quarta-feira, 6 de junho de 2012

Depois do Enem, agora o Enade?


Wanda Camargo

Ainda longe de resolver os inúmeros problemas logísticos do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, o Ministério da Educação pretende aumentar o contingente de alunos que prestarão o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes, Enade, voltado ao ensino superior. Como a imensa quantidade de estudantes que presta tais exames é, em grande parte, a responsável pelas dificuldades de sua organização, a decisão não parece oportuna. Em declaração recente, o ministro revela essa decisão e a intenção de implementá-la ainda neste ano.

A sistemática atual do Enade é a convocação para exame de alunos de determinados grupos de cursos superiores (plenos e tecnológicos), a cada três anos, num sistema de rodízio que contemplará neste período a avaliação de todos os cursos brasileiros. São convocados estudantes do início e do último período, com o objetivo de aferir o conteúdo apreendido pelos alunos e o agregado a eles pela instituição específica, o efeito-escola, considerando a denominada “diferença de desempenho” entre alunos ingressantes e concluintes, em relação à média nacional.

A ideia agora proposta é a convocação também dos alunos de penúltimo período. O motivo seria a prática de algumas universidades de reter os alunos mais fracos dos cursos programados para exame, impedindo-os de fazer a prova por não estarem cursando o período final quando da sua realização. O teste seria aplicado novamente para aquele curso apenas depois de três anos, ocasião em que aqueles alunos já estariam formados.

Evidentemente, em breve, nas instituições pouco sérias serão aprovados no antepenúltimo período apenas aqueles mais fortes, e assim sucessivamente, transferindo-se o problema apenas de posição no curso, e possivelmente criando um “semestre maldito”, ou seja, aquele em que muitos serão reprovados, em detrimento daqueles outros em que se aprovará massivamente, independente de aprendizagem.

A possível solução deveria estar centrada em duas questões: a seriedade do ensino e o preparo do aluno. Afinal, o interesse da instituição é transmitir conhecimento, formar o bom profissional e cidadão, ou unicamente estar bem ranqueada?

A questão da reprovação em todos os níveis educacionais é muito séria e tem sido motivo de controvérsias. A possível consideração é que a aprovação ou não de estudantes deve seguir o padrão da instituição que frequentam. Cada escola considerará o aluno apto à progressão, e mesmo à formatura, de acordo com a sua aspiração de qualidade, e pelos resultados, bons ou maus, de sua prática, será julgada pela sociedade.

Não é aceitável que universidades estabeleçam níveis de exigência diferentes dos que seguem habitualmente para alunos apenas de determinado período, seja ele qual for, motivadas pelo desejo de não serem avaliadas com fidedignidade em um sistema que, se não é perfeito, avalia o sistema educacional com a isenção possível, na busca de melhoria da qualidade do ensino.


Wanda Camargo
assessoria@unibrasil.com.br
Presidente da Comissão Central de Processo Seletivo da UniBrasil.

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