FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA
Num universo de 4,1 milhões de redação do Enem 2012, cerca de 300 textos apresentaram algum tipo de "inserção indevida": trechos aleatórios e citações desconexas com o tema do ano passado --movimento imigratório para o Brasil no século 21.
A irreverência do aluno, no entanto, não justifica uma nota zero, afirma o Inep, órgão do Ministério da Educação responsável pelo exame.
Editoria de Arte/Folhapress
Um aluno que usou um trecho de hino do Palmeiras em um dos parágrafos da prova recebeu nota 500, por exemplo. A nota máxima é 1.000.
"As capitais, praias e as maiores cidades são os alvos mais frequentes dos imigrantes, porque quando surge o alviverde imponente no gramado onde a luta o aguarda, sabe bem o que vem pela frente e que a dureza do prélio não tarda", afirma trecho do texto, em referência ao hino do Palmeiras.
A homenagem ao time ocupou parte de um dos quatro parágrafos do texto --os demais, seguiram o tema sugerido. Para o Inep, as palavras e expressões usadas estão "em estilo inadequado" e por isso o aluno foi penalizado.
"Retirando-se do texto os trechos do hino transcrito pelo participante, ainda restaram ideias e argumentos aproveitáveis ao desenvolvimento do tema", afirma nota técnica do órgão a qual a Folha teve acesso.
"A nota final, relativamente baixa, deve-se também aos numerosos erros de adequação da linguagem à escrita padrão", completa a nota.
RECEITA
Argumento semelhante foi dado para justificar a pontuação de redação que citou receita de Miojo, como revelou ontem o jornal "O Globo". A escolha do aluno foi considerada "inoportuna e inadequada" --a pontuação final nesse caso foi 560.
"Acrescente-se ainda que o texto, em sua totalidade, não fugiu ao tema, e não feriu os direitos humanos. Tampouco cabe dizer que o participante teve a intenção de anular sua redação, uma vez que dissertou sobre o tema e não usou palavras ofensivas", justificou o MEC.
Professores de redação, entretanto, ponderam que a nota dada ainda é muito alta. "No mínimo, o aluno não está levando a sério o trabalho de avaliação do Enem, o que já deveria ser motivo de repreensão", afirma Waldson Muniz, professor de português do ensino médio do colégio Galois, em Brasília.
"E ele fugiu completamente do assunto. É como se eu estivesse numa entrevista e começasse a falar de futebol. Onde está a sequência do raciocínio?", questiona.
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