Vinicius de Carvalho
Na última terça-feira (8) tive a oportunidade de participar de dois eventos importantes liderados por colegas sócios do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (IHG-MT). Uma delas é foi a exposição “Uma janela de sonhos”, aberta à visitação às 19h do dia 8 no Cine Teatro Cuiabá, em comemoração aos 70 anos de inauguração do espaço. O curador da exposição é o sócio Aníbal Alencastro, que vem se destacando nesta temática do cinema. Outro foi o lançamento do documentário “Heróis não renunciam”, tendo o também sócio Joel Leão como produtor e diretor. O filme retrata a passagem da Coluna Prestes pelo Estado de Mato Grosso em 1926 e destaca a resistência oferecida pelos chamados “batalhões patrióticos” àquele grupamento militar.
Aproveito o lançamento do filme para me aprofundar um pouco mais na própria Coluna Prestes e sua importância na História do Brasil e, em particular, de Mato Grosso. Foi um dos episódios mais relevantes da primeira metade do século XX no Brasil. Teve relação direta com os movimentos políticos da Reação Republicana liderada por Nilo Peçanha e a própria Aliança Liberal.
O Estado de Mato Grosso teve uma participação importante na marcha realizada pela Coluna. Primeiro porque foi um dos Estados no qual eles mais andaram, dada a sua extensão territorial de então, que incluía os atuais Estados de Mato Grosso do Sul e Rondônia. Foram 2 mil km dos cerca de 25 mil km estimados para a Coluna nos 13 Estados atravessados.
Segundo porque eles passaram por aqui em duas ocasiões. Logo após o encontro em Foz do Iguaçu, no Paraná, da Coluna de Prestes vindo do Rio Grande do Sul e de Miguel Costa de São Paulo. Eles foram em direção ao Paraguai e percorreram boa parte da região sul do “velho Mato Grosso”, partindo em seguida na direção de Goiás. Depois, passaram por aqui na volta, no final de 1926 e começo de 1927, em direção a Bolívia, tanto com a Coluna principal quanto com o chamado “périplo de Siqueira Campos”.
Personagens importantes para história regional como o Marechal Rondon e o então coronel Bertoldo Klinger tiveram papel de destaque nestas passagens. O Marechal Rondon teve a oportunidade de comandar as tropas legalistas contra a Coluna na região de Catanduvas (PR) e Bertoldo Klinger foi um perseguidor implacável dos chamados “rebeldes” não apenas em Mato Grosso, mas também no vizinho Estado de Goiás.
Algo interessante é que o estado-maior da coluna planejou a invasão de Mato Grosso, inicialmente por Três Lagoas, visando a criação de uma outra república, que eles denominaram de Estado Livre do Sul ou Brasilândia. Eles entendiam que a maior parte dos militares na região eram favoráveis à causa da Coluna e que, portanto, manifestariam adesão ao movimento. Desta forma, eles teriam um recurso de poder importante para negociar com Artur Bernardes. Foi mais um episódio na longa história do separatismo no Estado, que culminou com a emancipação de Mato Grosso do Sul, em 1979. Só para relembrar, menciono a proclamação da República Transatlântica em Corumbá em 1892, como parte dos levantes militares do começo da República.
Os ecos deste período ainda estão presentes no Estado, com o município de Brasilândia (MS), próximo a Três Lagoas e Nova Brasilândia (MT), na região de Chapada dos Guimarães. A produção é, portanto, uma contribuição importante para melhor compreensão deste importante momento histórico em Mato Grosso. Parabenizo novamente todos os responsáveis pela sua produção e recomendo aos interessados no tema.
Vinicius de Carvalho Araújo é gestor governamental do Estado, mestre em História Política, professor universitário escreve neste blog toda segunda-feira - vcaraujo@terra.com.br www.professorviniciusaraujo.blogspot.com
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