A educação do povo japonês chama a atenção do mundo (Março/2011)
Dentre todas as imagens do terremoto, seguido de tsunami, e pela maior de todas as temeridades, a radioatividade, ocorrida no Japão, aquela que mostrou um grupo de crianças acompanhadas apenas por uma professora, que aguardavam calmamente o socorro é a mais significativa para quem trabalha ou vive a educação.Que o povo japonês deu exemplo de civilidade diante da tragédia em escala crescente, ninguém tem dúvidas. Sabemos que as tragédias são os momentos de conhecermos verdadeiramente a personalidade de uma pessoa.
É praticamente impensável para nós brasileiros, compreender como nenhum jornalista estrangeiro, dentre os milhares que lá estavam e foram para fazer cobertura, presenciou ou noticiou pessoas tentando furar a fila da comida, do supermercado ou do atendimento à saúde.Aliás, a calma e as lágrimas transpareciam no rosto de todos os entrevistados e era, invariavelmente apontada como a característica mais marcante daquele povo que bem poderia ser qualificado como sofrido.Mas aquela imagem de uma dezena de crianças pequenas, sentadas tranquilamente num barco, visualizando os destroços de sua cidade, aguardando o socorro, sem chorar, nem gritar é a prova de que elas, as crianças, estavam sentindo-se em segurança com sua professora.A imagem revela ainda que o conceito e os resultados em educação para a nação japonesa são infinitamente diferentes dos brasileiros. Num olhar superficial já era possível detectar que aquela sociedade efetivamente valoriza o papel da professora e do professor.
Significa dizer que, além de ter a confiança da sociedade e o compromisso com a segurança e a integridade física e psicológica de seus alunos, a professora teve autocontrole e autodisciplina para, assim como milhares de outros japoneses, fazer a sua parte.Nem seria necessário dizer que se tratava de uma professora e sua turma sendo socorrida, mas os jornalistas mostravam e fizeram questão de registrar, que crianças estavam calmas e tranqüilas. Aliás, a cada dia são vistas novas imagens da destruição de parte do Japão, mas não se viu face de japonês desesperado, aos berros culpando a tudo e a todos por suas tragédias.A imagem do país destruído contrasta com a calma do povo japonês diante de tanta desgraça.
A justificativa seria a de que se trata de um povo acostumado e treinado para lidar com terremotos. Vale lembrar que a palavra tsunami é japonesa. Mas será mesmo possível treinar alguém para viver este tipo de situação e mesmo assim continuar solidário, aguardar calmamente na fila seu bolinho de arroz, o único alimento de dias?A julgar pela imagem da professora e seus alunos, a escola no Japão é o lugar sagrado da construção do autoconhecimento, da autodisciplina, da civilidade e, é claro, do conhecimento científico. Ciência esta que legou prédios, pontes e casas que resistem a terremotos muito intensos e que possibilitou ainda a construção das usinas nucleares próximas demais da costa que poderia ser e foi atingida, por uma tsunami.Alguns céticos diriam que o desenvolvimento de tecnologias que possibilitaram a instalação e o crescimento do país em região sujeita a terremotos e tsunamis, já seria prova bastante de que a escola, no Japão, cumpre seu papel. Mas ao ver as imagens e observar a feição dos japoneses, é possível inferir que a escola japonesa ensina muito mais do que conhecimento científico. Lá se aprende e se ensina civilidade, cidadania, solidariedade, autoconfiança, autodisciplina e, para complementar, ciência...
Jornal da Educação - Edição nº246 - Março/2011
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