domingo, 20 de novembro de 2011

Professor e cuidado com a voz

Rosângela Cadidé

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera os professores como a categoria de maior risco de contrair enfermidades da voz. No artigo anterior, relatei os principais motivos da perda da voz destes profissionais, relacionados primeiramente a falta de condições de trabalho no ambiente escolar; segundo a falta de informações adequadas ao uso vocal, pois durante a formação acadêmica não tem na grade curricular uma disciplina específica para ter as orientações necessárias para usar o seu principal instrumento de trabalho: a voz.

Acrescento agora um terceiro, que auxiliaria não só os professores como também a comunidade escolar, mas que infelizmente não temos: fonoaudiólogos dentro das unidades de ensino. Se os nossos governantes tivessem vontade política, esses motivos seriam facilmente resolvidos gastando menos do que se gastam com as licenças médicas solicitadas por professores com doenças vocais.

A saúde vocal envolve cuidados importantes que devemos ter para conservar a qualidade da voz, protegê-la do uso inadequado frequente e evitar doenças. Esses cuidados (que muitos professores desconhecem) vão da roupa que usamos para trabalhar até na maneira que dormimos Neste artigo, ressaltarei a importância de cuidados que devemos ter com quatro hábitos diários que levam a qualidade vocal: vestuário, calçado, alimentação e postura corporal.

Muitos estranham: o que a qualidade vocal tem a ver com a roupa, calçado, postura do corpo e com o que comemos? Resposta: tudo e mais um pouco. Para uma boa movimentação dos músculos que participam da fonação, ou para uma boa respiração e movimentação do corpo, é recomendado ao profissional que use roupas leves e folgadas, principalmente na altura do pescoço, do peito e da cintura, pois permitem movimentos livres para escrever no quadro, falar com os alunos e andar pela classe sem produzir tensões desnecessárias. Sendo assim, deve-se evitar as roupas apertadas na cintura (para não comprimirem o diafragma) e as golas muito firmes ao redor do pescoço (para não tensionarem a laringe).

Os sapatos devem ser confortáveis e sem saltos para não haver tensão em todo o corpo, pois permitem maior apoio e equilíbrio postural. Qual a relação da nossa postura corporal com a fala? Uma postura inadequada interfere no livre movimento da região cervical e no funcionamento pleno da musculatura laríngea; por isso deve-se estar atento à altura da cadeira em relação à mesa, à forma como se abaixa para corrigir o material ou para conversar com o aluno, à maneira como se fica em pé, à altura do quadro e o modo de apagá-lo, mantendo o pescoço em equilíbrio sem tombar a cabeça para os lados. São contra-indicados solados de borracha durante o uso profissional da voz para não impedir o fluxo natural das energias.

No que se refere à alimentação, o professor antes de utilizar sua voz profissionalmente, deve evitar a ingestão de comidas pesadas e condimentadas, pois provocam o refluxo gastroesofágico, podendo irritar a garganta e produzir catarro. Um estômago cheio pode interferir no suporte diafragmático e no refluxo do suco gástrico, assim como o café aumenta o suco gástrico e o leite, o sorvete e o chocolate aumentam a viscosidade da secreção mucosa, impedindo a livre movimentação de vibração das pregas vocais na fonação. Sem contar que tais alimentos resultam na necessidade de pigarrear para limpar a garganta.

O ato de pigarrear não limpa a voz. Ao contrário, provoca atrito brusco nas pregas vocais, causando irritação. O melhor a fazer é hidratar o organismo ou respirar profundamente e deglutir. Deve-se dar preferências: refeições leves com: verduras, legumes e frutas (em especial a maçã). É recomendado ainda, que sejam cumpridos horários regulares de alimentação, mastigando bem os alimentos com amplitude de movimentos para auxiliar numa boa dicção. Quanto às pastilhas, sprays e drops, o uso dos mesmos deve ser ignorado, principalmente à base de menta, uma vez que irritam a mucosa.

Eles não ajudam a refrescar a garganta, mas sim mascaram os sintomas de esforço vocal (ardor, dor, etc) por possuírem o poder de anestésicos. Por que entre as frutas a maçã é citada como especial? A maçã tem a propriedade ser adstringente, limpando parte do trato vocal responsável pela ressonância.

Vale lembrar que a voz deve durar enquanto durar nossa vida. Enfim, a saúde vocal depende de diversos fatores e, o mais relevante deles, é incorporar alguns hábitos que irão favorecer à saúde vocal e eliminar outros prejudiciais que comprometam o rendimento vocal, principalmente antes de começarem as aulas, como por exemplo, o uso do famoso cafezinho que sempre tem na sala dos professores.

Rosângela Fernandes Cadidé é professora há 10 anos das redes pública e particular, formada em Letras com Especialização em Recreação e Lazer pela Universidade Federação de MT, coordena o Centro de Estudos às Forças Armadas e escreve neste blog às sextas - rosangelacadide@hotmail.com

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