segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O que o aluno espera do professor

Helio Marques - helio@nota10.com.br
Jornalista, diretor do Site Nota 10.

Há professores de todo tipo. E todo tipo de professor. E é essa diversidade que encanta os alunos. É certo que essa miscelânea de jeitos também pode despertar a ojeriza, mas no geral esse “tudo junto e misturado” pode contribuir para o aprendizado.

Uma pesquisa, divulgada nesta quarta-feira (7), durante o Salamundo – evento do Instituto Positivo que reuniu cerca de 2 mil profissionais de educação em Curitiba – avaliou alguns dos principais fatores que influenciam o desempenho escolar. O interessante é que o resultado se deu pela perspectiva dos próprios alunos.

E, de forma bastante resumida, mostra o que os alunos esperam de um professor. A pesquisa é salutar, já que muitos e muitos professores realmente gostariam de ter esse tipo de orientação, antes de entrar em sala.
E não digo isso apenas me referindo aos novatos, mas àqueles que têm anos de experiência, que às vezes ficam em dúvida se estão conduzindo de forma adequada esta ou aquela turma. Sim, porque uma nunca é igual a outra. E o que você faz em uma pode não surtir efeito em outra.

A pesquisa relacionou 13 pontos de destaque. Vou, de forma bastante sintética, relacionar alguns deles aqui, como forma de dar minha contribuição para aqueles que tiverem paciência de ler este texto até o fim.
Quero começar por um item que é calcanhar de Aquiles de muito professor e professora em sala de aula: a bagunça. É raro, mas não impossível, encontrar uma turma quieta. Veja que não disse silenciosa, disse quieta, que é um meio-termo entre a muda e a que promove algazarra. O sonho de muito professor é ter uma turma quieta, que às vezes sobe os decibéis, mas sabe voltar ao prumo na hora certa.

Pois a pesquisa mostra que os estudantes entrevistados – foram de quatro escolas particulares – gostariam de ter um professor que “botasse moral” – para usar um termo que aparece no levantamento – e mandasse o bagunceiro ficar quieto e, até mesmo, pedisse com educação para que fosse ver se estava chovendo lá fora. Não querem um mandão, mas um que se importe com quem está interessado na disciplina.

Os alunos também não gostam do tipo de professor que só fala, que fica no blá, blá, blá o tempo todo. Querem um professor que interaja com a turma. Aquele negócio de despejar sobre a turma todo o conhecimento, num grande monólogo, não tem mais vez. A turma quer discutir, participar. E há algumas correntes pedagógicas que dizem que é assim que se aprende.

Outro ponto levantado na pesquisa diz que os alunos querem aulas interessantes, com a utilização de mídias variadas, incluindo vídeos. Aí vejo um ponto importante: quando a turma se mostra interessada pela aula, o professor se vê motivado a prepará-la bem. E essa troca é magnífica. É o suprassumo ter alunos ávidos por aprender. Mas, se numa situação dessa, o professor tira do bolso um calhamaço de papel amarelado, fica no blá, blá, blá e deixa de mostrar coisas interessantes, não há turma que resista, por mais que se esforce.

As aulas têm que ser instigantes, surpreendentes pois, depois de um tempo, o aluno já conhece o jeitão do professor e até já sabe como vai ser. Surpreender é a palavra-chave. Mas não basta recorrer ao YouTube e caçar um punhado de vídeos engraçados. Não é nem preciso dizer que eles têm que ser relacionados com o assunto da aula e que os comentários posteriores sejam motivadores e inebriantes também.

Parece difícil preparar uma aula surpreendente? Pode ser, mas é essa “dificuldade” que resultará numa boa aula, pois a inegável falta de tempo sempre nos levará a ter momentos desmotivadores, em que os alunos olharão mais para o relógio do que para a lousa. Para prender a atenção deles é preciso empenho.

Na pesquisa os alunos responderam que gostariam ainda que o professor fosse descontraído, estimulasse os alunos, cobrasse e elogiasse ao mesmo tempo, criasse vínculo, amizade e, claro, tivesse Facebook. Não, os alunos não estão pedindo demais. Mas se você nunca viu a frase “No que você está pensando” pode começar a se apavorar!

Dominar o conteúdo é um dos itens que os alunos solicitaram na pesquisa. E, agora, você há de concordar comigo, que eles não pediram nada de mais. Só um professor que saiba, de A a Z, todo o conteúdo daquilo que se propôs a ensinar. Pois há quem diga que a turma respeita mais o professor que tem domínio, “que explica sem precisar olhar muito no livro”. Básico.

Eu mesmo, quando fazia a 5.ª série (naquela época era série!) do ensino fundamental, o tal do ginasial, tive uma professora de Matemática que me intrigava. Não conseguia imaginar como ela sabia tantas coisas da matéria. Era do tipo que não deixava nenhuma pergunta sem resposta, nem saía pela tangente.

Por muitas vezes imaginava se deixava de ver novela para preparar os exercícios ou fazia o marido passar fome, sem jantar. Era uma devoradora de números, cujos filhos por pouco não se chamaram Cosseno, Bháskara e Hipotenusa. Depois descobri que adorava o seu jeito de dar aula, de envolver a turma, de tentar quebrar a barreira que separa os mortais dos que entendem Matemática.

E como esta disciplina é tida por “difícil” pela maioria dos estudantes, os alunos responderam na pesquisa que gostariam de ter um professor paciente para tirar dúvidas e que não dissesse sempre “já expliquei!”. E fizesse provas justas e desse revisão prévia.

Para finalizar o 13.º ponto levantado na pesquisa, os estudantes gostariam de um professor que trouxesse conteúdos além do material da escola e apresentasse exemplos realistas.

Se olharmos, um por um desses itens, veremos que eles não querem nada de mais. Só aprender com alguém que, em suma, ame o que faz.

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