quinta-feira, 16 de maio de 2013

De acordo com o MEC Universidades recebem filhos do Enem que mal sabem assinar o nome

Roberto Boaventura da Silva Sá


Desde que o PT assumiu as matrizes de projetos políticos do PSDB, ditados por organismos internacionais, não tenho conseguido aceitar nenhum de seus encaminhamentos, invariavelmente, impostos ao país. Na verdade, sequer tenho concordado com pronunciamentos de seus agentes, em geral, autoritários.

Todavia, isso foi pontualmente quebrado! E justo com o ministro da Educação – Aloizio Mercadante – que arrebentou com a última greve e a carreira docente das federais, usando para tanto o Proifes, ou seja, um tipo de sindicatozinho de pelegos, forjado no primeiro mandato de Lula.
Mas como pude concordar com o ministro?

No último dia 08, Mercadante – um economista e não um professor de Língua Portuguesa –, ao anunciar a abertura das inscrições para o Enem/2013, sentiu-se na obrigação moral de destacar mudanças na redação, que é o ponto mais vulnerável do exame.

Como todos se recordam, na edição do Enem/2012, sem falar de todas as redações mal corrigidas, pelo menos duas delas ridicularizaram o processo seletivo em si.

Em uma, o candidato inseriu em seu texto, sem nexo algum, o hino do Palmeiras. Em outra, foi transcrita, também sem nexo, uma receita de miojo, um tipo de macarrão instantâneo para momentos de preguiça culinária.

Pois bem. Ao invés de ser atribuída a pontuação devida a ambas as redações – zero –, os corretores, no mínimo, generosos, numa escala de 1.000, aprovaram-nas com 500 e 560 pontos, respectivamente. Constrangimento.
Na verdade, aqueles dois candidatos – que talvez nem fosse um tão fanático torcedor do Palmeiras e o outro nem tão esfomeado como poderia parecer – queriam provar que as correções das redações do Enem não eram confiáveis. Provaram.

Aliás, de minha parte, dentre tantos outros problemas, numa série de aproximadamente vinte artigos sobre o tema, eu já havia afirmado isso; e afirmei antes da realização do primeiro Enem.

Naquele momento, eu disse que não teríamos nenhum tipo de controle sobre as correções das redações. Disse mais: que muitos corretores não tinham o menor preparo para a tarefa. Portanto, aqueles dois “meninos brincalhões” apenas comprovaram o óbvio.

Diante do vexame, Mercadante disse que, a partir de agora, haverá “maior rigor com a redação”. Para isso, os textos com deboche serão anulados. A discrepância entre as notas dos corretores será reduzida. As redações nota 1.000, com erros, terão de ser justificadas.

Mas Mercadante disse ainda o mais importante: que “o domínio da norma padrão da língua escrita precisa ser mais observado”.

Eis a centralidade do meu acordo com o ministro, pois as universidades já estão recebendo filhos do Enem com alfabetização semelhante à daquele deputado federal que, para assumir sua vaga, “aprendeu” às pressas a assinar seu próprio nome.

Aproveitando o clima, sugiro ao ministro que peça principalmente aos colegas de língua portuguesa de todos os cursos de Letras do Brasil que voltem a ensinar com esmero a norma padrão de nossa língua. Hoje, por conta das novas práticas pedagógicas, poucos são os que ensinam essa modalidade linguística. Daí o desastre geral.

Outra sugestão: pedir aos professores – de todos os níveis de ensino – que, por favor, passem a usar – sem vergonha alguma – a língua padrão, ou algo mais próximo disso, mesmo quando a manifestação se der no plano da oralidade.

Do que jeito que está, os alunos não diferenciam mais a expressão linguística de um professor, em sala de aula, do falar de outro trabalhador, do qual sequer se obriga a escolaridade básica.

ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ é doutor em Ciência da Comunicação pela USP e professor de Literatura da UFMT.

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