segunda-feira, 25 de março de 2013

Novo Sistema de Ensino ainda causa polêmica em Salvador

Adalton dos Anjos

Ag. A TARDE



Livros que compõem os kits adquiridos pela Prefeitura para a rede municipal

Um mês após a paralisação de 48h dos professores da Rede Municipal de Salvador por conta da implantação do Sistema de Ensino do Instituto Alfa e Beto, a nova metodologia ainda causa polêmica entre os docentes. Os educadores devolveram, segundo a Secretaria Municipal da Educação, 562 maletas das 3.780 distribuídas no início do ano, por não concordarem com o método e conteúdos expostos nos kits. O investimento total da prefeitura para adquirir o material foi de R$ 12 milhões.

Ao longo de todo este mês, a APLB vem realizando seminários e reuniões entre professores da Rede Municipal e outros profissionais da área da Educação para questionar a proposta pedagógica do novo sistema de ensino. Na próxima segunda, dia 25, uma sessão especial na Câmara de Vereadores discutirá o novo método adotado para as escolas públicas soteropolitanas. O presidente da Comissão de Educação da Câmara, Silvio Humberto (PSB), informou aos professores que convidará o Secretário Municipal da Educação, João Carlos Bacelar, para participar da sessão.

Os professores da Rede Municipal afirmam que o material, que faz parte da Operação Alfabetiza Salvador, não respeita a individualidade dos alunos, a identidade das escolas municipais baianas e ainda tem textos com conteúdo homofóbico e racista. "Estamos chamando atenção para os valores que estão arraigados aqui dentro e os valores fazem parte da metodologia", afirma a Diretora de Educação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), Jacilene Nascimento.

A APLB também questiona o fato da prefeitura não ter consultado os professores antes da licitação para o sistema que pretende alfabetizar os alunos em seis anos - dois a menos do que prevê o Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, do Ministério da Educação.

A Secretaria Municipal da Educação, ao ser questionada sobre as críticas feitas pelos professores, informou - através de sua assessoria de imprensa - que o material já foi usado em mais de 700 municípios brasileiros e as polêmicas nunca foram levantadas. Ainda segundo o órgão, as críticas pertinentes foram encaminhadas ao Instituto Alfa e Beto, mas "cabe à própria Secretaria trazer a identidade da Rede e da Cidade para a sala de aula e não a um Sistema de Ensino que cobre todo o território nacional". Por conta disso, durante os encontros ao longo do ano letivo, a Secretaria orientará os professores a substituírem os textos "que não estejam alinhados com a identidade soteropolitana".

Tecnicista - A TARDE enviou ao professor titular do mestrado e doutorado em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Elizeu Clementino, uma maleta com os materiais didáticos do 1º ao 5º ano, que foram distribuídos nas escolas municipais, e ele identificou alguns equívocos no kit. "O material é curto, raso, parte do conceito de alfabetização fonética e não discutem o letramento" afirma o docente, que ainda completa: "É um pacote pronto, engessado, tecnicista. O professor é apenas um instrutor e deve cumprir metas".

Elizeu também identificou problemas relacionados ao conteúdo do material. "Desrespeita a autonomia do aluno, do professor e o histórico da Rede. Há preconceito em relação à nossa cultura", declara.

Instituto Alfa e Beto - O presidente do Instituto Alfa e Beto (IAB), João Batista Oliveira, afirma que não recebeu comunicação formal sobre as reclamações dos professores de Salvador. "Nossos materiais circulam em milhares de escolas há vários anos e nunca nos chegou nenhuma informação ou crítica", declara.

Oliveira ainda salienta que as escolhas metodológicas dos materiais do IAB são baseadas em evidências científicas sobre o que funciona. O pedagogo, no entanto, não descarta a possibilidade de examinar eventuais erros. "É claro que estamos abertos ao diálogo e aprimoramento - desde que sejam apresentados formalmente e de forma apropriada", conclui.

Incentivos - Para incentivar o uso dos materiais, a Prefeitura publicou no Decreto 23.810/2013, que criou a Operação Salvador Alfabetiza, que graticará mensalmente os professores, coordenadores pedagógicos e supervisores que utilizarem os kits e participarem de reuniões aos sábados, com benefícios de R$ 300 até R$ 900. Quanto ao material que foi devolvido pelos professores, a Secretaria informa que ele não poderá ser reenviado ao Instituto e será usado na formação dos professores das escolas que aderirem ao Sistema. As escolas terão até o próximo dia 28 de março para entregar o termo de adesão ao sistema à Prefeitura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário