domingo, 21 de agosto de 2011

O imaginário

em Reggio Emilia
Heide S. Miranda


No trabalho dos professores de Reggio Emilia, cidade do norte da Italia na Italia, se valoriza, dentre outras coisas, a observação, pois essa postura valoriza a atenção, a curiosidade, desafia o desejo de conhecer o mundo que a rodeia, educa esteticamente, além de interferir em muitos outros aspectos. Entendo que a mais importante capacidade humana é a de imaginar, e isso, na proposta desenvolvida em Reggio, tem em abundância, lá o elemento criativo é imenso, a começar das salas de aula que foram substituídas por grandes ateliês, ricos em objetos diversificados que aguçam o processo criativo e aumentam as experiências das crianças que manipulam desde sucatas como: botões, tecidos, velas, retalhos de papéis, diferentes tipos de grãos, sementes, pedaços de madeira, lã, etc., além de objetos comuns de ateliês: mesas de diferentes tipos, com luz no tampo, pincéis, diferentes tintas, cavaletes, tesouras, réguas, etc.

Esses recursos são utilizados pelas crianças sem censura, como: vidros, arames encapados, tesouras com pontas entre vários coisas apontadas por nós como perigosas. O papel do adulto, tanto o professor como o atelierista, no processo de construção e levantamento de hipóteses do pensar sobre algo é criar possibilidades de concretizar suas fantasias. Em um dos projetos “parque de pássaros”, as crianças imaginaram como seria fantástico se os pássaros também tivessem um parque de diversões, uma fonte para refrescar e outros brinquedos para alegrá-los. A função do adulto foi alimentar essa idéia e construir uma rede de parcerias: com a comunidade, imprensa, profissionais da área de construção dessa natureza, como encanador por exemplo e professores que utilizamos desenhos e idéias dos alunos e discutiam o processo de descoberta e desenvolvimento das crianças.

Esses professores encorajam seus alunos para as experiências que a princípio parecem inviáveis para a escola. Em Reggio os professores se utilizam dessas fantasias encorajando-os a discutir as possibilidades de realização de novos experimentos, com isso o professor se utiliza das explicações e falas para estudar o potencial infantil, cultivar e promover o processo criativo, apontar a importância do respeito às idéias do outro e entender que as crianças criam verdadeiras teorias a partir de suas observações e que a liberdade nas colocações de suas idéias levam-nos a falar de maneira extremamente poética. As experiências das crianças ganham registros variados, como: relatórios dos professores, artigos em jornais e revistas educacionais, documentação na escola contendo: desenhos das crianças, fala dos mesmos, relato do professor apontando o desenvolvimento do projeto e isso ganha uma importância incrível, pois tudo isso não fica enclausurado na escola, ganha as ruas, espaços públicos, então a criança entende que o que ela faz na escola é muito sério, pois outros vão aprender com o que eles aprenderam pesquisando, observando e trabalhando na escola.

Além disso, desde 1986, Reggio organiza uma mostra que corre o mundo, chamada “As cem linguagens”, onde as descobertas das crianças, são expostas em grandes painéis e corre o mundo: parte dessa mostra esteve no Brasil em setembro no instituto Tomie Otake e foi vista por muitos educadores, que como eu, se interessam por experiências educacionais, que tem a criança como protagonista e que entende a cultura como braço direito da educação.

Os trabalhos de Reggio não podem ser desperdiçadas nem ignoradas, por isso no próximo artigo vamos contar com mais detalhes um projeto muito interessante, intitulado “O monumento das cores”, que foi realizado, a partir de um estudo que crianças de Reggio de 10 anos antes tinham estudado, ou seja, outro aprendizado para nós: o que grupos anteriores aprenderam nâo devem ser inutilizados, mas utilizados como início de novas discussões, novos projetos.

Heide S. Miranda é Coordenadora Pedagógica do Programa Jornal na Educação do Diário da Região, de São José do Rio Preto/SP
Artigo publicado em www.diarioweb.com.br

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