terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A outra fumaça

Enviado por Cristovam Buarque (*)

Fonte:Análises do Corumbá

O Brasil deu um salto civilizatório ao proibir em escala nacional a fumaça de cigarros em ambientes fechados. Milhões de vidas serão salvas graças a esta decisão nacional. É surpreendente que outros problemas igualmente graves não sejam enfrentados com a mesma vontade, para que o salto seja ainda maior.

Não se vê como igualmente grave, o problema do analfabetismo de adultos que já deveria estar resolvido há décadas. O fumo mata por câncer, o analfabetismo impede a vida plena de um adulto na vida moderna.

Mesmo assim, continuamos aceitando a morte cívica de dezenas de milhões de brasileiros ao longo das últimas décadas. Não percebemos que, na semana passada, completamos 122 anos de República, com uma bandeira que não é reconhecida por 13 milhões de brasileiros adultos.

Eles não sabem a diferença entre as palavras “Ordem e Progresso” ou quaisquer outras que forem escritas.

Nem nos incomoda tanto quanto a fumaça de cigarros, o fato de quase 10% de nossas crianças chegarem a 4ª série sem saber ler. Por ser tratado pela média, esse percentual não reflete a gravidade do problema ainda maior sobre as camadas pobres.

Estamos enfrentando o grave problema de cigarro na saúde pública, mas fechando os olhos à permanência da pobreza, característica da sociedade brasileira.

Aceitamos como natural que milhões de crianças trabalhem em vez de estudar. Mesmo que livres do fumo, essas crianças não terão futuro melhor do que a vida dos fumantes.

Uma parte delas trabalha na prostituição. Não estamos vendo isso como uma tragédia ainda pior do que o fumo. Se víssemos, seria possível uma ação tão forte como a lei antitabagista, abolindo de vez a possibilidade desse tipo de condenação de nossas crianças.

*Cristovam Buarque é professor da UnB e senador do PDT-DF

Corumbá

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