Olga Lustosa
A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer, como escreveu Mário Quintana. Admita: você também já mentiu. Estudo recente mostra que as pessoas contam duas ou três mentiras a cada dez minutos e a mesma estimativa aponta que mentimos pelo menos uma vez por dia. A mentira se alastra sobretudo onde há decepção generalizada com a vida cotidiana e é usada, como uma mal social necessário para lubrificar as engrenagens do discurso social.
No ano passado o jornal inglês The Telegraph publicou uma pesquisa encomendada sobre o tema e a mentira mais popular da Grã-Bretanha é: "desculpe, eu não tinha sinal de telefone celular", desculpa essa, admitida por um em cada quatro pessoas entrevistadas. Os pesquisadores descobriram que o britânico diz, em média, quatro mentiras todos os dias ou quase 1500 por ano. Um em cada três britânicos mente sobre o peso, sobre o valor da dívida e sobre a quantidade de exercícios físicos que praticam.
A pesquisa indica que as mulheres mentem melhor do que os homens, embora em número 46% das mulheres foram flagradas mentindo contra 58% dos homens.
Em segundo lugar, a mentira mais comum é ''Eu não tenho nenhum dinheiro comigo”, ''Não há nada errado - eu estou bem'' ficou em terceiro seguido por ''Você está linda" 'e ''Prazer em vê-lo''. Ainda entre as dez mentiras mais contadas registra-se: ''Nós somos apenas bons amigos'', ''Nós vamos nos encontrar logo'' e ''Eu estou a caminho''.
A tecnologia moderna emergiu como o instigador de muitas mentiras como ''eu não recebi o seu texto”, ”O nosso servidor caiu'' e “minha bateria descarregou”. O diretor da empresa OnePoll, que realizou a pesquisa com 4.300 adultos, disse que o resultado apresentado justifica-se pela obsessão das pessoas em serem agradáveis e tentar encobrir o que realmente querem dizer. As mentiras admitidas foram consideradas nem completamente inofensivas nem taticamente necessárias. Muitos especialistas não vêem muita diferença entre uma pequena ou grande mentira, porque todas apresentam um efeito, quanto mais mentira mais degradação e depois você não consegue mais parar. "Meia verdade muitas vezes é uma grande mentira." Frase atribuída a Benjamin Franklin.
Quando uma pessoa diz uma mentira ousada e descarada normalmente fica tensa e inquieta,a batida cardíaca acelera e a temperatura corporal aumenta explica a psicóloga Bella DePaulo da Universidade de Santa Bárbara na Califórnia.
Desculpas e mais desculpas... mas porque as pessoas mentem e enganam? O autor do livro “Um mentiroso em sua vida”, Bob Feldman revela que a maioria das pessoas ao mentir não carregam nenhum sentimento de culpa e mentem por que não conseguem cumprir a carga de sua responsabilidade. Ao analisar o comportamento de estudantes universitários constatou que os mesmos matam seus avós não apenas duas vezes, mas oito no decorrer do período do curso e que a desonestidade acadêmica vai da aplicação apara conseguir bolsas de estudos até a falsificação de cartas de recomendação.
As pessoas mentem para fugir com desculpas e acabam reforçando a sua inclinação para mentir novamente e muitas vezes para dar o tom de realidade a uma mentira é necessário envolver uma segunda pessoa. As pessoas que mentem ficam vulneráveis ao plantio de falsas memórias e fazem todo tipo de manobra mental para credita-las como identidades verdadeiras, mesmo que o comportamento esteja em conflito direto com a realidade. Ao invés de admitir que mentiram, que enganaram, as pessoas distorcem os fatos e atribuem a culpa a alguém. De acordo com a explicação de identidade, a nossa forma de avaliar a nós mesmos é muito frouxa.
Tendemos culpar a situação, outra pessoas, mas nunca a nós mesmos quando inventamos uma desculpa ou mentimos. Existem várias razões complexas e interligadas para mentir, enganar, e fabricar desculpas, como assegura, num nível mais profundo a psicanalista Karen Horney, observando que quando você cria um falso “eu”, o fosso alarga-se entre quem você é e quem você deseja ser. Eventualmente, você perde contato com seu “eu” real e entra no terreno da neurose, afetando sua saúde mental e física.
Contrapondo os estudos e pesquisas apresentadas, o psicólogo Richard Gramzow da Universidade de Southampton, na Inglaterra observa que as pessoas que “exageram” tendem a ter objetivos realizados mais elevados, são mais amáveis e portanto são mais felizes do que as pessoas que não mentem. Mas comunga com o pensamento de que a mentira é imoral e de mau gosto.
Olga Borges Lustosa é cerimonialista pública e acadêmica de Ciências Sociais pela UFMT e escreve exclusivamente neste blog toda terça-feira - olga@terra.com.br
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário