domingo, 11 de setembro de 2011

O ensino de Geografia com novas abordagens

luan.santos


Para a especialista Lana de Souza Cavalcanti, explicar conceitos geográficos não basta. O educador precisa de reflexão e atualização constantes. Vários modelos educacionais já foram experimentados para tratar de questões geográficas na escola brasileira. Durante a década de 1970, predominava a tendência do ensino baseado no trinômio “natureza, homem e economia”. Esses conceitos, no entanto, eram vistos de forma fragmentada, cada qual tendo uma lógica própria e isolada dos demais. Depois, até os anos 1980, ocorreu o movimento de renovação no ensino da disciplina, que apontava para a ineficiência da metodologia adotada anteriormente. Surgiu, assim, uma Geografia crítica, acompanhando a evolução da ciência geográfica. Vivia-se a passagem da década de 1980 para a de 1990, um momento de abertura política e de especificação dos problemas sociais que o Brasil enfrentava. A disciplina assumiu a missão de denunciar contradições do modo de produção capitalista, tendo como proposta uma sociedade alternativa. Foi quando a geógrafa Lana de Souza Cavalcanti apresentou sua tese de mestrado e deu início a um percurso acadêmico dedicado à disciplina escolar e à formação docente – caminho que ela trilha até hoje na Universidade Federal de Goiás (UFG). Na entrevista a seguir, a pesquisadora afirma que não existe Geografia escolar de qualidade sem uma ponte que ligue a disciplina à vida cotidiana dos alunos. Ela defende o protagonismo dos professores e fala sobre questões delicadas referentes ao ensino para turmas de Ensino Fundamental.

Existe alguma diferença entre a Geografia como disciplina escolar e a ciência geográfica?

LANA DE SOUZA CAVALCANTI Sim, embora ambas analisem a realidade pela mesma perspectiva. O modo como cada uma compõe e organiza os temas de estudo é diferente. No mais, a primeira é um feixe de referências – e, entre elas, está a ciência geográfica estudada nas nossas universidades. Para lecionar no Ensino Fundamental, não basta aplicá-la diretamente, nem de um modo simplificado. A disciplina tem história, estrutura e lógica próprias.

Muitos professores recém-formados não têm isso claro e se sentem atormentados por não conseguir aplicar o que aprenderam na graduação.

Qual é a chave para que as aulas da disciplina tenham bases sólidas?

LANA O foco na escola deve estar nos mesmos conteúdos aprendidos na graduação. Mas eles devem ser estruturados de outra maneira para ser apresentados às crianças. Preocupa ver que isso nem sempre é discutido na universidade. Resultado: quando chegam à sala de aula, os recém-graduados abandonam os conteúdos que aprenderam e se rendem a uma estrutura engessada. É preciso que eles alimentem a disciplina com novas reflexões e abordagens. Isso evita a deterioração da Geografia acadêmica, pois quem torna a disciplina viva é o educador.

E a situação de quem leciona para os anos iniciais do Ensino Fundamental, que não é especialista?

LANA Além de não ser geógrafo, esse profissinal não aprende muito sobre Geografia na faculdade de Pedagogia. Por isso, é normal que ele não tenha recursos, ou que os tenha de forma precária e sinta dificuldades. Para lecionar com qualidade, basicamente é preciso ter consciência do que é e de como se constrói o pensamento espacial – um conhecimento geográfico que faz parte do cotidiano – e saber os conteúdos da disciplina. Todos nós ocupamos e produzimos um espaço, o do nosso corpo.

É possível introduzir uma estrutura organizada para o ensino de Geografia nos cursos de Pedagogia?

LANA Existem algumas disciplinas já consagradas e que recebem mais atenção: Matemática, Língua Portuguesa e Ciências. Socialmente, essas são consideradas as mais importantes para a formação básica do aluno. O pedagogo provavelmente sabe mais a respeito delas e de como trabalhá-las porque isso lhe foi ensinado com ênfase. Desejo que, um dia, todas as disciplinas básicas sejam trabalhadas com a mesma dedicação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário