quarta-feira, 2 de abril de 2014

Aposentar


Aposentar é arriscar desfalecer e retornar na criação de si mesmo, agora mais experiente e também mais livre. Aposentar é renovar espaços de ação na própria vida.

Para aposentar é preciso se despedir do que acabou. Fechar o tal ciclo que tantos falam, colocar o ponto final naquilo que já cumpriu seu papel, esgotou a função e caminhar para novos parágrafos e vírgulas do texto da sua vida.

O que viveu estará eternizado nos recônditos do seu tempo interno e os finais são necessários para alcançarmos a eternidade desse tempo vivido. A porta estará aberta para sempre irem e virem àqueles que viveram na sua história, mas a experiência, a presença deixada lá terminou.

Aposentar é reconhecer que somos únicos e que se nascemos é porque algo de muito importante temos para realizar nesse mundo. É ter certeza de que seu caminho nesse planeta tem relação direta com seu trabalho. É acreditar que realiza seu trabalho da melhor forma possível e da maneira mais dedicada que pode.

Aposentar não é ficar parado sem nada para criar, fazer ou produzir; ao contrário, é ter coragem de dar um breque na vida, olhar em volta e pensar, reformular, reorganizar e dar partida para o novo.

Só se aposenta e fica murcho na vida quem se aposentou sem chegar ao fim. Se, chegou ao fim, não há saída a não ser aposentar para renovar seu ciclo, recriar a própria vida e reinventar o próprio trabalho. Aposentar é agradecer todas as oportunidades de crescimento, de convívio e de diversificados relacionamentos que encontrou em todos os anos de trabalho.

Aposenta quem reconhece ter se confrontado com as muitas facetas do ser humano. As sombras, a discórdia, a inveja, a arrogância, as mentiras, as vaidades, as injustiças assistidas ou vividas e também a luz, a amizade, o carinho, a confiança, a solidariedade, a generosidade, o apoio, o incentivo e percebe que construiu ali, junto a todos, uma história para ser contada e lembrada.

Aposentar é agradecer a todos que cruzaram seu caminho de um modo ou de outro, da forma que puderam, tornando tudo importante. É acolher a contribuição inestimável que trouxeram para sua alma. Afinal, como diz Terêncio, o pensador: "Sou humano e nada do que é humano me é estranho".

Aposentar é desejar do fundo do coração que a convivência no dia-a-dia com as nossas sombras e a nossa luz possa dar a todos a dimensão humana que nos alcança numa grande rede de aprendizagem.

Aposentar é quando você deu tudo, a sua última força, sem negar, sem embromar e no ano seguinte não estará mais lá e, sim, aqui e acolá.

Portanto, prossigo, não finalizo. Interrompo o que se esgotou, anulo a falta de perspectiva, nego o tempo que já passou, desprezo o desânimo. Eximo a minha ausência no mundo e continuo exercendo a única coisa que tenho para oferecer sempre: VIDA!

Compartilho experiências, multiplico habilidades, exerço meus inúmeros talentos e descubro outros, trabalho meus domínios, estudo, pesquiso, aprimoro. Percebo o que arde, o que queima no meu coração. Aquilo que surge límpido do seu peito.

Descubro onde minha fé se enraizou e planto ali, seguro e confiante, meu trabalho de continuar no mundo com a idade que tiver.

Assim, me aposento, assim prossigo, assim sou...

Obrigada por ter feito a minha história se tornar melhor, absoluta e verdadeira...

Elena Roque de Souza Almeida elenaroque2@hotmail.com

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