Entrevista: Professor Joe Garcia, doutor em Educação e especialista em indisciplina
A falta de limites na sala de aula é o foco das pesquisas do doutor em Educação e especialista em indisciplina Joe Garcia há mais de uma década. O professor do Mestrado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná fala sobre o tema:
ZH – Quais são as causas da indisciplina?
Joe Garcia – Há causas externas e internas à escola. Entre as externas, três se destacam. A primeira é a violência social. Num mundo cada vez mais violento, as pessoas vão ficando menos solidárias. Isso está sendo observado nas escolas e tem muito a ver com a indisciplina. Outra causa externa é a influência da mídia, que está mexendo na visão de mundo e no estilo de vida dos jovens. Para os professores, é difícil lidar com toda essa variedade de expressões culturais. A terceira causa é o ambiente familiar. Estudos mostram que a participação da família no processo educacional é fundamental. Ela não precisa fazer o trabalho da escola, mas tem de assumir o papel de torcida organizada e dar noções básicas de civilidade.
ZH – E quais são as causas internas da indisciplina nas escolas?
Garcia – A primeira delas é a qualidade do currículo. Se a escola tem um currículo desatualizado, fica difícil para professores e alunos. Muitos jovens usam a indisciplina para comunicar aos professores que as práticas pedagógicas são ruins. Um dos grandes desafios da escola moderna é conseguir ser desafiadora. Às vezes, as aulas são menos desafiadoras do que um jogo de videogame.
ZH – O que os pais podem fazer para frear a indisciplina?
Garcia – Até certo ponto, a culpabilização da família é verdadeira. O que vemos hoje são adultos com a agenda lotada e com o dia basicamente caótico. Nós, pais, precisamos desenvolver maior interesse pela vida escolar dos nossos filhos. Precisamos estar mais presentes. É importante de vez em quando folhear os livros deles para valorizar os estudos e ir com eles a livrarias para mostrar que o conhecimento é algo interessante. São coisas simples e que não custam tão caro.
ZERO HORA
segunda-feira, 15 de janeiro de 2018
Pesquisa mostra que 60% dos adultos passaram a infância sem contato
Por: Valeska Andrade
Apesar de terem tido pouco contato com os livros na infância, 96% dos
brasileiros consideram importante ou muito importante o incentivo à leitura
para crianças de até cinco anos – mas apenas 37% costumam ler para elas.
Esse é o resultado de pesquisa da Fundação Itaú Social que será anunciada
hoje em São Paulo. Para o levantamento, o instituto Datafolha ouviu 2.074
pessoas com mais de 16 anos de idade em 133 municípios de todo o País.
“Nosso objetivo foi medir a percepção sobre a importância da leitura para
crianças pequenas, mas também o envolvimento do adulto nessa tarefa”,
afirma o vice-presidente da Fundação Itaú Social, Antonio Matias.
A pesquisa é uma das ações da campanha que vê no estímulo à leitura uma
oportunidade demobilizar a sociedade para a garantia dos direitos da
criança e do adolescente.
Fonte: O Estado de S. Paulo
Inclusão de duas novas disciplinas no currículo escolar brasileiro
Por: Valeska Andrade
A inclusão de duas novas disciplinas no currículo escolar brasileiro,
aprovada em fase terminativa na Comissão de Educação, Cultura e Esporte
do Senado Federal, estava pronta para ser enviada à Câmara dos
Deputados, mas o governo federal – que é contra -fez o possível para
retardar a tramitação do tema.
Com a ajuda do líder do governo na Casa, Eduardo Braga (PMDB-AM), o
Planalto conseguiu levar ao plenário a inclusão de Cidadania Moral e Ética
no ensino fundamental e Ética Social e Política no ensino médio, sem data
para votação. A manobra do governo gera polêmicas. Quem apoia a
alteração do currículo condena, mas, entre especialistas, é uma articulação
bem-vista.
Inchaço–Nos últimos anos, a grade horária de crianças e adolescentes
sofreu um inchaço de pelo menos seis disciplinas. Sociologia, filosofia,
antropologia e política foram alguns dos temas incluídos na Lei de
Diretrizes e Bases (LDB) e passaram a fazer parte da rotina dos estudantes.
Mãe de Pedro Picanço, 9 anos, a médica Cristiana Campos, 40, apoia a
inserção de mais uma matéria: a ética. “O colégio é um bom ambiente para
aprender desde cedo valores do que é certo e errado”. Pedro discorda por
considerar uma coisa a mais para estudar. “Já está tão difícil”, lamenta.
Dentro da grade do garoto, já são pelo menos 10 matérias. “E português
não é só português, é literatura, redação, gramática”, acrescenta a mãe.
Fonte: Correio Braziliense
Idade dos avanços cognitivos
Por: Valeska Andrade
Depois de todos os cuidados com os primeiros anos de vida da criança, em
que ela depende exclusivamente da atenção e dos estímulos dos pais e dos
responsáveis, a fase da pré-escola, a partir dos 5 anos, é especialmente
interessante. É quando ela já se comunica bem e começa a ter autonomia
com questões do dia a dia, como hábitos de higiene e escolha de alimentos.
Se estiver na creche, tem a oportunidade de desenvolver atividades
artísticas, inclusive o contato com cantigas, histórias, jogos e brincadeiras.
Mais independente e exploradora, a criança mostra interesse por
descobertas sobre o ambiente ao seu redor.
Fase decisiva– Segundo Dioclésio Campos Júnior, professor de pediatria da
Universidade de Brasília (UnB) e chefe do Centro de Clínicas Pediátricas do
Hospital Universitário da instituição, essa é a fase da criação e da inovação.
“Um período em que se dá a estruturação e a diferenciação do cérebro, a
formação da personalidade e o mais alto índice dos avanços cognitivos,
envolvendo originalidades e inovações potenciais que a criança traz consigo.
Para desenvolvê-las, é preciso cuidar, de forma qualificada, do ser humano
na fase decisiva da sua existência”.
Fonte: Correio Braziliense
Quando é a hora de desligar a TV?
Pesquisas recentes revelam que ver televisão demais contribui
para a obesidade e afeta o desenvolvimento das crianças em
diversos aspectos. Saiba como controlar o tempo do seu filho
diante da telinha
Texto Rosane Queiroz
A televisão pode ser um pretexto para reunir a família, mas
existem várias atividades que podem substituí-la!
Cada hora a mais que uma criança passa sentada em frente à TV
significa um aumento em sua circunferência abdominal. Essa é a
principal conclusão de uma pesquisa da Universidade de Montreal,
no Canadá, com 1 314 crianças de 2 a 4 anos, divulgada
recentemente*. Os estudiosos registraram também que o hábito
prejudica a musculatura e diminui o desempenho nas atividades
físicas. "Na verdade, nós já conhecíamos a relação entre o costume
de ver muita televisão e o aumento da gordura corporal dos alunos de
2 até 10 anos. No entanto, esse é o primeiro estudo que descreve
com precisão de que maneira essa associação é estabelecida",
declara a pesquisadora canadense Linda Pagani, uma das autoras
do trabalho. Conheça mais detalhes dessa pesquisa, outros estudos
sobre o tema e a opinião de especialistas em relação aos efeitos da
TV no desenvolvimento infantil. E repense as rotinas na sua casa a
partir de hoje mesmo.
*International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity
Para ler, clique nos itens abaixo:
TV x Alimentação
TV x Aprendizagem
TV x Saúde emocional
Toquinho: "A escola incutiu em mim a necessidade da disciplina
Para o compositor, a escola é essencial para formação de um
caráter firme e positivo
Toquinho estudou harmonia, violão clássico e orquestração
Nasci numa família paulistana de classe média e morei até os 20
anos no bairro do Bom Retiro, convivendo com a simplicidade de
pessoas humildes. A escola (Liceu Coração de Jesus) incutiu em
mim a necessidade da disciplina para a evolução de meu
conhecimento e para a formação de um caráter firme e positivo.
Enquanto isso em casa recebia de meus pais, Antonio e Diva, o amor
adequado para que eu conseguisse, com independência, a base
indispensável para minha afirmação como homem, como profissional
e como pai dedicado e vigilante.
Toquinho, nome artístico de Antonio Pecci Filho, é cantor,
compositor e violonista. Começou a tovcar violão aos 14 anos e, ao
longo de sua carreira, compôs com Chico Buarque, Jorge Benjor,
Vinicius de Moraes, entre outros grandes nomes da música brasileira.
A íntegra dos resultados pode ser conferida aqui.
Ontem estivemos na apresentação do relatório de monitoramento das cinco
metas do movimento Todos Pela Educação. Infelizmente, as notícias não
são muito boas. Em resumo, elas apontam o enorme desafio que o Brasil
tem para tornar a Educação Básica do país acessível para todos, com um
alto nível de qualidade.
Há quatro anos, o Todos Pela Educação monitora a situação educacional
com base em cinco metas:
1. Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola
2. Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos
3. Todo aluno com aprendizado adequado à sua série
4. Todos jovem com Ensino Médio concluído até os 19 anos
5. Investimento em Educação ampliado e bem gerido
Até agora, nenhuma das metas foi cumprida. Os resultados – publicados em
“De Olho nas Metas 2011” – continuam indicando uma enorme
desigualdade entre as regiões do país, e entre escolas privadas e públicas.
Você acredita que ainda há 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola?
Esse número é maior do que toda a população do Uruguai, por exemplo.
Para resolver, não basta aumentar o número de vagas… é necessário
discutir também assuntos como os motivos do atraso e da evasão escolar.
Para avaliar as crianças de 4º ano do Ensino Fundamental em matemática,
leitura e escrita, foi aplicada a Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do
Ciclo de Alfabetização) em todas as capitais brasileiras. O que se
identificou? Que apenas 56,1% dos alunos atingiram o conhecimento
esperado em leitura, 53,3% em escrita e 42,8% em matemática. Quando se
comparam os resultados de cada região do país, o assunto é ainda mais
alarmante. O Sudeste, por exemplo, teve o melhor desempenho em escrita,
com 65,5% dos alunos com aprendizado adequado para a série. Já no
Nordeste, apenas 30,3% dos alunos redigiram textos conforme o esperado.
Uma diferença de 35 pontos percentuais separam as duas regiões.
Ainda mais dramática é a comparação entre escolas particulares e públicas.
93,6% dos alunos de escolas particulares do sudeste atingiram o nível
esperado de escrita, contra 21,7% das escolas públicas do nordeste. A
explicação dada pelo Todos para esses números discrepantes é a de que os
alunos da rede privada têm melhores condições sociais e econômicas, além
de terem cursado a Pré-Escola. Muitos estudos apontam a importância da
Educação Infantil na aprendizagem nas séries futuras. Apesar disso, em
2009 apenas 50% das crianças brasileiras de 4 a 5 anos estavam
matriculadas na Pré-Escola.
Para Nilma Fontanive e Ruben Klein, consultores da Fundação Cesgranrio,
os resultados de leitura apresentaram progressos, ao contrário dos de
matemática. “Os educadores parecem estar esquecendo da importância da
alfabetização numérica”, disse Nilma. Para Ruben, o mais importante é que
os alunos tenham prazer em aprender.
O desafio da Defasagem Escolar
Sabe o que mais os resultados apontaram? Que alunos com defasagem
idade-série – ou seja, os que repetiram algum ano ou estão adiantados, que
hoje chegam a quase 25% de todos os estudantes – atingiram resultados
bem piores nas três áreas do conhecimento avaliadas, quando comparados
aos alunos na idade correta. Ou seja, isso indica o quanto é importante que
seu filho esteja na série certa.
Segundo o professor Tufi Machado Soares, da Universidade Federal de Juiz
de Fora, o maior entrave ao avanço educacional da população é o atraso
escolar. “Quanto mais defasado o aluno, menor sua chance de concluir os
estudos. Diferente do que vem acontecendo hoje, os alunos devem ser
acompanhados constantemente desde a Pré-Escola”, conclui.
“Os dados e as análises apontam que as mudanças estruturais precisam
acontecer com urgência para que as metas possam ser atingidas até 2022”,
disse Priscila Cruz, diretora-executiva do movimento.
A melhoria da Educação passa, necessariamente, pelo investimento
adequado e pela boa gestão dos recursos nos três níveis de governo: União,
estados e municípios. No entanto, o relatório aponta que o investimento
brasileiro por aluno do Ensino Fundamental ao Superior ocupa as últimas
posições quando comparado ao de outros 35 países. O Brasil só tem
investimento maior que o da China.
Minha filha e o tablet: a hora é agora?
por: Luciana Allan
Foto: Rafael Evangelista
Fernanda, minha filha de quinze anos, que atualmente está no primeiro ano
do ensino médio, tem um grande sonho: estudar com a ajuda de um tablet.
Mas ela não quer deixar de escrever e enterrar a letra cursiva – o que eu,
sinceramente, concordo: os estudantes devem continuar a registrar algumas
observações no bom e velho fichário, um método que jamais deixará de
existir no processo de aprendizado. Ela quer apenas ter mais agilidade
(encontrar o conteúdo de todos os livros em poucos cliques), acesso a um
conteúdo mais instigante (animações que ilustrem algum conceito da física
ou mapas interativos em três dimensões que já mostram o relevo de
determinada região, por exemplo) e, principalmente, mais comodidade (sem
a necessidade de levar muito peso em uma mochila).
Mas se a Fernanda adotasse um tablet já no próximo ano letivo, a
tecnologia realmente seria útil para seus estudos em sala de aula? Apesar
dos inúmeros aspectos positivos que tornarão sua utilização pelas escolas
inexorável, precisamos considerar também diversos desafios que,
infelizmente, ainda precisam ser vencidos para levar os livros didáticos para
o iPad, o Kindle, o Galaxy ou qualquer outro tablet tão rapidamente quanto
esperam os estudantes desta nova geração que já nasceu conectada.
Vamos avaliar os aspectos que podem ser negativos e quais serão os Nesta rápida análise fica claro que, mesmo com estes empecilhos para uma rápida adoção, não há motivos para esperar. As escolas não terão nada a perder em incentivar o uso dos tablets o mais rápido possível. As tarefas
escolares, com certeza, se tornarão muito mais divertidas, lúdicas e práticas
com o suporte de um tablet. Com poucos cliques, os alunos terão acesso aos
conteúdos essenciais e uma infinidade de conteúdos extras, a qualquer
momento, não precisando inclusive se deslocar em momentos pontuais para
o laboratório de informática. Será o início de uma Nova Era, com mais
mobilidade, praticidade, otimização do tempo e dos recursos, tão preciosos
quando falamos de Educação.
O tablet chegará para motivar os alunos a explorar mais os conteúdos, criar
momentos de reflexão, tirar dúvidas e outras atividades mais produtivas. E
irá, claro, tornar o processo de aprendizagem, dentro e fora da sala de aula,
mais antenado com os desafios de uma formação cada vez mais exigente.
Implementar as novas tecnologias na sala de aula é inevitável e urgente para
que estas novas gerações ingressem mais preparadas no mercado de
trabalho em que saber usar um microcomputador deixou há muito tempo de
ser um diferencial. A Fernanda, que não chegou a conhecer uma máquina de
escrever e só ouve músicas no iPod, é prova disso e ela tem pressa! Ou as
editoras e escolas entendem a Fernanda ou irão perder definitivamente sua
atenção para oráculos como o Google e a Wikipedia. A hora é agora!
positivos com a chegada dos tablets nas escolas nos próximos anos.
Uma carta-desbafo: escola está há quatro meses com muro destruído
Há quatro meses, a publicitária Carolina Prestes Yirula, que mora em São
Paulo, têm a mesma visão ao voltar para casa após o trabalho: o muro de uma
escola perto da sua casa desabou e, desde então, nada foi feito. A “solução”
encontrada parece ter sido o acúmulo de entulho no local, como você pode ver
na foto acima.
Carolina, que foi estagiária de marketing do Educar entre novembro de 2009
e julho de 2010, relata que “um pedaço do muro da E.E. Napoleão de
Carvalho Freire (localizada no Jardim Novo Mundo, São Paulo) veio
abaixo. Para resolver o problema foram colocados pedaços de plantas,
terra, entulhos, e assim leva-se a situação, com tijolos caindo aos poucos (e
colocando alunos e pedestres em risco), sujeira se aglomerando e o descuido
e desrespeito escancarando-se para quem quiser ver”.
Indignada, ela resolveu escrever uma carta-desabafo para o Educar. Veja o
que ela diz:
“Há tempos ando guardando certa indignação e descontentamento e agora,
atingida por um ápice de revolta, resolvi escrever esse breve desabafo. Todos
os dias, em meu caminho de volta para a casa, passo em frente a uma escola
pública que, há mais ou menos 4 meses, encontra-se em um estado
inadmissível.
Refiro-me a um muro escolar que simplesmente desmoronou. Isso mesmo. Um
pedaço do muro da E.E. Napoleão de Carvalho Freire (localizada no Jardim
Novo Mundo, São Paulo) veio abaixo. Para resolver o problema foram
colocados pedaços de plantas, terra, entulhos, e assim leva-se a situação,
com tijolos caindo aos poucos (e colocando alunos e pedestres em risco),
sujeira se aglomerando e o descuido e desrespeito escancarando-se para
quem quiser ver.
Como é possível que um espaço público seja tratado dessa forma? Como
permitir o descuido de um espaço educativo a ponto de torná-lo um antro de
entulhos? E os alunos? Vivem e convivem em um ambiente pouco seguro em
que o lema é “salve-se quem puder”, pois o muro está caindo, e ninguém está
tomando atitudes frente a isso.
O que me deixa revoltada é a postura do Governo do Estado de São Paulo,
ausente de sua responsabilidade. Até agora nada foi feito, e frente ao caos,
parece que reinou a indiferença.
Onde estão os responsáveis por mantê-la um local digno de ser chamado de
“escola”? E o respeito com os alunos? E com os professores? Que levantam
todos os dias e deparam-se com o seu espaço de convívio completamente
deteriorado? O que peço é apenas um pouco de consideração e respeito. Que
tipo de tratamento é esse que oferecem a nós, cidadãos? Escolas
deterioradas, literalmente caindo aos pedaços e mais do que isso… O
descaso.
O espaço físico da escola não pode ser colocado de lado, pois tem efeito
direto na motivação e desempenho dos funcionários e principalmente, na
formação dos alunos. Que exemplo está sendo dado a essas crianças, que
veem aquilo que lhes pertence em situação de calamidade? Quais os valores
que são ensinados a elas? E a autoestima e sensação de pertencimento, como
ficam?
Este texto não questiona a qualidade do ensino oferecido pela EE Napoleão
de Carvalho Freire, mas busca apenas destacar a irresponsabilidade do
Governo do Estado de São Paulo. É dever do Governo manter nossas escolas
em bom estado. O muro caiu há mais de 4 meses, e, repito, até agora nada
foi feito.
Tenho certeza que essa não é a única escola que enfrenta esse tipo de
problema e isso é o grande motivo deste desabafo. A E.E. Napoleão de
Carvalho Freire é uma entre tantas. Vamos exigir o mínimo, que é o respeito
e o cuidado com as nossas escolas.
O endereço da E.E. Napoleão de Carvalho Freire é: Rua Iraúna, 815,
Jardim Novo Mundo, São Paulo.
Esperamos uma mudança rápida (que, diga-se de passagem, já vem tarde).”
Carolina mandou a denúncia também para outros meios de comunicação. E
a resposta do Secretaria da Educação do Estado de São Paulo foi diferente
para cada um deles. Para o Terra, a assessoria de imprensa da Secretaria
informou que a empresa responsável pela reconstrução do muro já está
sendo convocada pela Fundação para Desenvolvimento da Educação (FDE)
– órgão responsável pelas obras da pasta – e que estão previstos
investimentos de R$ 120 mil para a reconstrução do muro e execução de
outras melhorias estruturais na escola, que devem começar em dezembro.
Já para o jornal O Globo, foi informado que não há previsão para o início
das obras. A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual não respondeu
ao pedido de esclarecimento do Educar para Crescer.
E você? Tem alguma denúncia a fazer? Mande para a gente!
*A Carolina, que é muito engajada na melhoria da Educação no Brasil, é
responsável pelo perfil no Twitter @Educomunicacao e pela página do
Facebook Educomunicação. Vale acompanhar!
Carreira e atratividade da profissão docente: reflexões
Embora o Brasil tenha avançado na Educação, dados como o da Prova ABC
(Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetizção) confirmam que ainda há
muito a ser feito: a avaliação mostrou que 57,2% dos estudantes do terceiro
ano do Ensino Fundamental não conseguem realizar operações básicas de
Matemática, como somar e subtrair.
A fim de apoiar gestores educacionais na resolução dos problemas que
enfrentam diariamente, a Fundação Itaú Social organizou no dia 05 de
setembro um seminário para discutir o Plano de Carreira do Professor, que
integra o Ciclo de Debates – Gestão Educacional, realizado ao longo do ano
em São Paulo.
Estiveram presentes o consultor da Organização das Nações Unidas (ONU)
e Diretor do Instituto de Governança e Gestão Pública da ESADE
(Barcelona), Francisco Longo; Nelson Marconi, professor e pesquisador da
Fundação Getúlio Vargas; a presidente da União dos Dirigentes Municipais
de Educação (Undime), Cleuza Repulho; e o diretor de Valorização dos
Profissionais de Educação da recém-criada Secretaria de Articulação com os
Sistemas de Ensino (Sase) do Ministério da Educação, Antonio Roberto
Lambertucci.
No discurso de abertura, o vice-presidente da Fundação Itaú Social, Antonio
Matias, foi enfático na importância do professor para uma Educação de
qualidade: “Não existe desenvolvimento sustentável se a Educação não for
prioridade de um país, e o docente é eixo central dessa discussão”.
Mas, afinal, o que é preciso para garantir bons professores?
Durante o seminário, pesquisadores e gestores apresentaram tendências e
boas práticas na área de gestão para tentar encontrar a equação que garante
um corpo docente de qualidade. Uma pesquisa da Fundação Victor Civita
em parceria com a Fundação Carlos Chagas sobre a atratividade da carreira
docente (veja íntegra) revelou que apenas 2% dos jovens do Ensino Médio
indicaram como primeira opção de ingresso a faculdade de Pedagogia ou
Licenciatura.
A atratividade na carreira começa com a valorização do professor. O cargo
precisa ser interessante economicamente para que atraia e retenha talentos,
mas, segundo Francisco Longo, este é apenas um dos elementos, incapaz de
modificar sozinho a Educação de um país. Na Finlândia, os professores não
ganham salários altíssimos, mas gozam de excelente prestígio social, pois a
carreira é muito exigente e concorrida, explicou o espanhol. Portanto, é
preciso ir além: além de um salário satisfatório, os convidados do seminário
indicaram o resgate do prestígio social do professor e a organização de um
plano de carreira para que se reverta o quadro atual.
Plano de Carreira
Todos os presentes no debate concordaram que a estruturação de um plano
de carreira está entre as soluções para o problema da qualidade na
Educação. Hoje mais da metade dos municípios brasileiros não oferecem
essa modalidade, segundo dados do Plano de Ações Articuladas.O Plano
Nacional de Educação (PNE), em tramitação no Congresso, prevê como
meta assegurar, no prazo de dois anos, desses planos para todos os
profissionais do magistério. O diretor de Valorização dos Profissionais de
Educação do Ministério da Educação (MEC), Antonio Roberto Lambertucci,
disse que os municípios estão sendo estimulados a apresentá-los.
Para Francisco Longo, o plano de carreira deve se organizar pautado pela
meritocracia e pela flexibilidade. De um lado, a meritocracia garante a
competitividade e a estabilidade, enquanto a flexibilidade assegura
responsividade, isto é, a capacidade de responder rapidamente, e a
possibilidade de, por exemplo, diferenciar recompensas segundo
desempenho demonstrado. “Profissionalizar o emprego público assegura a
transparência e limita a corrupção, além de melhorar a qualidade de serviço
aos usuários”, enumerou o professor.
O professor da FGV Nelson Marconi, que fez apresentação sobre Gestão
Estratégica de Recursos Humanos no setor público, lembrou uma boa
gestão é capaz de “garantir servidores estimulados para desenvolver seu
trabalho de maneira eficiente a alcançar os resultados ambicionados pela
organização”. Para ele, é preciso estruturar incentivos para possibilitar a
cobrança do resultado que a organização deseja: “Sou a favor do bônus para
os professores, como é feito hoje no Estado de São Paulo”.
Um plano de carreira precisa ter base em critérios de avaliação de
desempenho. Segundo Longo, isso funciona não só como meio de premiar
ou punir os resultados e, portanto, estimular a dedicação dos professores,
mas também como instrumento de análise sobre o que e onde é possível
melhorar. Além disso, o professor também acredita que a mensuração de
trabalho dos professores implicaria o reconhecimento da sua importância:
“As profissões se legitimam sendo avaliadas”, completa.
A presidente da Undime (União Nacional de Dirigentes Municipais de
Educação), Cleuza Repulho, relacionou a falta de perspectiva na carreira de
professor à falta de profissionais qualificados: um a cada cinco professores
da rede pública tem formação insuficiente para exercer a profissão e está,
portanto, em situação irregular.
“As crianças não podem dar sorte ou azar de caírem em uma escola em que
os professores são preparados ou despreparados”, lamentou Cleuza, que
falou sobre os marcos legais da questão salarial no Brasil. Entre eles, a Lei
do Piso (2008), cujo recente julgamento no STF instituiu sua validade para
todo país, rejeitando a alegação de cinco Estados quanto a sua
inconstitucionalidade. O valor atual do piso é de R$ 1.178,14. “Mais
importante do que garantir o piso é garantir carreira aos professores”,
conclui Cleuza.
Por fim, o espanhol Francisco Longo advertiu que a Educação só será
prioridade para os governos quando assim o for para a sociedade.
“Realidade não se muda por decreto. Sem uma cidadania ativa e vigilante
sobre o processo, não conseguiremos avanços”, alertou.
O próximo seminário acontece no dia 28 de novembro, também no Itaú
Cultural. O tema será Diretrizes Curriculares. Para se inscrever ou obter
mais informações, acesse o site da Fundação Itaú Social.
Paulo Renato, o pai da modernidade do ensino brasileiro
por: Equipe do Educar para Crescer
Na história da Educação brasileira, o ex-ministro, criador do Enem e do
Saeb, merece um capítulo à parte, tamanhas as mudanças que soube
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Texto: Marion Frank
Poucos se dedicaram mais à evolução do ensino brasileiro – e, o que é
melhor, com êxito – do que Paulo Renato Souza. Ministro da Educação
durante os dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-
2002), conseguiu dirimir interesses contrários e desavenças políticas de
modo a colocar em marcha as principais mudanças já ocorridas na história
da Educação brasileira. É por isso que se avalia, sem exagero, o nosso
ensino em “antes de Paulo Renato” e “depois de Paulo Renato”.
No lançamento do movimento Educar para Crescer, Roberto Civita e Paulo
Renato Souza.
Vítima de um infarto, ele faleceu, aos 65 anos, na noite de sábado, dia 25,
em São Roque (SP). “Sentiremos muito a sua falta, como amigo, como
companheiro de lutas na frente educacional e como cidadão exemplar”,
declarou Roberto Civita, presidente do Conselho de Administração e diretor
editorial do Grupo Abril.
Nascido em Porto Alegre, Paulo Renato, que era conselheiro do movimento
Educar para Crescer, formou-se em economia na Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. Fez mestrado na Universidade do Chile e doutorado na
Unicamp. Foi na universidade de Campinas que começou a tomar gosto,
por assim dizer, pela Educação, primeiro como professor, depois, como
reitor (1986). Suas qualidades de gestor, no entanto, já haviam sido
colocadas em prática à frente da Secretaria de Educação de São Paulo, no
governo Franco Montoro, em 1984.
“Ele tinha enorme capacidade para aprender questões novas e organizar
propostas ou decisões.” Quem relembra é José Serra, ex-governador e ex-
prefeito de São Paulo, e com quem Paulo Renato trabalhou também como
secretário da Educação (2009-2010). “Sempre conseguia sintetizar o assunto
e fazer uma proposta engenhosa. Sabia negociar com os adversários em
razão de sua atitude de respeito aos outros, paciência infinita e
personalidade cordial, sem falar do espírito prático.” Talentos que
permitiram ao ministro Paulo Renato aprovar, em 1996, a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação que deu partida à criação do Enem (Exame Nacional
do Ensino Médio), prova que procura “incentivar o estudante a aprender a
pensar, a refletir e a ‘saber como fazer’”, como realça o seu estatuto; e o
Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), a primeira
iniciativa de conhecer em profundidade a qualidade dos sistemas
educacionais tanto no Brasil como um todo quanto em suas regiões
geográficas.
Marilena Chauí fala sobre trágica herança deixada pela Ditadura Militar à
por: Manoela Meyer
"Na Ditadura é criada a ideia de que escola pública é subversiva", diz a
filósofa. Foto: Divulgação.
Na última sexta, publicamos no nosso site um extenso depoimento da
Marilena Chauí sobre a importância da Educação em sua vida. Se você não
leu, vale a pena conferir clicando aqui.
Como a conversa foi longa, decidimos compartilhar com vocês algumas
outras questões tratadas pela filósofa e que não foram publicadas.
Para quem não sabe, Marilena Chauí é uma das mais importantes vozes
femininas quando se trata de Educação e Política no país. É professora
titular, agora aposentada, do departamento de Filosofia da USP e já foi
Secretária de Cultura de São Paulo de 1989 a 1992. Tem diversas obras
publicadas, mas foram os livros “O que é Ideologia” e “Convite à Filosofia”
que a tornaram conhecida pelo público em geral.
Vamos para a entrevista?
Educar: A senhora comentou que sua educação esteve sempre ligada ao
ensino público. E que sua formação foi excepcional. Mas nessa época, a
educação chegava à toda população?
Marilena: Veja bem. Não havia na época uma política educacional que
visasse a sociedade brasileira como um todo. Mas a escola não era um lugar
que promovia a seleção e a desigualdade. De fato, a educação existia
somente em determinados lugares. Portanto, o que descrevo é uma
experiência dentro da cidade de São Paulo. Em um tempo em que não havia
a marca atual da capital paulistana: essa terrível diferença entre centro e
periferia. No meu tempo, os bairros mais afastados eram tão equipados
educacionalmente quanto os mais centrais. Essa cidade desigual, feita de
uma violenta polarização entre a carência absoluta e o privilégio de poucos,
surge a partir da Ditadura Militar.
Educar: Por que o ensino público perdeu sua excelência?
Marilena: Na Ditadura Militar é criada a ideia de que escola pública
gratuita é subversiva. A crise começou com a destruição das escolas
vocacionais e, posteriormente, do resto das escolas públicas. Tudo isso com
o apoio da burguesia que apoiou o golpe, o que inclui os empresários da
educação. Houve uma inversão de papéis, com a subordinação da educação
ao dinheiro. Uma tragédia.
Educar: O governo atual está dando mais importância à quantidade que
à qualidade das escolas públicas?
Marilena: O que o atual governo está fazendo é garantir aquilo que está
posto na Constituição Brasileira: a educação é direito de todos os cidadãos e
é dever do Estado oferecê-la. O problema é que os últimos governos
encontraram escolas destruídas, com professores sem formação e sem
salário. Escolas sem qualquer infra-estrutura, sem possibilidade de
melhoria.
Ou seja, o que se busca atualmente é a ampliação quantitativa, garantindo
ao menos uma escola pública em cada um dos mais de 3.000 municípios
brasileiros, e, ao mesmo tempo, a requalificação dos professores. O
Ministério da Educação, por exemplo, tem promovido cursos presenciais e
à distância para atualização desses profissionais. Mas isso tudo é um longo
processo.
Nessa mesma onda, vêm as políticas de inclusão como cotas e ProUni
[Programa Universidade para Todos], tentando fazer com que as
universidades públicas não recebam apenas alunos da rede privada.
Educar: A senhora teria algo a dizer aos pais brasileiros?
Marilena: O que eu diria aos pais é para que nunca abandonem a ideia de
que a Educação é uma formação do espírito. Não é apenas uma forma de
adquirir conhecimento e cultura. É a maneira pela qual você aprende a se
relacionar com o mundo, com a sociedade, com a política, com a história,
com os outros. A Educação abre você para o universo!
Os pais precisam entender que não se trata de assegurar um diploma para
seus filhos, ou a boa entrada deles no mercado de trabalho. Trata-se de
garantir a boa inserção no mundo social pela via do conhecimento, que só a
Educação traz.
O poliamor: amar sem exclusividade
\As relações afetivo-sexuais estão mudando significativamente em épocas contemporâneas. Novas maneiras de encarar o sexo e o próprio prazer são praticadas sem a crueldade da culpa. Os rearranjos conjugais, crise na família e do casamento, possibilitam formas inovadoras das pessoas sentirem-se bem e cultivarem um erotismo que lhes permitam ter sensações e experiências que as relações convencionais não contemplavam. Agreguem a isso a questão da monogamia, que não é uma notoriedade nas relações amorosas, embora este modelo hegemônico ainda persista entre as pessoas e os vínculos afetivos e sexuais se estabeleçam cultivando o tradicionalismo e o conservadorismo social.
A quebra de paradigmas acontece quando, mesmo diante do tradicionalismo, os casais monogâmicos precisam de artifícios e instrumentos que apimentem a relação. Isso porque compreendem que o prazer não deve ser limitado e revela a necessidade de transgredir certos moralismos que de nada ajudam. Os sex shops tornaram-se uma opção tentadora para estes casais que se permitem atingir um nível maior na relação.
Diante deste panorama, o swing pede licença para apresentar-se como uma escolha de muitas pessoas para se relacionarem, seja na troca de parceiros entre dois ou mais casais. É o fim da monotonia do casamento, é a possibilidade da variedade sexual.
Você pode questionar à vontade esta prática, inclinado em suas convicções, mas não podemos negar que isso não é uma tendência, mas uma alternativa que muitos casais encontraram de fortalecer suas relações, dar vazão ao despudor, assumindo sua liberdade sexual. E assim deve ser compreendida. Inclusive, o número de adeptos só vem crescendo no mundo todo. É a quebra de tabus sexuais. E se você não concorda com os “swingers”, há de concordar que o sexo é importante numa relação amorosa e é necessário incrementar, algumas vezes inventar e assim, manter a labareda do sexo sempre acesa. Algumas pessoas enxergam e escolhem caminhos não muito comuns socialmente. Outra prática não muito conhecida é o Poliamor, em que o propósito é vivenciar o sexo e o amor multiplicados.
O poliamor, assim como o swing, é compreendido por seus adeptos quase como um estilo de vida. Consiste em negar a monogamia e adotar um envolvimento responsável e íntimo com várias pessoas, simultaneamente. Relação que pode ser duradoura ou não. A liberdade e a autonomia são sustentações para este estilo de vida, que pressupõe sinceridade e honestidade na relação. A infidelidade sofre também uma transformação, pois é percebida como algo irreal e irracional, uma vez que, os poliamoristas não se sentem ameaçados pelo ciúme e não partilham de sentimentos de posse ou exclusividade. O principal argumento é que existe vínculo afetivo, em que o amor é dividido por todos que participam da relação. Aceito e assumido, a intenção não é enganar ou trair o outro. Todos devem saber a presença de outros nesta relação. O consentimento é natural.
Roberto Freire, psicoterapeuta e escritor, era um adepto do amor libertário. Um defensor convicto da liberdade nas relações amorosas e práticas sexuais. “No amor, jamais nos deixamos completar. Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários”. Frase que ilustra bem o pensamento do escritor, revelando uma filosofia poliamorista. Cada relação estabelecida seria compensada por outra, ou seja, uma relação amorosa é estabelecida de acordo com as necessidades do momento. Se você quiser ir ao cinema assistir determinado filme e seu parceiro não quiser, vá com outra pessoa e aproveite o momento como um casal. Um argumento dos poliamoristas é que o ser humano é mais fiel à seus desejos e vontades do que a uma pessoa,portanto, o modelo monogâmico não funcionaria. A compersão é o oposto do ciúme, ou seja, ver o parceiro se relacionando com outras pessoas lhe causa prazer e satisfação. Raul Seixas, já dizia, “o ciúme é só vaidade”. A frase mencionada compõe a letra da música “A maçã”, que enaltece a autonomia no amor. A propósito, os poliamoristas dão ênfase mais ao amor do que ao sexo.
Fato é que os poliamoristas não querem convencer ninguém a esta prática. Reconheço que é outra maneira de se relacionar com as pessoas e com o mundo. Para tanto é necessário rever conceitos e posicionamentos diante das relações amorosas e de si. Em suma, as pessoas devem escolher a melhor maneira de se relacionar e que seja satisfatório para si. Cada um deve desbravar seus desejos e dar vazão as vontades aprisionadas. Ser feliz não segue regras e não possui padrões. Amar é preciso; viver não é preciso.
________________________________________
Breno Rosostolato
breno.rosostolato@fasm.edu.br
Psicólogo e professor da Faculdade Santa Marcelina.
A diversidade e o autocohecimento
Se não entendemos e não respeitamos a diversidade, não somos educadores. Já pensou se todos fossem iguais? Estudemos a Idade Moderna. As pessoas eram forçadas a pensar e agir da mesma forma, conforme os interesses do pessoal do clero. Exemplos: Leonardo da Vinci (1452-1519), Mestre das Ciências, da Pintura e das Artes, que, por ser homossexual, sofreu constantes perseguições. E Giordano Bruno (1548-1600), que por defender a teoria Heliocêntrica (o centro do universo é o sol) em contraposição à teoria Geocêntrica (o centro do universo é a Terra), defendida pela Igreja, foi queimado vivo em praça pública.
Embora o tempo histórico que vivemos seja outro, como também a educação que se quer seja outra, os contemporâneos têm muito que avançar. Analisemos. A repressão aos homossexuais persiste, inclusive com o apoio de religiões que se dizem “cristãs”. O racismo persiste, pois dificilmente se vê um negro ou uma negra em posição de destaque nas lojas. A ideia preconcebida de que os índios e índias são preguiçosos persiste no imaginário da maioria dos não índios, pois muitos não buscam conhecer a cultura dos nativos.
Quanto à diversidade na escola, lembremos Gadotti: "A diversidade cultural é a riqueza da humanidade. Para cumprir sua tarefa humanista, a escola precisa mostrar aos alunos que existem outras culturas além da sua. Por isso, a escola tem que ser local, como ponto de partida, mas tem que ser internacional e intercultural, como ponto de chegada. (...) Escola autônoma significa escola curiosa, ousada, buscando dialogar com todas as culturas e concepções de mundo. Pluralismo não significa ecletismo, um conjunto amorfo de retalhos culturais. Significa sobretudo diálogo com todas as culturas, a partir de uma cultura que se abre às demais". (GADOTTI, M. Diversidade cultural e educação para todos. Rio de Janeiro: Graal, 1992, p. 23).
Considerações - Cabe a nós, educadores, destruirmos os estereótipos nas atividades escolares e contribuirmos com a transformação do imaginário social.
Se olharmos a diversidade de frente, conseguiremos entender o nosso eu mais profundo e passaremos a nos simpatizar com os desafios, buscando o diálogo.
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Jorge Antonio de Queiroz e Silva
queirozhistoria@uol.com.br
Historiador, palestrante e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.
Afine sua empatia!
Mais do que simpatia, que é sentir com o outro, empatia é sentir como se estivéssemos dentro do outro.
A palavra empatia origina-se do termo grego empátheia, que significa entrar no sentimento. No dicionário Aurélio o significado da palavra empatia aparece como: Tendência para sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa.
O apóstolo Paulo já nos ensinava sobre empatia quando disse aos cristãos: “Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram ” (Romanos 12:15).
Desta forma, a condição básica para sermos empáticos é sermos receptivos aos outros e simultaneamente sintonizados com o nosso interior, estando dispostos a conhecer tanto os outros como nós mesmos.
Ser empático faz parte da natureza humana, por exemplo: quando vemos alguém sofrendo nos surge espontaneamente o desejo de ajudar, e isso acontece porque nesse momento reconhecemos no outro, alguém como nós e nos identificamos com ele.
Uma forma de ser empático é vibrar com as conquistas das outras pessoas, ter a capacidade do reconhecimento, da humildade. Faz parte da empatia desejar o bem de uma forma pura e verdadeira.
A música Amor Para Recomeçar gravada por Roberto Frejat (Barão Vermelho) diz em um de seus trechos: Eu te desejo não parar tão cedo pois toda idade tem prazer e medo, e com os que erram feio e bastante que você consiga ser tolerante.
Ser tolerante também é uma atitute empática, e um dos significados da palavra “tolerante” aparece no dicionário como: aquele que admite e respeita opiniões contrárias a sua.
No refrão da música Amor Para Recomeçar Frejat canta a seguinte frase: Desejo que você tenha a quem amar e quando estiver bem cansado ainda exista amor para recomeçar.
Mais uma vez percebemos na letra desta música uma situação empática: desejar amor, persistência e prosperidade para o próximo.
Cultive a empatia, seja tolerante, deseje o bem para o seu próximo e afine-se para o sucesso!
________________________________________
Fabiano Brum
contato@fabianobrum.com.br
Palestrante especialista em motivação.
8 atitudes desestimulantes dos professores
A falta de afeto, de segurança e
de humor podem levar o aluno a se desinteressar pela escola
25/09/2012 20:51
Texto Juliana Bernardino
Para evitar que os alunos se
sintam frustrados ou
desestimulados, os professor
deve reavaliar constantemente sua
postura em sala de aula
Aprender conteúdos de português,
matemática, ciências, entre outras
disciplinas, não é mais o único
intuito de as crianças freqüentarem a
escola nos dias de hoje. Pais e
educadores concordam que o
universo escolar é também muito
útil para a socialização, para a troca
de experiências, para o trabalho
das emoções, para o aluno se
descobrir (e se redescobrir)
como indivíduo, entre muitas outras
finalidades. Conseguir que todos
esses objetivos sejam devidamente
alcançados não é função apenas
do professor, mas seu papel é, sim,
um dos mais decisivos no
aproveitamento que crianças e
adolescentes fazem de suas
vivências no meio escolar. Por isso, é
importante que ele reveja
constantemente seu comportamento,
visando avaliar como anda sua
influência sobre cada integrante da
sala. Do contrário, alunos
desestimulados podem brotar aos montes,
prejudicando, sem sombra de
dúvida, o processo de aprendizagem
em todos os aspectos.
Para Simão de Miranda, educador,
mestre em Educação e doutor em
Psicologia pela Universidade de
Brasília, o trabalho do professor no
combate ao desestímulo é diário.
"Ele precisa investir na sua relação
com as crianças, mostrar que
gosta de conviver com elas e de
partilhar todos aqueles
momentos. Ele deve passar confiança, para
que os alunos dividam seus medos
e inseguranças, inclusive aquelas
ligadas ao aprendizado",
aconselha Miranda, autor de 20 livros, entre
eles "Professor, Não Deixe
a Peteca Cair" e "100 Dicas Para a Auto-
estima do Aluno", ambos
pela editora Papirus. A seguir, ele e outros
profissionais da Educação (além
de um jovem estudante) apontam
comportamentos do professor que
podem desestimular os alunos.
Para ler, clique nos itens
abaixo:
1. Falta de motivação do
professor
2. Falta de afeto
3. Falta de cuidado com a
aparência
4. Falta de interação e uso de
rótulos
5. Falta de segurança
6. Falta de humor
7. Falta de avaliação
8. Falta de cuidados na hora da
leitura
DEPOIMENTOS
Toquinho: "A escola incutiu
em mim a necessidade da disciplina
para a evolução do
conhecimento"
Para o compositor, a escola é
essencial para formação de um
caráter firme e positivo
Toquinho estudou harmonia,
violão clássico e orquestração
Nasci numa família paulistana de
classe média e morei até os 20
anos no bairro do Bom Retiro,
convivendo com a simplicidade de
pessoas humildes. A escola
(Liceu Coração de Jesus) incutiu em
mim a necessidade da disciplina
para a evolução de meu
conhecimento e para a formação
de um caráter firme e positivo.
Enquanto isso em casa recebia de
meus pais, Antonio e Diva, o amor
adequado para que eu
conseguisse, com independência, a base
indispensável para minha
afirmação como homem, como profissional
e como pai dedicado e vigilante.
Toquinho, nome artístico de
Antonio Pecci Filho, é cantor,
compositor e violonista. Começou
a tovcar violão aos 14 anos e, ao
longo de sua carreira, compôs
com Chico Buarque, Jorge Benjor,
Vinicius de Moraes, entre outros
grandes nomes da música brasileira.
5 lições sobre bullying e inclusão de “Extraordinário”
10 de Janeiro de 2018
- Por: Wellington Soares
Todo mundo já viveu essa situação: você tenta aproveitar as férias, vai ao cinema e esbarra em um filme que faz você lembrar o tempo inteiro sobre a vida na escola, a rotina com os alunos e ter milhões de ideias. Foi isso que aconteceu quando algumas pessoas da equipe de NOVA ESCOLA foram assistir Extraordinário – inspirado no livro de mesmo nome do autor R. J. Palacio – e que está em cartaz nas salas de cinema.
O filme conta a história do pequeno August Pullman, um menino de 10 anos, e o início da sua vida escolar. Auggie – como é chamado pela família – nasceu com uma síndrome rara que causou diversos problemas de saúde, inclusive uma deformação em seu rosto. Por isso, a família decidiu não enviá-lo à escola até a 4ª série (nos Estados Unidos, a lei permite que os próprios pais deem aula aos filhos, a matrícula em uma instituição de ensino não é obrigatória).
Ao atingir a idade adequada para frequentar a 5ª série, Auggie é finalmente matriculado em um colégio. Mas o início da escolarização dá margem a medos e ansiedade, não apenas no menino, mas também à família, que teme pela maneira como as outras crianças vão lidar com sua aparência. Desnecessário dizer que as situações vividas pelos personagens são pensadas para emocionar os espectadores (é difícil não chorar pelo menos uma vez). Conversamos com Luciene Tognetta, coordenadora do Grupo de Pesquisas em Educação Moral (Gepem) da Unesp e da Unicamp, e levantamos cinco lições do filme sobre o combate ao bullying e sobre a inclusão de crianças com deficiência.
1. Discuta abertamente sobre as diferenças entre TODOS os alunos
A chegada de alunos com deficiência à escola regular é uma realidade cada vez mais comum. Dados da pesquisa Conselho de Classe, realizada pela Fundação Lemann, mostram que 22% dos professores brasileiros veem a inclusão como uma das três maiores prioridades para seu trabalho.
Um dos receios sobre a entrada desses alunos é a possibilidade de que sofram bullying e intimidação – como acontece com Auggie, no filme. Luciene Tognetta afirma que ensinar as crianças a conviver com outras que reconheçam como diferentes passa pela necessidade de fazê-las pensar que todos são, em alguma medida, diferentes uns dos outros. “E não basta falar que todos são diferentes, é preciso viver a diferença”, ressalta ela.
Entre as atividades sugeridas pela especialista estão rodas de conversa em que cada criança possa expor seus interesses, seus gostos e suas histórias. “Também é possível trazer espelhos e estimular os estudantes a observar as diferenças físicas também. Assim, eles verão que não é apenas um colega que é diferente”, afirma Luciene.
2. Prepare os próprios alunos para combater o bullying
Uma das características do bullying é que ele acontece justamente longe dos olhos dos adultos, na relação entre as crianças. É o que acontece no filme: por muito tempo, diretor, pais e professores não tomam conhecimento das intimidações a que Auggie é exposto. Luciene Tognetta explica que uma boa maneira de contornar essa invisibilidade é investir na formação dos próprios alunos para que eles ajudem a resolver a situação na escola. “Quando um adulto trabalha sozinho, as crianças e os jovens tendem a encarar suas falas como ‘ordens’", afirma Luciene. "Quando o tema é levantado por pares, a compreensão é diferente”. E não basta dar sermões ou fazer palestras sobre o tema. No site Somos Contra o Bullying, há materiais de apoio para a criação das equipes de ajuda e sugestões de atividades e materiais para discutir temas como empatia, cooperação e solidariedade.
LEIA MAIS 7 passos para tirar o bullying do escuro
3. Atue também com os agressores e suas famílias
Quando conhecemos os pais de Julian, o principal agressor de Auggie no filme, parece ficar claro o porquê do comportamento do menino. Aqui, vale prestar atenção: as causas do bullying são múltiplas e, apesar do estilo usado pelos pais na criação dos filhos ser um dos principais fatores que influenciam no comportamento, ele não é o único. Não faz sentido, portanto, culpar unicamente os pais pelo bullying. Mas dá para ampliar as ações para as famílias. “Os pais não receberam formação para discutir essas questões. É importante que a escola também ofereça formações para eles”, DIZ Luciene. O livro Esses Adolescentes de Hoje, organizado pela especialista Luciene dá alguns encaminhamentos para esse trabalho. O material usado para a formação das famílias em diversas escolas no estado de São Paulo também está disponível no site Somos Contra o Bullying.
4. Combata a pressão que outros alunos possam sentir
Inicialmente, Auggie faz um único amigo, Jack, que passa a sofrer pressão dos outros alunos para que deixe de se relacionar com o protagonista. Situações como essas não são raras. “Em algumas instituições, vale a regra do ‘cada um por si’”, conta Luciene. Mudar esse cenário exige um trabalho sistemático e que tenha foco na prevenção. Garanta que os valores da escola sejam trabalhados constantemente com os alunos. “A instituição deve 'tornar legal' estar ao lado de quem é diferente e não ao lado de quem promove as agressões”, afirma a especialista.
5. Crie espaço para ouvir os estudantes e identificar problemas emocionais
O filme se dedica a retratar não somente a rotina de Auggie, mas também de diversas pessoas com quem o menino se relaciona. Chama atenção a história da irmã mais velha, Via. “Ela faz do ingresso no curso de teatro da escola uma válvula de escape para sua rotina”, diz Jorge Assumpção, diretor de Programação e Marketing da Paris Filmes, que distribui o filme no país e organizou rodadas de discussão sobre a obra com professores de escolas públicas. As angústias sofridas pela jovem quase sempre passam despercebidas, tanto pela família quanto pela escola onde ela estuda. Alunos como ela, muitas vezes, passam por situações difíceis sem que os educadores as identifiquem. Para mudar essa situação, Luciene sugere apostar em novas metodologias de ensino. “Quando os estudantes têm mais chance de se colocar, fica mais claro para os adultos os momentos pelos quais estão passando”, conta a especialista. Uma dinâmica possível é a realização de rodas de conversa para realizar um balanço sobre o dia. No final da aula, os estudantes podem ser estimulados a falar sobre como participaram das atividades, quais papéis assumiram – foram líderes? Demandaram muita ajuda? Conseguiram apoiar colegas? – e, assim, o professor se aproxima de cada estudante.
O gestor escolar como construtor de cenários
Francisca Romana Giacometti Paris - frgparis@editorasaraiva.com.br
Pedagoga, mestra em Educação e diretora de serviços
educacionais do Ético Sistema de Ensino, da Editora Saraiva.
A imagem do educador como um profissional capaz de produzir
cenários onde a aprendizagem se desenvolva ilustra bem a mudança no papel dos
professores, ao longo das últimas décadas. Entre as competências do bem
ensinar, está certamente a de criar um ambiente estimulante no qual crianças e
jovens possam encontrar sua rota de aprendizagem, construam seu percurso de
aprendizes, cresçam.
Se pensarmos bem, a imagem da construção do cenário também se
refere diretamente ao trabalho dos gestores. O diretor, o coordenador, enfim,
os líderes educacionais, devem, cada vez mais, ser capazes de entrever e
construir os cenários do seu projeto de escola.
Pode-se pensar nesse papel de duas diferentes perspectivas.
Uma delas é o contexto imediato, próximo. Liderando equipes complexas, em que
atuem diversos profissionais com diferentes personalidades e formas de
trabalhar, os gestores precisam ser capazes de articular um relacionamento
produtivo. Isso implica, por exemplo, a construção de um ambiente de trabalho
que concilie criatividade e disciplina, espaço de valorização do mérito de cada
um e resultado do grupo. Ser capaz de organizar a cena profissional é uma
habilidade importante para o gestor contemporâneo que precisa ser desenvolvida.
Há, porém, cenários maiores do que esse: um deles é o grande
palco das mudanças da sociedade contemporânea. Se é imprescindível olhar para
dentro, com atenção e critério para o que acontece na escola – nossa área de
influência mais próxima –, é igualmente importante olhar para fora, ou seja,
tentar compreender o que se passa no mundo. Se há algo que caracteriza nossa
época é a volatilidade dos conceitos.
Muitas vezes, presos aos afazeres cotidianos, os gestores se
esquecem de olhar para mudanças importantes, grandes reorientações que mais
cedo do que parece chegarão ao ambiente escolar. Estamos falando de tecnologia?
Sim, mas não só disso. Há mudanças demográficas, econômicas, culturais e
comportamentais que certamente chegarão à escola e irão interferir nos
negócios. Saber entender esses movimentos permite ao gestor se preparar para o
que virá.
São muitos os exemplos: em alguns lugares, pode ser a
melhoria da escola pública, que repentinamente rouba os clientes da rede
particular; em outros, podem ser movimentos migratórios internos, como a fuga
das metrópoles. Enfim, não há uma regra; o que sabemos, com certeza, é que as
mudanças se sucedem com incrível velocidade e a vitalidade dos negócios cada
vez mais dependerá de nossa capacidade de adaptação aos novos contextos.
Por isso, ser líder hoje implica ser sensível aos sinais dos
tempos. É preciso saber ler nas entrelinhas, buscar compreender as tendências,
antecipar-se, quanto mais possível, às curvas da história – essa estrada cada
vez mais veloz.
'Anos finais do Ensino Fundamental precisam ser repensados', diz pesquisadora
Superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária critica a falta de políticas específicas para esses alunos
Fonte: iG
Nos últimos anos, as políticas e os programas de governos estaduais,
municipais ou o federal se concentram na educação infantil, no ciclo da
alfabetização ou no ensino médio. Mas a trajetória escolar que os une – os
quatro últimos anos do ensino fundamental, chamados de anos finais ou
fundamental II – tem sido constantemente esquecida.
Esse “esquecimento”, lembra a pedagoga Anna Helena
Altenfelder, pode custar caro. Todo o investimento feito nas etapas iniciais
pode se perder. “Se não encararmos o desafio de repensar o fundamental II,
vamos perder esforços”, ela diz, categórica. Para ela, o país age como se a
qualidade dos anos iniciais fosse naturalmente chegar aos anos finais.
Segundo ela, que é doutora em psicologia e superintendente do
Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec),
essa lógica está equivocada. “Os indicadores mostram o contrário, estamos
perdendo as conquistas”, pondera.
A pesquisadora, que atua também como formadora de
professores, conversou com o iG sobre o tema no Congresso “Educação: agenda de
todos, prioridade nacional”, organizado pelo movimento Todos pela Educação.
Confira os principais trechos da entrevista:
iG: Como você avalia os anos finais do ensino fundamental no
Brasil?
Anna Helena Altenfelder: Essa fase é conhecida como “o ciclo
esquecido”. Um dos fatores é que ele está dividido entre as redes municipais e
estaduais. Além disso, existem poucas pesquisas focadas no que chamamos de
ensino fundamental II. O próprio Plano Nacional de Educação pouco se refere a
metas específicas. Essa fase não é considerada nas suas especificidades, nem
nas políticas nem nas pesquisas.
iG: Por que isso acontece?
Anna Helena: Talvez porque, no Brasil, historicamente, houve
um esforço em olhar o início da trajetória e depois o ensino médio. Como se a
qualidade dos anos finais do fundamental fosse uma decorrência de um bom
início. Mas o que a gente observa nos indicadores é justamente o contrário:
temos avanços nos anos iniciais e os perdemos nos finais. É difícil dizer por
que isso acontece. Essa divisão entre as redes, que ainda não têm um sistema
articulado, atrapalha. As redes municipais acabam focando os anos iniciais do
fundamental e as estaduais, o ensino médio. O fundamental II não se torna
prioridade de nenhuma. Além disso, essa é uma fase muito específica, que traz
uma grande mudança na organização da escola. Os alunos deixam de ter um
professor, uma referência única, uma rotina, e passam a ter cinco professores
ou mais, muitas vezes sem nenhum tipo de orientação. Não é um problema só da
rede pública. Essas especificidades não são consideradas.
iG: Se o país não encontrar saídas para solucionar essas
dificuldades vai perder as melhorias de aprendizagem que conseguiu com essa
geração?
Anna Helena: Eu não tenho dúvida disso. Se não encararmos o
desafio de repensar o fundamental II, vamos perder esforços. Não adianta pensar
no ensino médio. Há uma evasão muito grande nessa fase, o índice de distorção
idade-série é alto, há muitos meninos atrasados e nós sabemos que o aluno em
atraso hoje é o que vai abandonar a escola amanhã, porque ele se desmotiva. Há
um número enorme de meninos que não chega ao ensino médio.
iG: Quais problemas, além do estranhamento da mudança, marcam
essa fase?
Anna Helena: É preciso entender a especificidade dessa faixa
etária. É uma fase de transição, em que os alunos começam a procurar mais
autonomia, querem protagonismo, sentem que não são mais crianças e precisam ser
reconhecidos assim. É um desafio para a escola entender como dialogar com esse
jovem, que está inserido num mundo com as novas tecnologias, que tem outro
ritmo e, certamente, outras formas de aprender. A escola tem de estabelecer um
diálogo com a cultura, o interesse e as necessidades deles. É um grande
desafio, mas a gente precisa pensar numa revisão curricular, na reorganização
dos tempos e espaços da escola, que são marcados por aulas de 50 minutos, em
que um professor entra e outro sai da sala, muda o assunto, não tem conversa.
Isso não responde mais às necessidades deles.
iG: Existem soluções possíveis, de curto prazo, para resolver
esses problemas?
Anna Helena: A polivalência de professores é uma medida fácil
de ser tomada, que eu vejo com bons olhos. Seria o aluno ter o mesmo professor
por mais tempo no 6º e no 7º anos e depois ir aumentando a quantidade de
docentes. Mas isso demanda assessoria a esse professor, um projeto pedagógico
bem feito. Outra coisa seria repensar a organização dos tempos e dos espaços,
buscar a interdisciplinaridade por meio de projetos que possam dar um sentido
mais comum e articulado. Essa é também uma fase em que os pais se distanciam da
escola e a escola não tem o empenho para chamá-los. Pensar uma política para
trazer as famílias para perto também é boa. Outra possibilidade é criar
maneiras de usar as novas tecnologias como canal de vinculação com o mundo
deles, que é de cultura digital.
iG: As avaliações e os processos seletivos têm influenciado
de maneira negativa os anos finais do fundamental?
Anna Helena: Tenho observado empiricamente que a preocupação
com o vestibular chega cada vez mais cedo. Acho que, no país, acontece uma
inversão: nós pautamos o currículo pela avaliação. É um evento perverso, porque
deveria ser o contrário. O exame deveria ser feito a partir do currículo que é
comum para todos. Isso acaba atrapalhando oportunidades de aprendizagem e de
desenvolvimento de habilidades e competências que seriam importantes, como
descobrir novas coisas para atuar melhor no mundo e não para passar num exame.
iG: Como temos de lidar com o tema da reprovação, sempre tão
controverso, nessa fase? É preciso reprovar nessa etapa?
Anna Helena: Há uma discussão que é anterior a reprovar ou
não, que não é feita. De nada adianta você reprovar um aluno se você não
acompanha o processo de aprendizagem dele e não toma medidas efetivas para que
ele aprenda o que não conseguiu. Do mesmo jeito de que de nada adianta aprovar
se também não é feito esse monitoramento da aprendizagem. A reprovação não é um
instrumento que possibilite aprendizagem, nem nessa fase nem em nenhuma outra.
É importante que eles continuem no curso da escola desde que haja planejamento
e ações efetivas para ajudá-lo a aprender o que precisa.
Discussão do currículo é prioritária no debate sobre Educação de qualidade
Especialistas
discutiram também sobre a formação de um sistema nacional de educação
Alexandre Ondir/TPE
Do Todos Pela Educação, em Brasília
O estabelecimento de padrões mínimos para a
Educação brasileira, incluindo o debate em torno da instituição de um currículo
nacional para o Ensino Fundamental e Médio, surgiu como o principal consenso da
terceira sessão do Congresso Educação: Agenda de Todos, Prioridade Nacional,
realizado em Brasília, nos dias 10 e 11 de setembro, na sede do Conselho
Nacional de Educação (CNE). A discussão envolveu especialistas para debater o
sistema educacional brasileiro e a articulação entre os entes da federação na
garantia de Educação de qualidade.
O secretário de Articulação com os Sistemas de
Ensino do Ministério da Educação (MEC), Binho Marques, afirmou que a Educação
brasileira precisa enfrentar o problema do currículo. Segundo ele, o ministro
Aloizio Mercadante tomou a questão como prioridade. “Será impossível avançarmos
na formação dos professores se não lidarmos com mais força com o debate do
currículo”, afirmou.
"Fazendo uma analogia
, o currículo deve ser
uma partitura e o professor, o maestro que irá conduzi-la. Ele pode fazer uma
sinfonia maravilhosa, mas pode desafinar também, caso não seja bem preparado”,
afirmou Zilma de Moraes, professora associada aposentada do Departamento de
Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São
Paulo de Ribeirão Preto (USP-RP) e membro do Conselho Municipal de Educação de
São Paulo.
Cesar Callegari, secretário municipal de Educação
de São Paulo, também concordou que os direitos de aprendizagem das crianças
devem ser enunciados, mas que é preciso assegurar a diversidade. “O currículo
não pode ser uma lista de conteúdos ou de práticas encadeadas que não permitam
que certos objetivos sejam alcançados como um direito. O direito deve se
enunciar e as estratégias devem ser as mais diversas possíveis”, disse. “A
Educação é em essência um ato de criação por parte do educador e do educando. É
recriação o tempo todo. Diversidade é essencial ao processo.”
A autonomia também apareceu como tema na discussão
curricular. “Precisamos de um denominador comum. Autonomia e estratégia são
fundamentais mas não podemos prescindir de responsabilidade. Além disso, temos
que considerar a desigualdade”, disse Ricardo Henriques, superintendente
executivo do Instituto Unibanco.
Em vídeo gravado especialmente para o Congresso, o
filósofo e educador colombiano Bernardo Toro, definiu currículo como todo o
conjunto de experiências que o aluno viverá dentro da escola, desde a
programação do tempo e a definição dos espaços, passando pelo conteúdo, pelas
formas de reconhecimento dos avanços, a organização da aula e dos materiais.
“Tudo isso forma a criança”, afirma Toro. “A sociedade precisa entender que a
escola não é só um lugar para ensinar, mas um lugar para aprender. Se queremos
transformar a escola, temos de ter em mente duas coisas: 1) uma boa escola é
onde as crianças aprendem o que precisam, no momento em que têm que aprender;
2) a sociedade precisa estar segura do que quer que as crianças aprendam. Por
isso a importância da discussão sobre o currículo”, afirmou o filósofo.
Emiliana Vegas, chefe da Divisão de Educação do
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington, acredita que os
professores não têm orientação para saber o que devem priorizar. “Não é que
falte autonomia para os professores, falta saber no que focar ao olhar para os
conteúdos do currículo", pontuou. Trazendo a experiência internacional
para a sessão, Emiliana afirmou que em todos os países que alcançaram bons
resultados nas avaliações educacionais, há um misto entre o estabelecimento de
metas, processos de avaliação e de prestação de contas (accountability) e a
ênfase na definição de padrões curriculares e na valorização e formação dos
professores.
Equidade
A redução das desigualdades na Educação pública
brasileira também foi um tema bastante presente no debate. “Equidade não é
tratar todo mundo igual e sim chegar a um resultado adequado a cada um dos
envolvidos. A gente sabe o que fazer com a Educação brasileira, a gente só não
sabe como fazer”, relatou Eduardo Deschamps, secretário de Estado da Educação
de Santa Catarina.
Binho Marques, no entanto, destacou que o estabelecimento
de padrões mínimos é essencial para o processo. “Padrão mínimo é extremamente
importante para chegarmos à equidade", disse. Segundo ele, a ausência de
um sistema nacional de Educação contribui para agravar o quadro. “Nosso
problema é estrutural, de raiz. O Brasil nunca teve um sistema nacional de
Educação. Temos entes federados e não existe uma hierarquia entre eles.
Precisamos juntar todos esses problemas num só”, disse Binho. “Temos um Plano
Nacional de Educação tramitando, mas falta a sua aprovação. O plano dá dois
anos para instituir um sistema nacional de Educação no Brasil. Teremos um prazo
a cumprir.”
Universidade
Para Mozart Neves Ramos, membro da Câmara de
Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE) e assessor do movimento
Todos Pela Educação, uma das chaves para a melhoria da Educação brasileira está
em reaproximar a universidade da Educação Básica. “Priorizou-se fortemente o
topo da Educação, o Ensino Superior, mas quem está cuidando da Educação
Básica?", questionou. “Se ela não voltar a se aproximar, não atingiremos a
meta 12 do PNE, que trata justamente do aumento da matrícula na Educação
Superior. A universidade hoje é guiada pelas políticas do próprio MEC e pelos
resultados das avaliações feitas pelo governo. No ambiente universitário, o
professor que cuida da Educação Básica é visto como professor de segunda
categoria.”
A deficiência na formação inicial de professores, a
cargo das universidades, pontuou a fala de praticamente todos os debatedores.
Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita, acrescentou
sua preocupação com a formação de professores alfabetizadores. “É muito bom que
tenhamos um pacto nacional pela alfabetização, mas quem, na universidade, está
formando os formadores em alfabetização”, questionou. “Eles não estão sendo
formados dentro das universidades. Alfabetizar é uma tarefa complexa e cada
professor pega uma turma com 30, 35 alunos. E são essas mesmas universidades em
que eles se formaram que são chamadas para ajudar os professores em serviço no
Pnaic. Mas existe um gap. Precisamos corrigir a formação inicial”, disse.
Professor
O papel do professor na garantia de um sistema
nacional de qualidade também apareceu durante as falas dos participantes. Para
Anna Helena Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em
Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), os materiais de apoio ao
professor são importantes especialmente para aliviar a sensação de solidão que
os docentes sentem ao adentrar a sala de aula. “Mas esse material não pode ser
um guia que defina integralmente a maneira com o professor vai conduzir sua
aula. Deve ser um ponto de partida, um porto seguro de onde ele poderá partir
em caminhos próprios, por ele desenvolvidos”, afirmou Anna Helena.
Binho Marques destacou a importância da valorização
do professor e colocou a definição de plano de carreira docente como
prioridade. “É fundamental: o professor tem que ganhar bem e ter uma carreira
atraente. Somente assim vamos conseguir atrair os jovens para o magistério, profissão
que hoje quase não aparece na preferência dos estudantes do Ensino Médio”,
afirmou o secretário.
O congresso
A
realização do congresso é uma parceria do Todos Pela Educação com o CNE, a
Education Above All Foundation, Educate a Child, do Qatar, e o Instituto
Natura. A Associação Cidade Escola Aprendiz, o Educar para Crescer, o
Inspirare/Porvir e a Fundação Victor Civita são apoiadores do evento.
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