domingo, 11 de setembro de 2011

Educomunicação pode combater evasão no ensino médio

luan.santos

Incentivar estudantes a produzirem informações pode tornar as aulas mais interessantes e combater a evasão. Essa é a avaliação do especialista em educomunicação, Ismar de Oliveira Soares, que neste mês lança o livro “Educomunicação: o conceito, o profissional, a aplicação”.

Para ele, “a educomunicação é um conjunto de ações que visam criar ecossistemas comunicativos voltados para a prática da cidadania”.

Além do livro, Soares participou do lançamento do curso de licenciatura em Educomunicação da Universidade de São Paulo (USP), na última segunda-feira (28/2).

Portal Aprendiz – Qual o assunto central do livro e por que é importante abordá-lo?

Ismar de Oliveira Soares – A proposta central é disseminar o conceito de educomunicação junto aos projetos de educação do país, mostrando que ele é uma resposta, por exemplo, aos problemas do ensino médio. O livro traz um capítulo sobre juventude que aponta que 40% dos jovens abandonam o ensino médio e que outra parcela grande passa por essa etapa, termina, mas aprende muito pouco e detesta o que está fazendo.

Por outro lado, o capítulo mostra que há muitos jovens felizes, realizados e participativos em organizações que trabalham com educomunicação. Então, porque não incluí-la na educação para reformar o ensino médio?

Aprendiz – Como definir a Educomunicação? O que ela trabalha? Com quais objetivos?

Soares – Quando falamos em educomunicação estamos fazendo um neologismo e juntando conceitos: a educação, a comunicação e a ação. Temos a frente da discussão, a interface entre ação e educação, que é capaz de mobilizar pessoas e incentivá-las a buscar objetivos comuns.

A educomunicação é um conjunto de ações que visam criar ecossistemas comunicativos, abertos e democráticos, viabilizados pelas tecnologias da comunicação e voltados para a prática da cidadania. Trata-se de uma educação voltada para que as pessoas possam entender o mundo e serem ativas na construção da cidadania, como diz Paulo Freire.

O principal foco é apoiar a capacidade de expressão dos sujeitos sociais. Nele não existe uma relação hierárquica de transmissão de conhecimento, como na comunicação tradicional, de mercado, onde o produtor que define o conteúdo e o expectador consome.

Aprendiz – Como a educomunicação pode ajudar o desenvolvimento de crianças e jovens?

Soares – A educomunicação emerge nos meados do século XX em grupos que lutavam a favor da democracia. Ela nasce com o público adulto, na esfera dos movimentos sociais. Nos anos 80 e 90 ela chega as ONGs, que começam a trabalhar com crianças e jovens.

A perspectiva de uma criança produzir e buscar seu material permite que ela analise as relações que tem com a sociedade e, com isso, se torne um cidadão crítico. A partir de um projeto de interação midiática, a criança percebe que pode manipular e ser autoritária ou fazer uma gestão democrática. Assim, descobre as diferenças dessas relações e começa a ter critérios para julgar.

Aprendiz – O livro aborda a Educomunicação sob o viés do Programa Mais Educação. Qual o potencial dessa prática para garantir educação sob uma perspectiva integral?

Soares – O Ministério da Educação, no Programa Mais Educação, tem entre os macrocampos do ensino médio a educomunicação e cinco mil escolas optaram por ele. Isso porque o desamino, a falta de motivação e a rigidez curricular são os principais problemas do ensino médio. Quando o aluno percebe que pode dialogar com a escola por meio do teatro e da música, do vídeo, do radio e do resgate da cultura local, ele começa a ter voz e vai ser motivado a estar na escola.

Aprendiz – Qual o potencial que a prática tem para tornar o ensino médio mais interessante e combater a evasão?

Soares – Em 2007, na Prova Brasil, o Inep detectou que das 40 melhores escolas, todas usavam processos com mídia. Isso porque a comunicação é uma relação que se estabelece entre sujeitos sociais. Paulo Freire dizia que a educação tradicional produz um homem silencioso e a única coisa que ela pode fazer é escolher seus dirigentes e transferir a governança para os eleitos. Já a educomunicação resgata um exemplo de democracia, quando as pessoas estão na polis e podem intervir em seu meio.

Ela não é uma ferramenta. É um paradigma educador. Meu recado para os professores é que não tenham medo da prática democrática. O resultado dela diminui os conflitos e gera uma escola com alta produção.

Aprendiz – Nesse viés, por que a educomunicação propõe que professores e alunos ocupem o mesmo papel na produção de informação?

Soares – O processo tradicional coloca pessoas em lugares diferentes, sendo que o professor é o chefe. Quando os dois estão em uma situação horizontal de produção, eles vivem uma prática que permite que exerçam seu papel de cidadão.

O professor, como um adulto significativo, e a criança, como cidadã, constroem juntos um modelo de comunicação. O principal resultado de uma gestão democrática não é o produto, mas sim o que é aprendido. Esse processo fará com que essa criança se torne crítica e faça proposituras atentas às mudanças que as escolas precisa, por exemplo.

Fonte: http://aprendiz.uol.com.br

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