terça-feira, 1 de abril de 2014

Escolas criam comitês de alunos para discutir tecnologia na sala de aula

Digital. Estudantes discutem utilização de aplicativos, problemas identificados nas ferramentas e aprimoramento do processo de ensino e aprendizagem; para especialista, modelo pode ser estendido para que estudantes avaliem outros aspectos do colégio
 
Há dois anos, quando todos os alunos do 1.º ano do ensino médio do Colégio Dante Alighieri receberam tablets individuais, os professores da escola perceberam que ensinar com o novo aparato tecnológico não seria tarefa tão simples. Decidiram, então, formar um grupo de estudantes que discute semanalmente questões relativas à ferramenta. Outras escolas particulares também estão adotando sistema semelhante.

"Os alunos têm uma inteligência maior para questões tecnológicas. Então, concluímos que o ideal seria fazer uma gestão compartilhada da ferramenta. Até porque quando existe algum problema, os estudantes identificam mais rápido", diz Valdenice Minatel, coordenadora do Departamento de Tecnologia Educacional da escola. Hoje, o Comitê Gestor Discente, como é chamado o grupo, conta com 34 membros, entre alunos dos três anos do ensino médio.

Nas reuniões, os estudantes discutem temas como o melhor uso dos 50 aplicativos adotados - todos gratuitos -, relatam problemas encontrados com as ferramentas e debatem sobre o aprimoramento dos processos de ensino e aprendizagem com o tablet. Além disso, podem sugerir a adoção de novos aplicativos, alguns criados por eles mesmos. Muitas vezes, a conversa continua em um grupo do WhatsApp criado para debater assuntos que não podem esperar até a reunião seguinte.

"Sempre fui interessado em tecnologia e resolvi participar do comitê. Podemos opinar e debater sobre o que achamos bom e interessante para utilizar na sala de aula", diz Thales Giriboni, de 16 anos, aluno do 2.º ano do ensino médio. Foi ele quem desenvolveu um dos aplicativos usados na escola - uma agenda eletrônica capaz de sincronizar os dados personalizados dos alunos, como compromissos diários e planos de estudo, com as tarefas da turma.

O Colégio Visconde de Porto Seguro distribuiu na semana passada tablets individuais para os 648 alunos do 9.º ano do ensino fundamental, um projeto-piloto que futuramente deve se estender aos outros anos do fundamental e ao ensino médio. Já na primeira semana foi criado um comitê de 30 pessoas, entre professores, pais e alunos, para debater o melhor uso dos tablets.

"A ideia é pensar, ao lado de um usuário final, uma utilização dos tablets que faça sentido para ele", explica Renata Pastore, diretora de Tecnologia Educacional da escola.

"Queremos ver o que está dando errado e o que está dando certo e também sugerir novos aplicativos", diz Fernanda Bonfatti, de 13 anos, uma das integrantes do comitê da unidade Morumbi. No Porto Seguro, os pais também estarão representados no comitê. "Eles têm de dar o seu parecer sobre o que está acontecendo em casa", justifica Renata.

Democracia. Acostumados a um modelo de ensino mais vertical, em que professores e gestores são os responsáveis pelas decisões, os alunos estão gostando da experiência democrática. "Acho que deveria haver comitês como esse para tratar de outros temas na escola. É importante ter espaços de discussão", diz Yasmine Mafulde, de 16 anos, aluna do 3.º ano do Dante.

Para o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Marcelo Giordan, os comitês de tecnologia são interessantes por darem voz aos alunos. "Precisamos abrir mais a sala de aula, que sempre foi um reduto de domínio exclusivo do professor."

Ele também defende que os alunos avaliem outros aspectos do colégio, além do tecnológico. "É preciso desenvolver esse debate sobre avaliação das aulas, do trabalho do professor e de outros processos." Giordan acredita que a experiência de discussão em uma área que os jovens dominam, como a tecnologia, ajuda a ampliar a visão dos alunos. "Possibilita mais participação e transparência."

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