quinta-feira, 17 de maio de 2012
Namoro, compromisso de quem? De quê?
Maria do Horto Palma Moraes
Fala-se tão pouco em namoro nos dias de hoje! Por outro lado, é um desejo de todos os jovens ter um namorado ou namorada. Ninguém quer ficar sozinho. O que mais se ouve falar é em “ficar”. Essa relação não traz nenhum suporte para o conhecimento mútuo e muito menos para um “vínculo afetivo”.
Somos seres humanos, necessitamos de vínculos afetivos. Vínculo com a mãe, com o pai, irmãos, irmãs, amigos e principalmente com um parceiro ou parceira. É sofrido viver sozinho neste mundo. Diria que quase impossível!
Para sermos aceitos pelo mundo, precisamos ser aceitos por alguém. E quando adultos, precisamos ser aceitos por “alguém em especial”. Não somos ninguém sem “um alguém”. Sempre foi assim. A forma de buscar esse alguém mudou de uns tempos para cá: primeiro “ficar”, depois namorar.
Se por um lado “ficar” faz parte da liberdade de relacionamento do jovem de hoje, por outro, se não houver expectativa e fantasias exageradas, pode ser o primeiro passo do namoro.Namoro, no entanto, é compromisso. Compromisso de quem? De quê? De se propor a conhecer melhor alguém que você está “encarando” como especial, que mexe com seus sentimentos, dá vontade de ficar junto, que lhe dá ânimo para viver seu dia-a-dia, energia para fazer o que tem que ser feito e ser aceito pelo mundo, além de uma forte atração sexual, natural entre um homem e uma mulher.
O namoro tem fases que os namorados vivenciam de uma forma inconsciente. Essas fases se perpassam ou predominam em momentos diferentes. Por isso há tantos rompimentos, tantas frustrações e dificuldades com os vínculos.
A primeira fase é extasiante, porque nela só se vêem os “its”, as qualidades do outro, aquilo que nos harmoniza, que nos dá afinidade com aquela pessoa. É complementar.
A segunda fase é onde se dão os rompimentos, pois nela percebemos os defeitos do outro, “vão caindo as fichas”, vão se percebendo os pontos de discordância, as diferenças individuais, os opostos entre ambos.A terceira fase é a que se chama de “afinação”. Assim como se afina um instrumento para emitir um som harmônico, precisa-se afinar nossa relação com o outro para ela se tornar harmônica e recíproca. É aí que acontece o contato de ressonância, a verdadeira relação amorosa.
A quarta fase é a da “tentativa de posse um do outro”. É o momento de descobrirmos os “mecanismos de defesa” que usamos para ter um alguém, principalmente, a fixação e a rejeição. Se nos fixamos, somos apegados, isso não é amor. Se somos rejeitados, a tendência é rejeitar também, isso é aversão.
Também podemos desejar ser amados, mas não retribuir, na mesma intensidade, e até sermos indiferentes com o parceiro ou parceira, porque aí o importante é ser amado e não amar. Nesta fase se dá a explosão, o amor acontece - quando um consegue viver, conviver e amar o outro com as suas diferenças e afinidades. Conscientizando os mecanismos que usamos, poderemos construir vínculos amorosos saudáveis.
A relação amorosa, para ser satisfatório, tem que ser “complementar e oposta”, tanto que geralmente escolhemos “alguém” com temperamento oposto ao nosso. Quando o “oposto e o complementar” pulsam, acontece a outra fase.
A quinta fase é a de “comunhão a dois”, onde se descobre o “comum” entre os dois: desejos, metas, objetivos, sonhos. Percebe-se então as possibilidades, o valor e o prazer de crescer e viver juntos com o apoio, o respeito e o amor de um pelo oposto complementar, que é o outro. “Buscar um alguém” e “ser um alguém” não é um capricho ou espírito de aventura. Buscamos um alguém, porque é impulso da energia - princípio de vida - que existe em nós, que é expansivo e dirigido para o outro.
A pessoa amada, porém, é o símbolo, uma parcela do que realmente buscamos: o ser total, a globalidade, a plenitude, a vida mais sublime e infinita, a experiência de identificação, fusão e paz no todo. Amar é a essência do nosso viver. Namorar é a possibilidade de realização dessa essência.
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Maria do Horto Palma Moraes psicóloga clínica. mhpmoraes@terra.com.br
Artigo publicado no Jornal Mundo Jovem - edição 317 - junho 2001.
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