” ou coisa pior; de fato, as teorias de Taylor, Fayol e os métodos de Ford estão superados, mas tiveram o seu momento e a sua relevância.

A produção totalmente artesanal anterior à primeira revolução industrial era, talvez, mais “humana”, o trabalhador tinha participação e controle em todas as suas etapas, da obtenção da matéria prima à comercialização, podia dizer que o resultado de seu trabalho era totalmente de sua lavra. Os objetos produzidos eram o que hoje caracterizamos quase como obras de arte, únicos, individuais; o senão era a pequena escala produtiva, que os encarecia demais e restringia sua posse a poucos privilegiados, não esquecendo que o ingresso nas corporações de artesões seguia protocolos que enrubesceriam nossos mais renitentes nepotistas.

Os processos industriais, com destaque para a linha de montagem implantada por Henry Ford, possibilitaram que uma imensa maioria de pessoas tivesse acesso a bens de consumo, mais do que em qualquer outro momento da História.

Embora o mero consumo não traga felicidade, seja evidente que o mundo seria mais limpo e silencioso com menos automóveis e que são muitas as injustiças sociais decorrentes da industrialização, que atire a primeira pedra quem tiver coragem de dizer isso ao cidadão que finalmente consegue comprar o seu primeiro carro; ou quem puder afirmar que os servos feudais viviam em condições sequer comparáveis às dos trabalhadores modernos.

Carregamos, é verdade, a má consciência de uma das distribuições de renda mais indecentes do Ocidente, e relutamos em adotar melhorias que impliquem em uma atribuição madura de responsabilidades. Em função de um socialismo utópico que nunca conhecemos na prática, adquirimos ojeriza à meritocracia. A simples ideia de que alguém possa responder por seus atos, ser premiado por seus esforços ou punido por seus erros parece um crime de lesa pátria.

A mudança de alguns velhos paradigmas certamente traria benefícios ao processo educacional.


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Wanda Camargo
assessoria@unibrasil.com.br
Presidente da Comissão Central de Processo Seletivo da UniBrasil.

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