sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Meninos e Meninas

Jon Talber [1]

O Compartilhar experiências deveria ser coisa natural...


Como seres humanos somos iguais em necessidades, em destino, parceiros de uma mesma causa
Até os três anos de idade, as crianças não sabem o que diferencia um menino de uma menina e, a não ser pelos estereótipos que herdam sem depender de suas vontades, não compreendem porque são diferentes. Mesmo o sexo, gêneros distintos, os aspectos da fisiologia, para elas não representa uma desigualdade.
Sem dar muita importância ao fato, elas tratam aquele ente, mesmo quando se dão conta que possui um órgão sexual diferente do seu, como um igual, a despeito do sexo não semelhante. Na verdade, para elas, menino é aquele que tem cabelo curto, menina quem tem cabelo grande, o que na verdade já é um estereótipo social, só que ainda não sabem disso.
Na realidade nós cuidamos para que desde o início, a aparência transforme os gêneros em diversidade. Para uma criança pequena isso não tem a menor importância, pois, as diferenças ocultas, até favorecem o pleno desenvolvimento conjunto. O fato de gêneros distintos compartilharem o mesmo espaço, é um preparo para se compreenderem mutuamente, para que possam mais tarde conviver num mundo sem disputas, respeitando o espaço peculiar a cada um, sem os antagonismos motivados pela causa gênero. Mas, nós fazemos questão de impedir que esse processo natural se concretize.
Logo que nossos filhos nascem, cuidamos de nutrir em seus inconscientes, o que primeiramente são, mulher ou homem. Como também já temos um padrão de tratamento para cada gênero, isso complementa a primeira parte do condicionamento que irá transformar menina e menino em seres completamente antagônicos, divergentes entre si, predestinados a viverem eternamente em conflito, divididos até como seres humanos. O culto às diferenças passa a ser largamente empregado a partir de então, qualquer que sejam nossas ações.
Repetimos os estereótipos que foram criados para dar origem às primeiras diferenças que deveriam existir entre elas. São as roupas, os brinquedos, os hábitos, etc. Na verdade, uma criança não precisa de nossa ajuda para aprender a diferenciar naturalmente os indivíduos do sexo oposto, porque isso deveria ocorrer de maneira natural, sem depender dos costumes que criam estas linhas divisórias.
Trata-se de uma fase natural no desenvolvimento de cada um e, isso, deveria ser incentivado. Cada etapa do seu desenvolvimento, foi cuidadosamente projetada pela natureza obedecendo a um critério lógico e bem definido, que contempla, ao mesmo tempo, a evolução dos seus sentidos e do processo mental, o que logo cedo nós deformamos ao introduzir em seu mundo, nossos estereótipos especialmente criados para separar um gênero do outro.

Personagens de uma mesma busca, as diferenças criadas pelo meio social, acaba por impedir que alcancem seus objetivos 
 
Por uma predisposição natural, meninas e meninos herdam dos genes do sexo, certas características que acabam por definir naturalmente, o processo de preferências de cada um. Isso naturalmente ocorre sem a menor necessidade de nossa intervenção. Cabelos compridos, roupas azuis ou cor de rosa, carrinhos ou bonecas, saias ou calças compridas, tudo isso nós criamos para lhes dizer, desnecessariamente, quem é quem.
Ora isso não tem a menor importância, uma vez que descobrirão naturalmente, na hora certa, sem deformações, com o melhor dos entendimentos, sem tabus, sem as maledicentes barreiras que nós, por interesses duvidosos, atribuímos existir entre sexos opostos.
Mas quem seria o maior beneficiário com a instituição das diferenças precoces? Ao adotarmos uma postura que cria e depois fortalece o antagonismo dos gêneros, estamos dando os primeiros passos rumo a ideia de que no mundo nunca haverá entendimento. Do mesmo modo que, com isso, também instigamos o culto às diferenças e preconceitos, sem nos apercebermos, estamos estendendo essa prática para todas as áreas do convívio humano.
Observando com mais atenção, podemos constatar que, a partir do momento que as crianças são segmentadas por gênero, toda uma imensa máquina indutora de hábitos, está por trás a apoiar, alimentar e fortalecer tal iniciativa. Ocorre que todo projeto foi idealizado por eles, e inserido em nossas vidas como uma coisa natural e necessária, e o mais importante, fomos convencidos de que se trata de um processo natural, fundamental para o desenvolvimento de cada indivíduo.
Sem perceber, a partir de então, somos seus agentes multiplicadores. Estamos de um modo tal envolvidos com a questão, que até nossas emoções foram cuidadosamente programadas, de maneira a tratar cada sexo, como de fato, entidades antagônicas. E assim tornamo-nos replicadores dessa ideia na mente coletiva.
E existe mesmo um protocolo, um gabarito de procedimentos padrões, sobre como pais e mães devem tratar seus descendentes, evidentemente, com a devida distinção, caracterizando, enfatizando, ilustrando de forma didática, as diferenças que supostamente existem os gêneros. Trata-se de um modo operacional para lidar, no trato diário, com meninas e meninos. Assim, os conteúdos psicológicos, os interesses, os objetivos, tudo isso será segmentado, seguindo à risca a orientação imposta pelo peso da tradição e costumes.
É o esmagador poder das tradições, que insistimos em perpetuar, ou porquê nos falta interesse para questioná-las, ou porquê é para nós mais conveniente, simplesmente copiar aquilo que já existe pronto, o que decerto nos dará menos trabalho. 

Nós criamos as divisões, só nós podemos corrigir isso


Não se trata de uma simples briga para determinar o gênero dominante, mas, antes disso, um atestado de que ainda somos irracionais 
 
Meninas e meninos, ao brincarem juntos, estarão naturalmente criando os mecanismos naturais de respeito mútuo, já que ao longo do tempo, descobrirão um ao outro. Aprenderão sobre as particularidades de cada gênero, sobre o que agrada ou desagrada, de acordo com as predisposições naturais de cada um. Aprenderão mais sobre as suas peculiaridades emocionais, as formas como cada um reage às mesmas situações. Trata-se de um aprendizado tão rico que seria incapaz de caber em qualquer compêndio educacional teórico, criado por especialistas.
Ao conviverem de forma natural, sem a imposição dos nossos vícios e preconceitos, aprenderão espontaneamente a se respeitarem, e tudo isso, de acordo com suas limitações e disposições. Estarão vivendo num mundo novo, já que cada dia será de descobertas. Não aprenderão que meninos se vestem de azul e brincam com carrinhos, nem que meninas preferem rosa e brincam necessariamente com bonecas, nem que meninos são agressivos e as meninas meigas. Descobrirão se tudo isso é verdade, ou falso, naturalmente, sem intermediários.
O convívio sem a instituição do gênero, faculta-os a compreenderem naturalmente o papel de cada um. Não tentarão se impor uns aos outros, nem haverá a necessidade do gênero dominante, pois isso apenas existe a partir do momento que instituímos o fraco e o forte, o inferior e o superior.
Se fisiologicamente os gêneros são diferentes, isso também reflete de maneira decisiva na parte psicológica de cada um. Enquanto no homem o cérebro trabalha mais o lado esquerdo, na mulher, ele trabalha esquerdo e direito, simultaneamente. Isto na prática tem uma importância dramática. O cérebro masculino enfatiza o movimento das coisas, a compreensão dos espaços físicos, dimensionamentos e formas geométricas, e o lado racional das coisas. Enquanto isso, a mulher desenvolve mais os sentimentos, emoções, o dom da expressão e comunicação, a fala e a observação, o detalhismo, a organização e zelo pelas coisas.
Compreender isso é aprender a respeitar o espaço e limites de cada um, entender que os gêneros não existem para competir entre si, mas antes disso, para se complementarem. Não existe inferior ou superior, e sim, diferentes predisposições e capacidades, naturezas psicológicas não antagônicas, como queremos supor, mas peculiares a cada ser, intencional por parte da natureza, para que sejam capazes de se ajudar mutuamente, não de competirem entre si.

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