domingo, 11 de setembro de 2011

ARTE - Tarsila do Amaral: a história da pintoraA artista e sua tela "Abaporu" tornaram-se símbolos nacionais

Texto Gisele Kato

O Abaporu é uma das pinturas-símbolo do Brasil Logo depois de tomar posse como a primeira presidente da história do país, Dilma Rousseff ­ fez ao Itamaraty um pedido algo incomum para um chefe de Estado.

Queria a tela Abaporu, de Tarsila do Amaral (1886-1973), entre as peças de uma exposição no Palácio do Planalto que tinha como tema a arte produzida por mulheres. Pois no dia 23 de março, depois de longas negociações entre o Ministério de Relações Exteriores brasileiro e o Museu de Arte Latino-Americana da Argentina, o Malba - a quem o quadro pertence -, Dilma inaugurou a mostra coletiva justamente destacando a presença do quadro em Brasília. Seu discurso naquela noite, de cerca de dez minutos, foi todo em torno da obra mítica que, em 1928, inspirou a principal peça propagandística do modernismo brasileiro, o Manifesto Antropofágico. Disse Dilma: "O Abaporu tem uma simbologia toda especial para nós, brasileiros.

(...) Eu queria lembrar que ‘abaporu’ quer dizer ‘homem que come gente, homem que come homem’, no sentido do nosso movimento antropofágico, que é a nossa capacidade de absorver o que tem de universal em todas as culturas e metabolizar no particular".

A presidente captou, com sua fala e sua atitude, um sentimento recorrente entre os brasileiros, leigos ou especialistas, que apreciam arte: o de que a pintora Tarsila do Amaral é a artista que melhor traduziu o que mais tarde seria chamado de "espírito de brasilidade". E que se há um quadro dela que hoje resume isso no imaginário coletivo seria exatamente o Abaporu, a tela que em 1995 estabeleceu um valor recorde para a produção nacional ao ser arrematada por 1,43 milhão de dólares em um leilão na prestigiosa casa nova-iorquina Christie’s (o recorde só seria batido no ano passado, por Sol sobre Paisagem, de 1966, de Antonio Bandeira).

A "simbologia" a que se refere Dilma tem a ver com o fato de que Tarsila - a personagem e sua obra - sobreviveu ao tempo, expressando valores que soam pertinentes até hoje. Sua biografia é pontuada por episódios de coragem: afinal, quem lá trás, nos anos 20, romperia um casamento tedioso para encarar as experiências que alimentariam criações revolucionárias? O Brasil que emerge das telas de Tarsila, vibrante e nada acanhado com o mundo lá fora, continua sendo o que muita gente quer para o país - entre elas, a presidente, claro.

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