terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Relações raciais na escola

A presente pesquisa mostra que, muitos preconceitos ainda estão enraizados nos individuos, em decorrência de alienantes modelos culturais que lhes são impostos, educar sem discriminar tem sido uma tarefa árdua, quem vem ganhando espaço. As preocupações acadêmicas com as relações raciais nas escolas refletem a amplitude da democracia racial brasileira, varias reflexões estão sendo abordadas. Novos debates estão abrindo espaços para uma transformação como prática educativa produtora do conhecimento.
“Quanto mais investigo o pensar do povo com ele, tanto mais nos educamos juntos. Quanto mais nos educamos, tanto mais continuamos investigando. Educação e investigação temática, na concepção problematizadora da educação, se tornam momentos de uma mesma problematizadora da educação, se tornam momentos de um mesmo processo”. (FREIRE, 1978)

Paulo Freire evidencia que essa transformação só será possível através de estudos e analises, por isso existe a necessidade de o professor fazer da experiência e da prática cotidiana o espaço de sua reflexão teórica, construindo pontes entre o dizer e o fazer. Buscando a transformação, primeiramente do universo escolar e conseqüentemente do seu cotidiano, contribuindo assim, com a pratica docente.

Ao tratar-se das relações raciais na escola, não se pode desconsiderar sua realidade de país marcado por diversidade cultural e racial. Como a organização da escola reflete a organização da sociedade que temos e construímos, tanto numa como noutra projeta-se a complexidade das relações entre os diferentes sujeitos e grupos sociais que as compõem. Nelas revelam-se as contradições e os conflitos que se manifestam por meio dos indivíduos que cotidianamente se inter-relacionam. Assim, o preconceito e o racismo reforçam os mecanismos de exclusão que permeiam a educação.

A marca da sociedade e da cultura dominante é impressa em uma variedade de práticas escolares, isto é, na linguagem oficial, nas regras da escola, nas relações sociais na sala de aula, na seleção e apresentação do conhecimento escolar, na exclusão de capital cultural específico etc. É desnecessário dizer que ela não é simplesmente impressa ou imposta sobre a consciência ou sobre as ideologias dos oprimidos. É sempre mediada, algumas vezes rejeitada, algumas vezes confirmada. (...)É crucial reconhecer que as escolas representam terrenos contestados na formação das subjetividades, mas que esse terreno é tendencioso a favor da cultura dominante. (GIROUX, 1986, p. 94-95

São nessas praticas escolares que se revelam as contradições e conflitos, que se manifestam por meio dos individuos que se relacionam cotidianamente. Assim, o preconceito e o racismo reforçam os mecanismos de exclusão que permeiam a educação.

Almejamos uma postura reflexiva do educador, que implica ver, sentir, analisar a própria construção histórica dos sujeitos sociais, assumindo o compromisso político de reconhecer que existem várias histórias, várias táticas de praticantes (CERTEAU, 1995), que a história e a política oficial sempre silenciaram, construindo a longa tradição de exclusão socioeconômica, cultural e sociopolítica de vários setores (negros, índios, grupos rurais etc.) da sociedade brasileira. Pensamos em um mundo melhor, com diversidade cultural e relações raciais igualitárias. Somente com estudos anti-racistas das contribuições culturais dos povos que formam nossa sociedade, pode-remos alterar essas relações.

Segundo o antropólogo Kabengele Munanga, uma justificativa razoável para a invisibilidade do preconceito racial nas escolas, seria a interiorização quase inconsciente da discriminação a partir de uma ideologia desenvolvida pelos segmentos dominantes nos processos sociais.

Costuma-se buscar a explicação dessa falta de consciência da discriminação racial na falta de instrução, ou seja, no bode expiatório cultural. Essa justificativa não convence porque os seres humanos não precisam de instrução para sentir dor, o menosprezo, a injustiça e exclusão. Sem dúvida, um certo nível cultural é indispensável para abrir os horizontes e, se necessário para articular o discurso interno em torno da questão; mas a falta de consciência não pode ser atribuída, absolutamente, à falta de instrução. A tendência, em geral, mesmo no brasileiro esclarecido é negar a discriminação. (1996, 214).

No decorrer do projeto, observou-se a invisibilidade das relações raciais, isso pode ser percebido com maior clareza na ausência de debate sério e crítico sobre o tema. Um exemplo são as cotas por critérios raciais. O assunto, no mínimo, expôs duas feridas, um dela supostamente cicatrizada e a outra, sangrando a olhos vistos.

Ao serem indagados sobre as cotas, os alunos, observaram que a mesma abre a problemática da escola brasileira, excludente, sem políticas publicas de longo prazo e com índices de avaliação ruins. Mesmo diante desses acontecimentos, as análises infelizmente não focalizam as dificuldades do processo educacional de base, apenas o ensino superior. A discussão sobre as cotas, permeou por mais de duas aulas, um assunto que sabíamos que chamaria tanta a atenção dos alunos.

“A prática de racismo, por evidente, não exige que o agente possua destreza ou domínio cientifico ou retórico dos teoremas raciais, muito menos filiação de longa data ou engajamento político-ideológico às teorias raciais, tampouco que produza uma ação movido por ódio racial e que esta seja dirigida ao grupo racial no seu todo, bastando que tal pratica reflita o conteúdo nuclear da ideologia (...) (2002; 21)

Thompson (1998), ao relacionar costumes e culturas, nos indica um posicionamento: a cultura, sempre em caráter mutante, quando é produzida por aqueles que buscam, questionar o quadro vigente, o fazem por interesses próprios. Os costumes são passados de pai para filho de forma camuflada, tendo o preconceito racial, envolto em tundas de linho.

A cultura popular é rebelde, mas o é em defesa dos costumes. Esses pertencem ao povo, e alguns deles se baseiam realmente em reivindicações muito recentes. Contudo, quando procura legitimar seus protestos, o povo retorna freqüentemente as regras paternalistas de uma sociedade autoritária, selecionando as que melhor defendam seus interesses atuais. (p.19).

Quando pensamentos em relações raciais dentro da escola, podemos perceber que as mudanças comportamentais, podem decorrer das atuações de papeis sociais, que reforçam mascaras e supostos postos de controle. Em geral, essas diferenças raciais já esta impregnada nos individuos mesmo antes de fazerem parte do ambiente escolar. É o verme do preconceito racial, que na maioria das vezes é passado de geração para geração, algumas vezes de maneira imperceptível, e outras de maneira escancarada e vergonhosa, para uma sociedade que se diz democrática.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AQUINO, Júlio Groppa. Diferenças e preconceito na escola: alternativas técnicas e práticas. São Paulo, ed. Summus, 1998.

BENTO, Silva Aparecida Maria. Cidadania em preto e branco – discutindo as relações raciais, São Paulo. ed. Ática, 2004.

Brasil. Lei 10.639 de 09 de janeiro de 2003. Brasília: diário Oficial da União, 10 de janeiro de 2003.

BROOKSHAU, David. Raça e cor na literatura brasileira. ed. Nacional. Porto

Alegre – Mercado Aberto, 1987.

CERTEAU, Michel de. A Cultura no Plural. Campinas-SP: ed. Papirus, 1995

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. RJ: ed. Paz e Terra, 1978.

GIROUX, Henry: Teoria crítica e resistência em educação. Petrópolis: ed. Vozes, 1986. 336p.

MOREIRA, Antonio Flávio e SILVA, Tomaz Tadeu. Currículo, Cultura e Sociedade.

SP: ed. Cortez, 1994.

MUNANGA, Kabengele. As facetas de um racismo silenciado. In: Schwacz. Lilia Miritz at QUEIROZ, Renato da Silva (orgs). Raça e Diversidade. São Paulo: ed. Edusp, 1996.

MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a Mestiçagem no Brasil - Identidade Nacional Versus Identidade Negra. São Paulo. ed. Autentica

SILVA JR., Hedio. Direito de igualdade racial. São Paulo. ed. Juarez de Oliveira, 2002.

THOMPSON, E.P. Costumes em comu. São Paulo: ed. Companhia das Letras, 1998.

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