segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Sala de aula digital e professor hightech, um sonho possível

 

Se olharmos para os dados apontados pelo Banco Mundial, a educação no Brasil já apresenta alguns dados estimulantes. Afinal, somos o país que mais rapidamente aumentou a escolaridade média da população entre 1990 e 2010, passando de 5,6 para 7,2 anos, tomando o recorde que era da China. Também somos um dos países com o maior avanço no aprendizado dos alunos, medido pelo Pisa, no período de 2000 a 2009. Mas como sabemos, ainda há um longo caminho pela frente, repleto de desafios para que realmente tenhamos uma educação de melhor qualidade.

Em busca de tais melhorias, no Congresso, está em análise para votação um conjunto de metas da educação brasileira para os próximos 10 anos. Entre as várias propostas, constam a melhoria da qualidade dos ensinos Fundamental e Médio e o aumento dos recursos aplicados na área. Medidas essas, que inclusive, já foram anunciadas pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, como prioridades.

No meio de tais avanços está o desafio de se encontrar uma forma de ensinar alinhada à era digital, tema que incendeia debates e vai muito além das questões de investimento, passando, definitivamente, pela formação do professor. Um ponto que, na mesma medida, é decisivo e desafiador.

Afinal de contas, como se dá o uso da tecnologia em sala de aula? Ela ajuda ou atrapalha? A ideia de manter cerca de 30 alunos atentos todos os dias, por pelo menos cinco horas, somente com os recursos tradicionais parece não casar mais com a eficiência que precisamos. Hoje, muitos alunos têm acesso à internet, em casa ou em lan houses, fazendo com que aulas completamente “analógicas” não sejam estimulantes.

A solução mais rápida, então, seria democratizar o acesso a internet. Mas veja bem, seria apenas isso mesmo? É bem verdade que dois estudos inéditos demonstraram como a tecnologia ajudou a melhorar as notas. A Fundação Carlos Chagas, por exemplo, concluiu uma avaliação dos estudantes das escolas públicas do município de São José de Freitas (PI), que desde 2009 estudam com o apoio de lousas interativas, laptops individuais e softwares educativos. De acordo com o trabalho, os alunos melhoraram sua média de Matemática em 8,3 pontos, enquanto os que não usaram a tecnologia avançaram apenas 0,2 pontos.

O segundo caso, da Unesco, avaliou o desempenho de alunos de escolas públicas de Hortolândia (SP), que usaram salas de aula com lousa digital e um computador por aluno. O avanço foi de duas a sete vezes em relação aos colegas que estavam em salas comuns. No entanto, como toda questão tem dois lados, há de se ressaltar uma pesquisa do Ministério da Educação do Brasil, que mostrou que alunos que estudaram, por três anos, em escolas com computador estavam pelo menos seis meses atrasados no aprendizado em relação aos outros.

Dessa forma, fica a questão: o sucesso para que haja melhorias no aprendizado depende apenas da tecnologia? Não. Definitivamente, não adianta substituir caderno por notebook, quadro verde por lousa digital sem estratégia e conteúdos, sem aula preparada pelo professor de forma a contemplar a tecnologia. Não há dúvidas, a equação está finalizada e o sucesso da era digital do ensino ocorrerá somente quando duas ações ocorrerem simultaneamente: a inserção da tecnologia na sala de aula e um professor preparado para explorá-la ao lado de seus alunos.

Para finalizar, vale trazer para a discussão a pesquisadora do Ministério da Educação e Cultura do Brasil (MEC), Elza Cruz, candidata ao título de PhD no curso de Design e Tecnologia Instrucional da Universidade Virginia Tech. Para ela, disponibilizar tecnologia não significa implementá-la de forma eficaz, pois há uma grande diferença entre seu uso no dia a dia e como uma ferramenta instrucional. Ou seja, um professor precisa ser preparado, de preferência, ainda durante seu processo de formação para o uso dessa ferramenta em sala de aula e quando isso não acontece o resultado é frustrante.

Fazer compras pela internet ou acessar as redes sociais não é critério para se dizer que alguém está pronto para lecionar em um ambiente digital. Tecnologia aplicada à Educação é significativa e envolve conhecimento nas áreas de teoria de ensino e aprendizagem associados ao uso de tecnologia da comunicação. Inserir o uso das novas possibilidades digitais na formação do professor se faz imprescindível e deve ser uma exigência dos programas de instituições de ensino.

Somente quando a tecnologia chegar à sala de aula e o professor estiver pronto para fazer o seu melhor uso, é que a Educação poderá mudar sua trajetória rumo a um novo padrão de qualidade.

Especialista em Tecnologia Educacional e durante os últimos sete anos atuou ativamente na implantação de Soluções Colaborativas e Interativas em Instituições de Ensino Privadas e da Rede Pública.

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