SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
A repatriação de cientistas brasileiros que atuam no exterior, proposta pelo ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, no início da sua gestão, pode não ser uma matemática simples.
De acordo com quem está fazendo ciência fora do Brasil, mesmo que exista vontade de voltar, a burocracia para se fazer pesquisa e a falta de competitividade nas universidades nacionais, diferentemente do que acontece nos EUA e na Europa, ainda são fatores de repulsa.
Divulgação
O brasileiro pesquisador Alysson Renato Muotri é biólogo da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos EUA
"No Brasil, os salários acadêmicos são iguais. Nos EUA, eu não ganho o mesmo salário que meus colegas. Há competitividade", diz o físico José Nelson Onuchic, professor da UCSD (Universidade da Califórnia, em San Diego).
Ele está há 21 anos nos EUA, país que, estima-se, tenha 3.000 professores brasileiros.
A opinião de Onuchic é compartilhada por outros pesquisadores, como Alysson Muotri, que também é UCSD, mas é biólogo.
Em entrevista à Folha, disse que "para algumas pessoas, o real patriotismo é abandonar as melhores condições de trabalho no exterior e voltar ao Brasil. Alguns dizem "vem aqui sofrer com a gente, vamos juntos tentar melhorar este país'".
Quem faz pesquisa por aqui concorda com as dificuldades. "A gente perde muito tempo por lidar com tanta atividade burocrática", diz o biólogo Stevens Rehen, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
"Mas quem sai tem que saber que existem oportunidades para se fazer pesquisa aqui. Estou no Brasil não só porque estudei em universidade pública, mas por valores", completa o biólogo.
Onuchic não pensa em voltar de vez ao Brasil, mas, para ele, uma alternativa possível seria passar alguns meses por aqui.
Essa solução é uma das ideias de Mercadante para a repatriação. Em entrevista exclusiva à Folha, ele disse que pretende criar, via agências de fomento, um formato de "bolsas-sanduíche" (bolsa de pesquisa de curto período no exterior) ao contrário.
Seriam bolsas de pesquisa oferecidas aos brasileiros no exterior para que eles passem um tempo fazendo pesquisa por aqui.
"O Brasil é um país agradável, provavelmente os cientistas acabariam retornando", acredita o ministro.
A ideia é criar, com as bolsas de curta duração, uma espécie de rede da "inteligência brasileira" no exterior.
Essa política está sendo tocada na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). "As redes ajudam. Mas temos trazido também cientistas com o Programa Jovem Pesquisador. Há repatriados e também estrangeiros", diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da fundação.
De acordo com ele, a Fapesp já apoiou mil pesquisadores com esse perfil nos últimos dez anos. "A maior parte deles ficou aqui", afirma Cruz. A Fapesp, no entanto, não tem os números exatos.
PRINCIPAIS RECLAMAÇÕES
Salários iguais
No Brasil, diferentemente dos EUA, os cientistas com mesma titulação ganham salários iguais, independentemente, por exemplo, da sua produtividade individual. Isso reduziria a competitividade. Para ter como base, um salário na USP é de cerca de R$ 11 mil, enquanto que em universidades de elite nos EUA, essa quantia vai para R$ 80 mil.
Dedicação exclusiva
Nas universidades públicas, os cientistas têm de trabalhar com dedicação exclusiva, em regime de 40 horas semanais, o que os impede de também atuar no mercado.
* Burocracia*
A burocracia brasileira ainda é fator de repulsa dos cientistas brasileiros, especialmente no financiamento de pesquisa ou importação de material (que pode levar até seis meses).
Leia reportagem completa na edição da Folha desta quarta-feira (2 de fevereiro)
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Salário igual "expulsa" cientistas brasileiros do país
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