terça-feira, 13 de novembro de 2012
É utopia, na sociedade materialista e dominante, tentar manter etnias indígenas afastadas da cobiça pelo “vil metal”
Índio também aprecia os bens que o dinheiro pode comprar
CONFLITO NO TELES PIRES
Por Mário Marques de Almeida
Quando grupos empresariais, pequenos, médios ou grandes, tanto de Mato Grosso como de outros estados e até do Exterior, já estão explorando recursos minerais por todo o território nacional (ou têm requerimentos junto ao DNPM - Departamento Nacional de Produção Mineral -, órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia, solicitando autorização para explorar jazidas minerais), é utopia querer manter etnias indígenas alienadas desse processo econômico, sobretudo em pleno sistema capitalista.
Especialmente por se saber que o subsolo de terras pertencentes às reservas dessas tribos faz parte de uma vasta e rica província mineral, notadamente as áreas que se encontram em solo mato-grossense, bem assim as que estão espalhadas pela Amazônia.
E tem mais: lavras que estão funcionando ou requeridas em regiões vizinhas ou semelhantes às habitadas por silvícolas, gerando um forte e injusto contraste entre a riqueza de uns em detrimento daqueles que a sociedade dominante quer impor a eles uma vida de dependência de cestas básicas da Funai, xaropes contra a tosse e lombrigueiros!
É no mínimo romantismo querer, diante dos incessantes apelos da sociedade de consumo, manter os índios isolados da cobiça pelo “vil metal”, mais ou menos como quem se comporta na postura idiota de ter que “segurar cabras para os bodes mamarem...”
Obviamente, o recurso ao ditado famoso e de conotação pejorativa é utilizado acima pelo autor destas linhas, como metáfora no intuito de mostrar o quão utópica é a decisão de querer que etnias, que convivem estreitamente com a civilização materialista, sejam eternamente guardiãs dessas riquezas, que, mais cedo ou mais tarde, serão exploradas por outros grupos e “tribos” que não os formados pelos próprios índios!
Diante dessa situação, o melhor seria as autoridades responsáveis saírem da posição de quem não quer enxergar a realidade e apressarem o processo de inclusão desses verdadeiros e primitivos donos das terras no modo de vida da maioria da população do país. Respeitando-se, obviamente, suas crenças e tradições.
Não temos a receita pronta para encaminhar a solução deste que já se tornou um impasse social e étnico grave, mas uma providência, a nosso ver, que seria possível de ser tomada é o governo orientar a formação de cooperativas exclusivas das tribos cujas terras podem ser exploradas economicamente.
Organizações dotadas de técnicas e gerenciamento para que a extração mineral ou de outros recursos naturais seja feita com o mínimo de impacto ambiental negativo. E os lucros dessa atividade, ao invés de irem em grande parte para o crime “crime organizado” e a especulação financeira, sejam revertidos integralmente para melhorar o padrão de vida das etnias, que vivem no limbo do subcapitalismo e, inclusive, sendo indiciadas criminalmente.
A exemplo do que ocorreu em recente conflito entre índios Munduruku e agentes da Polícia Federal, durante operação para destruir garimpos ilegais e clandestinos localizados na reserva da tribo, às margens do rio Teles Pires e na divisa entre Mato Grosso e o Pará.
Para evitar que a tensão persista e outros episódios lamentáveis venham a acontecer, a saída pode ser a legalização desses garimpos.
Afinal por que outros podem garimpar e os índios, não?!
Mário Marques de Almeida é jornalista. www.paginaunica.com.br
E-mail: mario@paginaunica.com.br
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