domingo, 24 de julho de 2011

Caso Cesário Neto: a culpa é de quem?

ISA SOUSA

A história dos três "meninos" da Escola Cesário Neto, em Cuiabá, na verdade, me deixa com dó, aflita e reflexiva. Vítimas ou culpados, Gustavo, que morreu com quatro tiros, Vinícius e Maurício, autores do crime, são exatamente reflexo de um sistema de educação falho, que educa quem tem dinheiro e desafia a educar quem não tem.

Desafia porque em um sistema que começa com uma base cheia de rachaduras, chegar até o topo, ou seja, na educação superior, é para os insistentes. E pode colocar insistência aí.

Os exemplos de quem saiu do quase-nada e chegou a esse "topo" da pirâmide serve para propagandas dos governos municipal, estadual e federal. Porém, a realidade não é gravada 24 horas ininterruptas com câmeras potentes e sorrisos cravados nos rostos do "vencedor" e de seus pais.

A morte no Cesário Neto deixou três mães aflitas. Não sei se foi o caso, não tive contato com nenhuma, porém o choro que saía dos corredores da escola na ocasião reafirmam questionando: até que ponto pais que trabalham o dia inteiro, em serviços que pagam mal e que alimentam vários, estão preparados interinamente para criar os filhos? A escola não é tida como a segunda casa?

Os meninos vivos, sem nenhuma passagem pela polícia, afirmaram em seus depoimentos que "mataram para não morrer". O que foi morto, com apenas 16 anos, já era acusado de um homicídio. O motivo principal da morte, segundo a própria polícia, poderia ser de rivalidade entre gangues.

Ameaças e confrontos sempre existiram e continuarão existindo entre diversos grupos sociais. Porém, acontecendo dentro de uma escola, é no mínimo motivo para se abrir os olhos e pensar: o que está acontecendo? Ou melhor, o que vem acontecendo ao longo destes anos?

O exemplo da Cesário Neto apenas reforça uma triste realidade brasileira. A escola, na verdade, já é reincidente na problemática violência. Já dei aulas de fotografia em um projeto no local e não posso dizer que é "comum", mas também não é difícil encontrar viaturas da polícia militar ali.

Porém, esses jovens (e adultos, porque ela é uma Educação de Jovens e Adultos também) não são bandidos, não nasceram dentro de gangues e apenas fazem parte delas exatamente devido ao incentivo essencial que falta, e deveria partir sim de pais, mas principalmente da escola, no momento em que o jovem está na escola.

Parece pleonasmo, clichê e visão romântica, mas se o Estado não abrir os olhos para a Educação, estará formando "cidadãos" que matam por motivos torpes.

Ou ainda, pensemos de forma rude e insensível, caso a educação falte e o crime seja "acolhedor", lá na frente, o resultado pode ser um tiro no pé: um trabalhador paga impostos, um preso tira dos cofres públicos.

ISA SOUSA é jornalista no site MidiaNews e fotógrafa amadora.

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