terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A “força estranha” do Natal

Jorge Antonio de Queiroz e Silva


A preparação do Natal provoca nas pessoas ideias de solidariedade, encontros familiares, presentes. Mesmo que muitas não se recordem de que o aniversariante é Jesus Cristo, este distribui fraternidade, doação e salvação, no universo, buscando presentear a cada um com sentimentos bons. É o perdão que, enfim, se dá, e a humildade que se realiza. Chances terminadas renovam-se. O diálogo busca novos atores. Mesmo aqueles que não acreditam em um Criador encontram motivos para se reunir, pois é tempo de preparação para a festa.

No entanto, eu penso nas novas vidas que vão se transformar em Natal. Enquanto me locomovo, observo nas ruas e nos meios de transporte aquelas mulheres que carregam em seus corpos as vidas de outras pessoas. Talvez semelhantes ao que expressa o cantor Roberto Carlos em Força estranha: “Eu vi a mulher preparando outra pessoa. O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga. A vida é amiga da arte. É a parte que o sol me ensinou. O sol que atravessa essa estrada, que nunca passou... Por isso uma força me leva a cantar, por isso essa força estranha no ar...”

As vidas que estão sendo preparadas já carregam suas histórias. Algumas foram precedidas por longo planejamento familiar, outras dão sequência a irmãos já presentes na família, outras não foram desejadas ou foram frutos de agressões e, no caso das mães adolescentes, resultam, talvez, das primeiras experiências sexuais e da falta de diálogo na família. Independentemente dos motivos, os Natais que estão nas barrigas das diferentes mulheres se anunciam, os Jesus, os Josés, as Marias e crianças de tantos outros nomes irão nascer.

O que elas irão encontrar? O momento do nascimento é especial. O pediatra e psicanalista Donald Woods Winnicott (2000), em sua obra Memórias do nascimento, trauma do nascimento e ansiedade, preocupou-se especialmente em informar aos pais sobre a importância de preparar o ambiente para a chegada da nova vida. A mãe deve tentar reproduzir no ambiente externo a segurança que a criança tinha na vida intrauterina. A família inteira precisa ajudar. O psicanalista considera que as primeiras experiências de nascimento de uma criança são tão importantes que seus indícios podem ser observados em manifestações verbais de alguns pacientes em clínicas de tratamento na fase adulta. Caso o parto-nascimento não ocorra em condições adequadas, a criança poderá ter uma experiência de sofrimento e trauma, diante de uma possível experiência de descontinuidade da vida que tinha na gestação.

Família e sociedade, todos temos a responsabilidade de favorecer o bem-estar das gestantes e preparar o “presépio” da nova vida. Esta não espera encontrar um berço sofisticado, mas todos os itens necessários a lhe transmitirem segurança: afeto, bem-estar e harmonia familiar, que farão dela uma pessoa tranquila. E o aleitamento materno é a forma mais forte da mãe demonstrar-lhe seu amor. A mãe saberá como tocá-la de forma a lhe dar sustentação psíquica e física, lembrando que a sua voz é ouvida como melodia pela criança, conforme Winnicott.

Então, preparemos ambientes bons, sem fome, sem ódio, sem violência, para que as mães possam dizer belas palavras que se transformam em canto para suas crianças. Assim, a força estranha do Natal se concretiza em felicidade. Feliz Natal.


Jorge Antonio de Queiroz e Silva
queirozhistoria@uol.com.br
Historiador, palestrante e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.



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