''Professores que atuam em escolas vulneráveis também são vitimados''
Ocimara Balmant - O Estado de S.Paulo
ANGÉLICA FUENZALIDA, diretora do Mejor Escuela
Angélica Fuenzalida, diretora do Mejor Escuela, programa chileno que atende a escolas com baixo rendimento instaladas em regiões de vulnerabilidade social, esteve no Brasil para falar de sua experiência em seminário sobre gestão escolar, organizado pela Fundação Lemann. A seguir, entrevista que concedeu ao Estado.
Como funciona o programa?
Nossa tarefa é propor um plano de ação com diretores e professores e oferecer ferramentas criativas para que eles cumpram o que prevê o currículo nacional do Chile.
E eles recebem bem a ideia?
Em geral, os professores que atuam nessas escolas também são vitimados. Além de cumprir uma carga horária alta e muitas vezes não ter tempo de preparar aula, trabalhar em sistema de pobreza também implica em mais dificuldade para organizar a turma. Então, no começo, alguns estranham. Mas, quando veem os resultados, a resistência se transforma em abertura.
Como o projeto foi formatado?
Durante três anos, de 2002 a 2005, fizemos um piloto com dez escolas, o que permitiu provar o modelo e fazer os ajustes. O currículo nacional, por exemplo, prevê que todos os alunos saibam ler no fim do primeiro ano. Nas escolas que atendemos, isso não ocorria. Propusemos aos professores um método prático, com material educativo e ferramentas concretas.
Quais foram os resultados?
Na avaliação nacional, vemos que as escolas demoram três ou quatro anos para subir três pontos. As atendidas pelo Mejor Escuela subiram, nesse tempo, seis pontos em português e oito em matemática.
De quanto tempo é preciso?
Ficamos quatro anos gerando capacidade e ajudando a escola a fazer uma transformação de suas práticas e de seus processos. Depois disso, prevemos que ela tenha autonomia. Nossa experiência mostra que, a cada dez escolas, duas não conseguem manter os resultados.
Por quê?
Porque houve mudança estrutural. Em uma escola, por exemplo, retiraram o diretor da escola e o mandaram para outra. Isso, claro, desarmou uma forma de funcionamento. A mudança é normal, mas é preciso esperar que o processo termine.
Dá para aplicar no Brasil?
O sistema brasileiro é diferente. No Chile, temos um currículo nacional obrigatório. Professores se submetem a uma avaliação e escolas são medidas pelo mesmo instrumento. No Brasil, o fato de não haver um currículo nacional traz liberdade, mas faz com que não se tenha controle sobre o que ocorre na escola.
QUEM É
ANGÉLICA FUENZALIDA
DIRETORA DO PROGRAMA CHILENO MEJOR ESCUELA
Assistente social formada pela Pontifica Universidad Católica de Chile, mestre em Gestão e Políticas Públicas pela Universidad de Chile, professora de mestrado na Universidade Central e na Universidade Católica Silva Henríquez.
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