Meirevaldo Paiva
Reconhece-se o esforço do Ministério da Educação em tentar 'segurar' a freqüência escolar de um estudante brasileiro em sala de aula, mediante auxílio financeiro do Programa Bolsa Família.
Os objetivos, hoje, são praticamente os mesmos de outras épocas em que crianças e adolescentes eram retirados das ruas e substituídos por vagas nas escolas públicas. Assim se originaram as escolas técnicas industriais e profissionalizantes pelo Brasil afora.
Hoje, num contexto socioeconômico mais complexo, muitas são as tentativas para livrar literalmente as crianças e os adolescentes das situações de risco, que incluem fazer das ruas o caminho para a criminalidade, para a prostituição, para a escravidão, para a mendicância, enfim, paras as drogas.
Um caminho muitas vezes sem volta, porque as causas ainda não foram minimizadas. Ainda não foram objeto de concretas e eficazes políticas públicas que resguardem física, intelectual e espiritualmente as crianças e os adolescentes com suas famílias.
Causas que expressam pobrezas e misérias sociais em decorrência de indigências econômicas que fazem das famílias os reais contingentes de vidas improdutivas, por não terem instrumentos para se livrar desses males.
Mas os motivos apontados por que os estudantes faltam às aulas, por que desistem, por que fogem, por que não se interessam pela sala de aula denunciam objetivamente as condições em que eles vivem e sobrevivem com suas famílias, que pouco podem fazer para incentivar e motivar filhos a buscar a informação e o conhecimento escolar.
Doenças, gravidez precoce, difícil acesso à escola, falta de transporte adequado, precariedade de prédios escolares de um lado e de outro, diversos tipos de violência em que predominam a doméstica, a da exploração sexual e a das ruas.
Ressalte-se um outro motivo muito grave no Brasil: o trabalho infantil, que desarticula qualquer projeto familiar que instrumentaliza essa mão-de-obra por necessidade absoluta de sobrevivência.
Os pais e os responsáveis também foram motivos de os estudantes não comparecerem à escola. Dificilmente os pais, nesse contexto de pobreza socioeconômica, têm autoridade para mandar os filhos à escola, cercados que são pela desinformação, pela ignorância, enfim, por precisarem dos filhos para terem o que comer, daí as cenas degradantes que se testemunham pelo Brasil.
São cenas de crianças trocadas pela prostituição, pelo comércio das drogas e por tantos outros tipos de comércio que as tornam um lixo humano dos grandes centros urbanos.
Chama a atenção, porém, mais um motivo de desistência dos estudantes, ou seja, os que foram identificados sem motivos, o que é uma outra realidade que precisa ser mais bem avaliada pelas autoridades e pelos especialistas educacionais.
Milhares de crianças não comparecem à escola porque não querem estudar, porque são indiferentes à escola, porque não vêem na escola qualquer incentivo a uma possível mudança de vida. São crianças e adolescentes inteligentes, criativos, sadios, mas ignoram a escola. Nada os faz trocar as experiências das ruas pelas salas de aula que as consideram monótonas, tristes, enfadonhas e o dia de amanhã.
Esse contingente de alunos supera as estatísticas. Comparece à chamada escolar, mas desaparece rapidamente. E o problema, segundo os educadores, está mais na escola do que no aluno, que não tem as condições de análise para discernir sobre a importância da escola na vida produtiva da pessoa.
E os pais sabem perfeitamente que a vida fora da escola é mais atraente, mais dispersiva, mais aventureira e mais perigosa do que a escolar, com estudantes empobrecidos, doentes, desmotivados por professores também desestimulados pelos mesmos motivos que expulsam os alunos da escola.
Meirevaldo Paiva é educador
Artigo publicado em 25/08/2008 no Jornal O Liberal (Belém/PA)
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