domingo, 24 de julho de 2011

Especialista diz que diagnóstico da discalculia é subjetivo

luan.santos

Rita Lucena é neuropediatra e professora adjunta da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), especialista para falar sobre discalculia, distúrbio que afeta 6% da população mundial e que muitas vezes é confundido com uma simples dificuldade com matemática. Em entrevista ao A TARDE Educação, Rita fala sobre um importante processo desse distúrbio: o diagnóstico, que, segundo ela, possui um caráter subjetivo.

A TARDE Educação: Como a senhora, brevemente, caracteriza a discalculia?

Rita Lucena: A discalculia é um distúrbio que atinge as áreas temporo-parientais do cérebro, afetando assim o desenvolvimento da atividade da matemática. Atinge 4 domínios da matemática: operacional, contextual, espacial e terminologia. É uma espécie de imaturidade na forma como o cérebro processa as informações relacionadas à matemática. Ocorre mais no hemisfério direito do cérebro.

A TARDE Educação: Como é feito o diagnóstico?

Rita Lucena: Normalmente é identificada durante os 8 ou 9 anos da criança. É uma questão muito subjetiva. O diagnóstico é feito quando nós identificamos que há uma discrepância muito grande entre o desempenho da criança em outras áreas em comparação com a matemática. O diagnóstico é confirmado mediante testes neuropsicológicos, onde observamos que a criança tem bom nível cognitivo nas outras áreas, mas não na matemática. No diagnóstico, avalia fatores sociais, onde mora, relação com os pais, relação com os coleguinhas na escola. Todos estes, e muitos outros fatores, podem levar a criança a ficar desestimulada a estudar matemática, não se caracterizando em uma discalculia. Muitas vezes, inicia-se um trabalho de recuperação para ajudar aquela criança que tem dificuldade com a matemática, enquanto as normais avançam, as que tem discalculia não conseguem fazê-lo.

A TARDE Educação: Existem aparelhos ou exames médicos capazes de diagnosticar a discalculia?

Rita Lucena: Não há um exame nem aparelhos específicos que identifiquem a discalculia. Atinge as áreas temporo-parientais do cérebro. Isso não é visto em nenhum exame, por que é uma forma como os neurônios transmitem as informações, não é algo que pode ser percebido numa ultrassonografia, por exemplo.

A TARDE Educação: Diagnóstico feito, é possível reverter o quadro?

Rita Lucena: O diagnóstico tem que ser feito logo no começo, logo que se percebe a dificuldade com a matemática, para que se possa fazer a intervenção, mesmo que mais à frente se descubra que não era discalculia. Pode ser revestido e a pessoa conseguir fazer normalmente operações, compreender as formas matemáticas, as terminologias. A discalculia acontece quando o cérebro não consegue ativar a área afetada, daí o tratamento é iniciado, mas chega um momento em que não consegue mais avançar e ocorre o que chamamos de discalculia irreversível. Quando a criança chega neste estágio, é necessário uma adequação pedagógica.

A TARDE Educação: Qual a importância do diagnóstico para minimização dos sintomas da discalculia?

Rita Lucena: O diagnóstico é importante por que quanto mais cedo o distúrbio é identificado, o tratamento trará melhores resultados. Mas, mais importante que o diagnóstico é a intervenção. Intervir no momento que a criança apresente dificuldades, mesmo que estas dificuldades não sejam sintomas da discalculia. É preciso intervir de maneira a ajudar a criança naquele momento para que no futuro aquela dificuldade não se torne um problema grave na vida da criança, ou para identificar a discalculia e tratar o distúrbio.

A TARDE Educação: Como é o tratamento?

Rita Lucena: O tratamento é baseado em um processo de reabilitação neuropsicológica. Fazemos um acompanhamento, visando ajudar a crianças em suas dificuldades, trabalhando em parceria com a escola, para que esta saiba lidar com aquele aluno. Um novo método para tratamento é a Estimulação transcraniana não-invasiva. Este método provoca estímulos elétricos no couro cabeludo visando atingir aquela área do cérebro que está afetada pela discalculia.

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