quarta-feira, 6 de junho de 2012

Livro tem prazo de validade?



O alto custo de produção de livros foi uma das razões que levou Portugal a aderir parcialmente ao novo acordo ortográfico da língua portuguesa, que na prática unificaria a língua em todo o mundo.

Nossa pátria mãe, uma das mais pobres da Europa, em crise econômica profunda, considera seus escritos, patrimônios culturais e históricos. Então, por razões culturais e financeiras, postergou a implementação da reforma ortográfica.

No velho continente, e em todos os países culturalmente desenvolvidos, quanto mais velho o livro, mais valioso, inclusive porque preserva a escrita de época.

O livro é o símbolo e o registro da evolução da civilização ocidental. Obviamente, não são os pedaços de papel, que envelhecem naturalmente, a parte mais importante do livro.

Há algumas décadas, ter uma estante cheia de livros organizados por estilo de capa, era decoração obrigatória para se ter status social.

Hoje, em muitas residências, os livros foram substituídos por televisores, alguns até com acesso à internet, os romances por DVDs e os leitores por telespectadores passivos diante de uma tela.

Nas escolas de ensino básico, as fontes de pesquisas são quase exclusivamente páginas de internet. É como se todo o conhecimento produzido pela humanidade não passasse mais pelos livros.

Mas sempre é preciso lembrar que, desde os primórdios de nossa civilização, o conhecimento tem sido legado às gerações seguintes por meio de livros. Essa espécie de assembleia geral de letras e pensamentos não perde seu valor nem envelhece.

As letras que formam as palavras, mesmo que organizadas de modo diferente, com ou sem acento, jamais deixam de registrar a verdadeira evolução da raça humana, inclusive da sua línguagem.

Infelizmente, para algumas pessoas, parece que livro tem prazo de validade, idade, tempo de vida determinado.

Enquanto o Brasil implementa uma verdadeira cruzada para formar e manter leitores e melhorar a qualidade do ensino, há quem jogue livros no lixo.

Há algumas semanas, enquanto acontecia a Feira do Livro na cidade, um jovem estudante do ensino médio informou à sua professora que, ao passar em frente a uma escola da rede municipal, da zona sul de Joinville, deparou-se com um saco de lixo contendo livros.

O jovem não sabia precisar se o lixo era da escola ou não. Preferimos acreditar que não, até porque seria uma insanidade.

O relato surpreendente faz lembrar inúmeras reportagens de pessoas que ao encontrarem livros no lixo, montaram bibliotecas comunitárias para àqueles brasileiros que de outro modo, não teriam acesso a este bem valioso.

A leitura de um livro é capaz de mudar não somente uma vida, mas a de todo uma comunidade. Sendo velho ou novo, ilustrado ou não, rasgado ou recortado, o livro é de um valor inestimável.

É difícil compreender o valor de um livro para uma pessoa, uma escola, um aluno, um professor ou uma sociedade, um leitor. E o caminho para esta compreensão é a leitura.

Quem lê conhece um universo diferente, viaja com os personagem, chora, canta, ri, torce, vive mais e melhor as emoções humanas, contrói o pensamento crítico, o raciocínio lógico, enriquece linguística e culturalmente, desenvolve a imaginação, a criatividade e a afetividade, descobre o outro que há em si mesmo, constrói uma visão de mundo individual e coletiva ao mesmo tempo, enfim, participa da assembleia geral do mundo letrado.

O mundo dos livros é de uma riqueza inestimável que jamais poderia ser jogada no lixo.

Não importa se no papel ou na plataforma digital, nem se foram impressas há 5 meses ou 500 anos, aquela assembleia geral de sinais gráficos, sempre nos levará a traçar uma analogia daquele mundo, com o da rotina diária da atualidade.

Talvez somente o convívio íntimo com o livro, a essência do universo do conhecimento e da sabedoria, nos leve a compreender as razões de os portugueses atribuirem tamanho valor a seus livros.


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