segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Ser pai é...

FÁBIO MONTEIRO

Há algum tempo escrevi um artigo contando minha recente experiência de ser pai. O texto relatava algumas passagens marcantes dessa nova fase em que vivia na época em que a minha primeira filha, a Júlia, nasceu. Quase quatro anos depois, ainda descubro coisas incríveis nesse ofício paternal.

A paternidade é para o homem um fenômeno mais emocional do que físico. Não é uma tarefa fácil, principalmente diante da vigilância de uma sociedade maniqueísta que cobra estabilidade e perfeição de um personagem que é, essencialmente, humano. Porém, é a sensação quase divina que temos de amar sem precisar ser correspondido, ensinar, mesmo tendo aprendido pouco e acionar o que considera melhor para seu filho, às vezes tomado pelo próprio medo sem saber se realmente é o melhor.

Mesmo já não sendo um neófito nesse assunto, ao nascer a segunda filha, Valentina, de pouco valeram as experiências já vividas, porque esse novo ser já era uma nova e linda aventura que iria encarar. O amor é o mesmo, mas as formas de lidar foram diferentes e me senti pai pela primeira vez novamente. E pela segunda vez, a felicidade plena.

Duas meninas em minha vida. Dois seres que vingam a candura de minha infância onde as brincadeiras de meninos não permitiam garotas. Hoje eu uso arco e presilhas no cabelo, passo batom e maquiagem, escolho vestidos, faço penteados exuberantes, conheço todas as princesas, brinco de boneca, pinto as unhas, viro mãe, pai, avô, aluno e filho. Nessas transformações diárias, passo a ser o personagem principal das histórias que elas criam em seus cenários lúdicos, de escola a salão de beleza, onde tudo se transforma em segundos.

Nessas horas lembro-me de minha infância quando meu pai me colocava em pé em sua moto e imaginava que poderia voar, me deixava andar na carroceria de sua caminhonete só para sentir o vento bater no rosto e secar a garganta. Me levava ao futebol, pescaria, fazenda, para andar de bicicleta no estacionamento do Verdão e trazia figurinhas para meu álbum quando voltava do trabalho. As lembranças da nossa infância são inevitáveis quando temos filhos e acredito que esteja aí a alegria de ser avô. Fatos trazidos na memória duplicados em amor e dedicação. E nesse ofício meu velho também é bom.

Vivo a felicidade nestes quatro anos que me descobri pai. O sentimento de amor é tão grande que tenho a honra e prazer de dividir com meus sete afilhados. A Bianca, hoje com 17 anos e que vivia em nossa casa, mesmo antes de eu constituir uma família. O Matheus, que além de afilhado é meu primeiro sobrinho. Ele adora futebol e pendurar em minhas longas pernas. De surpresa, somos presenteados com a linda Mariá, uma loirinha meiga que só me dá beijos à base de cócegas e hoje, com 3 anos, fica flertando comigo esperando meus dedos em sua barriguinha. Tenho a honra de ser o padrinho da linda Stella, fruto de um casal de grandes amigos e que antes de completar dois anos, já mostra seu talento na dança e bom humor. Ganhei um novo sobrinho e, ao mesmo tempo, um afilhado lindíssimo, o Miguel. Ele adora correr pela casa e subir em tudo, além de ser muito menino para não chorar quando seus planos arteiros não dão certos. Também tenho uma filha de olhos azuis. A Cecília entrou em nossa vida para mostrar que a beleza exterior de nada vale se não conhece o Ser que existe ali. Nesse caso, que belo ser.

Nesta semana, inesperadamente me tornei padrinho de mais uma menina, a Amanda, que ao completar seus 14 anos, me convidou para ser seu padrinho de Crisma. Uma menina loira e linda, com quem convivo há 12 anos e sempre esteve presente em nossas vidas. A Amanda eu atribuo a vontade de ser pai, pois me deixou treinar com ela essa virtude.

Enfim, como não poderia estar feliz hoje? Em véspera do Dia dos Pais contabilizo nove filhos. Às vezes fico imaginando se esse amor transcendesse as ligações sanguíneas, parentais ou até mesmo dos sacramentos. Talvez um dia esse amor que todo pai sente por seu filho nos torne pessoas melhores a cada dia e, com uma ampliação de consciência, reconhecer o filho dos outros e assim por diante, até o dia em que todos poderão viver em felicidade plena, por sentir o amor representado no criador por sua criatura.



*FÁBIO MONTEIRO é pai, jornalista e ouvidor-geral da Assembleia Legislativa de Mato Grosso

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