sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Doutrinas

Maria Regina Canhos Vicentin - contato@mariaregina.com.br
Psicóloga, bacharel em direito, pós-graduada em educação, especialista em psicologia clínica e jurídica, e escritora de livros, além de ser colaboradora de diversos jornais e revistas do país.

Dias atrás li um artigo que tratava sobre uma doutrina religiosa e afirmava que ela deveria servir para promover o ser humano e não aprisioná-lo a erros passados. Concordei inteiramente. Fiz um paralelo com o catolicismo, e as mudanças que foram implementadas de uns anos para cá, substituindo a ideia de um Deus castigador pela de um Deus amoroso, um verdadeiro Pai. Penso que a religião; as doutrinas; precisam servir para amparar a humanidade, promovê-la, auxiliá-la mostrando o caminho, a direção, e não precipitando os indivíduos num mar de culpa e remorso, onde as pessoas se sentem paralisadas e diminuídas. O erro existe sim, e faz parte do aprendizado. Não há como assimilar o conteúdo de uma disciplina sem ensaios, sem testes, sem experimentação. A própria experiência religiosa é experimentação. Você se inclina ao insondável e verifica se consegue sentir algo, se algo faz sentido para você. Existe o encontro daquele que anseia com Aquele que é o próprio anseio, porque Dele somos provenientes.

A doutrina precisa amparar, estimular, ensinar, motivar. Erros são naturais. Fracassos fazem parte. Não podemos nos fixar nos erros, nos fracassos, nas falhas. São necessários e fazem parte do aprendizado, mas não podem ser supervalorizados. A evolução do ser humano é que deve ser priorizada. Evolução que se dá cada vez que um ensinamento é assimilado, aprendido. E esse ensinamento só é assimilado quando se traduz numa mudança de vida, numa mudança de olhar, numa mudança de atitude para com o próximo e para consigo mesmo. As coisas velhas vão ficando para trás, e a gente se reveste do “homem novo”; uma nova identidade, pois nos identificamos com outras coisas, coisas melhores.

Focalizar o erro é o mesmo que ficar estagnado. A culpa e o remorso paralisam os passos daquele que deseja seguir em frente. Nessas situações, faz-se necessário o emprego do perdão. O perdão é a chave; é o passaporte para a próxima estação, o próximo degrau. Sem perdão não temos como prosseguir, mas, com perdão, avançamos.

Sem dúvida, precisamos de muitos momentos críticos para aprender e avançar. A mesmice pode confortar, porém nos mantêm em nosso comodismo. Os desafios da vida costumam doer, mas têm a função de apontar novos caminhos e o tão esperado progresso espiritual. Ninguém fica melhor sem trabalhar a sua condição interna; as suas habilidades, as suas atitudes, o seu caráter.

As doutrinas devem servir para isso. Alicerçar o nosso progresso espiritual. Não se iludam com a possibilidade politeísta, pois Deus é um só. E sendo Um, agrega a todos, queiramos ou não. Vejo debates, por vezes acalorados, numa feira de vaidades que remete ao vazio. Para quê dispersar energia em contendas se a finalidade é a mesma? Promover o ser humano; fazê-lo melhor, mais amoroso, mais consciente de suas falhas e necessidade de aprendizado. Acompanho um vale-tudo na disputa de fiéis, e me pergunto: para quê?
O assunto demanda reflexão. As doutrinas podem ser muitas, mas Deus é apenas um. Avalie se a fé que professa o está auxiliando a ser melhor, menos ganancioso, menos fanático, mais amoroso e compreensivo. Deus transcende em muito as doutrinas, mas precisa estar presente nelas para que conquistemos, um dia, a unidade.

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