segunda-feira, 15 de janeiro de 2018
Marilena Chauí fala sobre trágica herança deixada pela Ditadura Militar à
por: Manoela Meyer
"Na Ditadura é criada a ideia de que escola pública é subversiva", diz a
filósofa. Foto: Divulgação.
Na última sexta, publicamos no nosso site um extenso depoimento da
Marilena Chauí sobre a importância da Educação em sua vida. Se você não
leu, vale a pena conferir clicando aqui.
Como a conversa foi longa, decidimos compartilhar com vocês algumas
outras questões tratadas pela filósofa e que não foram publicadas.
Para quem não sabe, Marilena Chauí é uma das mais importantes vozes
femininas quando se trata de Educação e Política no país. É professora
titular, agora aposentada, do departamento de Filosofia da USP e já foi
Secretária de Cultura de São Paulo de 1989 a 1992. Tem diversas obras
publicadas, mas foram os livros “O que é Ideologia” e “Convite à Filosofia”
que a tornaram conhecida pelo público em geral.
Vamos para a entrevista?
Educar: A senhora comentou que sua educação esteve sempre ligada ao
ensino público. E que sua formação foi excepcional. Mas nessa época, a
educação chegava à toda população?
Marilena: Veja bem. Não havia na época uma política educacional que
visasse a sociedade brasileira como um todo. Mas a escola não era um lugar
que promovia a seleção e a desigualdade. De fato, a educação existia
somente em determinados lugares. Portanto, o que descrevo é uma
experiência dentro da cidade de São Paulo. Em um tempo em que não havia
a marca atual da capital paulistana: essa terrível diferença entre centro e
periferia. No meu tempo, os bairros mais afastados eram tão equipados
educacionalmente quanto os mais centrais. Essa cidade desigual, feita de
uma violenta polarização entre a carência absoluta e o privilégio de poucos,
surge a partir da Ditadura Militar.
Educar: Por que o ensino público perdeu sua excelência?
Marilena: Na Ditadura Militar é criada a ideia de que escola pública
gratuita é subversiva. A crise começou com a destruição das escolas
vocacionais e, posteriormente, do resto das escolas públicas. Tudo isso com
o apoio da burguesia que apoiou o golpe, o que inclui os empresários da
educação. Houve uma inversão de papéis, com a subordinação da educação
ao dinheiro. Uma tragédia.
Educar: O governo atual está dando mais importância à quantidade que
à qualidade das escolas públicas?
Marilena: O que o atual governo está fazendo é garantir aquilo que está
posto na Constituição Brasileira: a educação é direito de todos os cidadãos e
é dever do Estado oferecê-la. O problema é que os últimos governos
encontraram escolas destruídas, com professores sem formação e sem
salário. Escolas sem qualquer infra-estrutura, sem possibilidade de
melhoria.
Ou seja, o que se busca atualmente é a ampliação quantitativa, garantindo
ao menos uma escola pública em cada um dos mais de 3.000 municípios
brasileiros, e, ao mesmo tempo, a requalificação dos professores. O
Ministério da Educação, por exemplo, tem promovido cursos presenciais e
à distância para atualização desses profissionais. Mas isso tudo é um longo
processo.
Nessa mesma onda, vêm as políticas de inclusão como cotas e ProUni
[Programa Universidade para Todos], tentando fazer com que as
universidades públicas não recebam apenas alunos da rede privada.
Educar: A senhora teria algo a dizer aos pais brasileiros?
Marilena: O que eu diria aos pais é para que nunca abandonem a ideia de
que a Educação é uma formação do espírito. Não é apenas uma forma de
adquirir conhecimento e cultura. É a maneira pela qual você aprende a se
relacionar com o mundo, com a sociedade, com a política, com a história,
com os outros. A Educação abre você para o universo!
Os pais precisam entender que não se trata de assegurar um diploma para
seus filhos, ou a boa entrada deles no mercado de trabalho. Trata-se de
garantir a boa inserção no mundo social pela via do conhecimento, que só a
Educação traz.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário