quinta-feira, 31 de maio de 2012

Estados do Norte e Nordeste aderem a ensino por satélite

Sistema de aulas a distância usa tecnologia de transmissão de dados via internet; modelo beneficia municípios que não têm professores

Tiago Décimo - O Estado de S.Paulo

Após 30 minutos, dos 50 previstos para a aula, o professor do ensino médio conclui a explanação e estimula os estudantes a formular perguntas. Ele está em Manaus (AM), em uma espécie de estúdio de TV. Seus alunos, quase 3 mil naquele momento, estão em 320 salas de aula em todos os 62 municípios amazônicos. A quantidade de perguntas, porém, parece baixa, levando-se em conta a multidão: cinco.

"Em geral, as dúvidas sobre algum tema são as mesmas", explica o empresário Eduardo Giraldez, inventor do software que permite a realização de aulas para tal quantidade de alunos e locais ao mesmo tempo. Uma tecnologia que custou pouco mais de R$ 10 milhões desde o início do desenvolvimento, há uma década, e tem promovido uma pequena revolução na educação em municípios do Norte e do Nordeste onde não havia aulas, principalmente por falta de professores.

Ao todo, cerca de 300 mil alunos integram o modelo de ensino por intermediação tecnológica desenvolvido por Giraldez.

As aulas são transmitidas em tempo real, por pacotes de dados distribuídos pela internet via satélite, como em uma transmissão televisiva. A principal diferença está na possibilidade de interação, ao vivo, entre professor e alunos.

Cada uma das salas de aula está equipada com um kit composto por Antena VSAT bidirecional, roteador-receptor de satélite, cabeamento estruturado (LAN), microcomputador, webcam com microfone embutido, TV LCD 37 polegadas, impressora a laser e no-break. Nas comunidades, em cada sala, há um professor auxiliar durante todas as aulas.

O maior problema da operação, segundo professores e mediadores, tem relação direta com a tecnologia utilizada. Como a transmissão de dados é feita via satélite, em caso de chuva ou ventos fortes, a conexão pode cair - na Bahia, as situações são mais frequentes entre abril e agosto.

Estados com comunidades remotas são beneficiados, como o Amazonas. Inicialmente contratado para expandir a rede de alunos do ensino médio em 2007, o sistema já absorve estudantes de 6.ª a 8.ª séries do ensino fundamental e universitários. Este ano, serão oferecidos cursos à distância extracurriculares, de fotografia e música.

A segunda operação foi iniciada na Bahia em 2008, também com foco no ensino médio. A primeira turma iniciou as aulas em 2009 e vai concluir o curso no fim do ano. No ano passado, Maranhão e Roraima também adotaram a tecnologia. O primeiro Estado montou, em 2010, um programa específico para alunos do 3.º ano do ensino médio e promoveu capacitação de professores. Este ano, inicia o projeto de formação de estudantes de todo o ensino médio.

Giraldez, porém, afirma já ter recebido críticas sobre o programa. "Já alegaram que nossa tecnologia está tirando postos de trabalho de professores", afirma. "Isso não é verdade. Só no ensino médio brasileiro, há um déficit de cerca de 270 mil professores. A tecnologia está levando aulas a lugares onde elas não ocorreriam tão cedo. Talvez nunca", assegura. / COLABOROU LIÈGE ALBUQUERQUE, DE MANAUS



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