domingo, 21 de agosto de 2011

Alunos vão direto ao mestrado

Destaques nacionais em matemática são convidados a começar estudos avançados antes mesmo da graduação. Os três começaram a estudar conteúdos além da série em que estavam matriculados ainda no ensino fundamental para participar de competições educacionais.

Todos acumulam prêmios nacionais e internacionais, os mais recentes da Competição Internacional de Matemática para Universidades, na Bulgária, no início de agosto. Das 13 medalhas da equipe brasileira, a única de ouro foi a do calouro da PUC do Rio, Renan, que já está no quarto semestre do mestrado no Instituto de Matemática Pura Aplicada (Impa).

“Na graduação, confesso que falto bastante, já vi quase tudo”, diz. Catarinense de Florianópolis, ele participou das Olimpíadas Brasileiras de Matemática desde a 6ª série, quando se mudou para Joinville com a família. Desde então, era convidado para a reunião anual de medalhistas no Rio de Janeiro e foi em uma delas que ouviu falar pela primeira vez na possibilidade de avançar nos estudos e iniciar pesquisas na área, mas não levou a sério. “Eu achava que era história fantástica, coisa para gênio, estrela”.

A precocidade começou aos 15 anos. Enquanto a maioria dos jovens só sai de casa para fazer faculdade, ele se mudou para cursar o ensino médio. “O colégio onde eu fiz o ginásio não me desafiava e pedi para morar em São Paulo, com uma tia. Ela me ensinou a me virar sozinho, fazer supermercado, cuidar da casa, etc.”

Ainda assim, Renan planejava seguir a ordem comum dos estudos. Em 2009, prestou a primeira fase do vestibular na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade de Campinas (Unicamp), mas foi convidado a ingressar no Impa e se mudou para o Rio antes mesmo da segunda etapa do processo seletivo nas instituições paulistas, em janeiro de 2010. “Vim experimentar o curso de verão e fiquei”, conta. Só em 2011 começou a graduação, que será exigida para validar seu diploma de mestrado. Hoje ele tem uma bolsa de estudos e divide apartamento com outros três alunos da pós-graduação de 25 e 26 anos.

“Meus amigos em geral são mais velhos, tanto em casa quanto nas aulas. Isso tem um lado bom e um ruim, como tudo quando se trata de relações humanas. Às vezes, sou meio bobo, mas acho que em geral amadureci mais rápido.” Outros que anteciparam etapas são Hugo e Matheus.

O primeiro é coetâneo e o segundo, ainda mais novo – todos três com muito em comum. Hugo saiu de Juiz de Fora para fazer o ensino médio no Rio e também é um dos representantes do Brasil em competições internacionais. Demorou um pouco mais a começar o mestrado e entrou primeiro na faculdade, por conselho da mãe, Maria Angélica Fonseca: “Eu sempre achava que era bobagem ele antecipar, pular etapas, mas ele foi convidado e gosta tanto do que estuda que se dedica de qualquer forma e acabei concordando”, conta ela, lembrando de quando o filho pediu para participar de uma competição pela primeira vez.

“Era de astronomia e ele estava no ginásio. Quando ele me falou, eu disse ‘mas você não entende nada disso’ e ele respondeu que sabia, tinha visto na TV. Então, foi lá, ganhou e foi representar o Brasil na Índia.” Matheus é o único que já morava no Rio. Desde o colegial acompanha algumas matérias do mestrado do Impa como “Introdução a teoria dos números” e “Tópicos de matemática discreta”, mas ainda não é aluno oficialmente. Em compensação, alterna as aulas que recebe na graduação com as que dá em um cursinho para interessados em treinamento para competições matemáticas.

“Não sou professor das aulas regulares, nem poderia, mas os que querem se aprofundar em matemática fazem aulas especiais comigo”, explica. Precedente de sucesso Antes dos três, Alex Correa Abreu antecipou o mestrado e o doutorado antes da graduação. “Comecei o mestrado aos 15 anos, na minha 8ª série. Primeiro só frequentava as aulas, depois veio a matrícula e em seguida o doutorado”, conta hoje com 25 anos. O que foi rápido na pós, ele demorou na faculdade.

Como faltava bastante no curso de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi reprovado algumas vezes e levou cinco semestres a mais para concluir o curso. “Fiz mais para poder oficializar o doutorado”, diz. Formado, ele foi chamado para ser professor pesquisador da Federal Fluminense, onde está atualmente. Poucas instituições no País permitem que estudantes de graduação acompanhem também aulas de mestrado e sempre em regime de exceção.

Fonte: ig.com.br / Cinthia Rodrigues

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