quarta-feira, 6 de junho de 2012

Memória de um artigo instigante


Em 1972, o primeiro número da “Revista Educação e Ensino de Santa Catarina” publicava o artigo “Estudos: os vários ritmos da evolução histórica (modelo didático nas teorias de F. Braudel), de Américo Augusto da Costa Souto. Trata-se de um ensaio de cunho didático, que propõe reflexões sobre o ensino de História no Ensino Médio, apresentando excelente densidade teórica.

Por um lado, o intuito do artigo “Estudos” é ser um modelo didático para o ensino de História na escolarização média. Na parte conclusiva, o texto afirma: “[...] parece-nos que, ao menos nos últimos anos do nível médio, o aluno já tem capacidade de abstração para ensinar o método”.

Ao longo da sua vida acadêmica, o professor Américo teve preocupação com um ensino de história pré-universitário que ultrapassasse a História factual.

E, no início da década de 1970, quando a Lei 5.692/71 prescrevia os chamados “Estudos Sociais”, o professor Américo via uma oportunidade para integrar à História outras disciplinas como Geografia e Organização Social e Política Brasileira.

De outra parte, acredito que o artigo “Estudos” sintetiza a perspectiva historiográfica do professor Américo, apoiada nos trabalhos de Braudel – especialmente na obra Écrits sur l’Histoire. Assim, a Civilização Cristã Ocidental é lida à luz da ideia de multiplicidade temporal e da perspectiva de “história total” do mestre francês.

Os diferentes tempos históricos estão entrelaçados, de modo que a Civilização Cristã Ocidental é pensada como longuíssima duração, desdobrada em estruturas – as idades média, moderna e contemporânea –, em conjunturas de diferentes durações e, enfim, em eventos históricos.

Contudo, o professor Américo dava foco na Idade Moderna, dividida entre o Antigo Regime e o longo século XIX, considerado o apogeu da modernidade ocidental.

À maneira braudeliana, o professor Américo congregava na história outras ciências, como por exemplo na “conjuntura de transição”entre a Idade Moderna e a contemporaneidade.

E, na medida em que aproximava os Annales e o marxismo, aproximava-se da visão historiográfica de Fernando Novais e de Carlos Antonio Aguirre Rojas, com os quais entabulou diálogos teóricos.

A rememoração do artigo “Estudos” é uma justa homenagem do colunista deste canto do JE ao professor Américo, o precursor da renovação dos estudos históricos em Santa Catarina, que faleceu no ano passado.

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