quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Livro traça panorama da escravidão no Brasil da Livraria da Folha

A partir de ampla pesquisa, autores recuperam detalhes da escravidão
De autoria de Herbet S. Klein, professor doutor do Departamento de História da Universidade de Columbia (EUA) e especializado em História Social e da América Latina, e de Francisco Vidal Luna, professor aposentado da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, "Escravismo no Brasil" traça um panorama amplo e aprofundado da sociedade escravista no país.

Nos últimos vinte anos, os estudos sobre o tema têm crescido significativamente. No caso deste livro, editado em uma parceria entre a Edusp e a Imprensa Oficial, os autores basearam suas pesquisas no Arquivo Público do Estado de São Paulo e no Mineiro. Por lá, levantaram dados sobre idade, domicílio e estado civil, entre outros dados, dos escravos que aqui vivera
Klein e Luna apresentam um relatório cronológico paralelamente a uma análise estrutural, distinguindo a escravidão de outras formas de trabalho servil, analisando a evolução do sistema até o século 19 e ressaltando os aspectos sociais e políticos da vida e da cultura dos escravos.
Leia abaixo um pequeno trecho extraído do livro.

Fuga, rebelião, resistência e violência não poderiam ser as únicas respostas possíveis à escravidão no Brasil. A maioria dos africanos e seus descendentes tentou sobreviver à experiência do cativeiro e levar uma vida o mais normal possível no contexto desse impiedoso sistema. Por isso, a família e a vida comunitária foram parte fundamental da experiência afro-brasileira e, de modo mais amplo, contribuíram para moldar e definir a sociedade na qual os escravos se inseriam.

Forçados a trabalhar para outros e com escasso controle sobre a própria vida, os cativos trataram de aprender ofícios, formar família e criar redes de parentesco e amizade que sobreviveriam à instituição escravista. Na religião e em suas irmandades, encontraram outra fonte de conforto e vida comunitária.

Embora os escravos africanos trazidos para o Brasil falassem muitas línguas diferentes e proviessem de sistemas culturais e nacionalidades distintos, ocasionalmente encontraram características em comum que puderam ajudá-los na formação de laços no Novo Mundo.

A abertura do tráfico atlântico, por exemplo, contribuiu para o desenvolvimento de contatos interregionais com a África criando áreas de mercado cada vez maiores. Ao mesmo tempo, a expansão e reorganização constantes dos estados e sociedades africanas no decorrer dos anos puseram em contato muitos grupos diferentes. Embora não devamos dar excessiva importância ao processo de integração cultural no continente africano, também não devemos exagerar a diversidade da África.

Nem todo grupo etnolinguístico possuía uma cultura distinta que divergisse completamente das demais. Além disso, muitos africanos da era do tráfico de escravos eram multilíngues e capazes, ao menos em um grau rudimentar, de conversar em dialetos e entender os costumes de seus vizinhos.

Significativamente, as circunstâncias do tráfico atlântico não dissiparam totalmente essas tendências. Muitos navios negreiros extraíam cativos de regiões onde havia ocorrido um interno contato multinacional, e muitos dos escravos que os traficantes compravam também haviam migrado lentamente para a costa onde foram vendidos, passando assim por numerosos territórios e interagindo com várias populações. Tudo isso pode ajudar a explicar por que alguns africanos recém-chegados na América foram capazes de criar laços de amizade e comunidade com cativos de outras nações.

Finalmente, a longa duração e a intensidade do tráfico de escravos africanos para o Brasil garantiram a reunião de grandes grupos de cativos das mesmas regiões e até dos mesmos grupos etnolinguísticos em uma mesma área do Brasil, e podemos encontrar em documentos brasileiros numerosos casos de escravos do mesmo grupo etnolinguístico que viveram e trabalharam juntos, ou mesmo que foram seletivamente comprados por forros da mesma origem africana.
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