Erika de Souza Bueno
Estamos vivendo dias em que a sombra do menor erro é tida como fatalidade, como algo que nunca e em nenhuma hipótese poderia ter acontecido.
As proporções que sentimentos naturais de todo ser humano, como o medo, as saudades, o arrependimento e, pasmem, até o direito de errar, são assustadoras, pois prega-se o modelo de super-herói, ou seja, seres humanos que perderam o direito de experimentar sensações naturais a sua condição intransferível de pessoa.
Comportamentos assim fazem com que nos frustramos com mais facilidade, uma vez que nós somos obrigados a ter braços de ferro para desempenhar as mais diversas atividades sem nunca demonstrarmos cansaço e, como não se bastasse, há a nítida percepção que é desejável que os nossos corações também sejam de ferro e incapazes de pular mais forte ante a alguma situação.
Tudo isso, ainda que apregoado em diversos setores das nossas vidas, está muito longe de ser verdade. Ora, quantas marcas de tristezas e insatisfações vemos nas faces de muitos que alcançaram um posto altíssimo de destaque, os quais costumam falar de si mesmo sobre alguém que não conheceu o medo, o arrependimento e afins?
Não quero nestas linhas que escrevo, fazer demagogia ao erro, ao medo e ao fracasso, numa situação que impeça a obtenção de algo que pode fazer alguém feliz. Não, não é esta a ideia que desejo compartilhar.
Quero que os meus leitores compreendam que é preciso um reposicionamento frente a inverdades expostas nos dias atuais, nos quais a modernidade nos dá uma falsa sensação de onipotência.
Errar continua sendo humano, por mais que frases muito bem produzidas queiram dizer o contrário.
Sentir medo pode ser muito bom para nos impedir de cometer inconsequências que refletirão negativamente em nossas vidas e nas vidas daqueles que nos cercam.
Arrependimento é um sentimento que nos faz repensar atitudes impensadas em alguns momentos, que causaram dores e foram motivos de amargas lágrimas nos olhos de quem nos amava ou ainda nos ama.
Contudo, a bem da verdade é que nenhum destes sentimentos pode ser motivo de vergonha, pois são comuns a todo mundo, ainda que nem todo mundo os admita.
Não se pode desconsiderar, entretanto, que a administração pessoal merece espaço em nossas tumultuadas agendas. Precisa-se de completa dedicação para melhor governar a nós mesmos, pois tudo o que fazemos hoje terá, certamente, reflexos em algum momento do futuro.
É preciso saber estabelecer metas atingíveis. A aposta no incerto não pode ser feita inconsequentemente. Precisa-se avaliar o que passou, o que se está passando e o que queremos que venha ser realidade para nós no futuro.
Não é o caso de nos entregar ao fracasso, mas é o caso de conhecer os nossos limites, saber que precisamos de um tempo só para nós mesmos. É preciso esclarecer para nós mesmos que não é incapacidade ou insegurança dizermos “não” para algo que receamos as possíveis consequências, ou seja, o “não” também pode ser um excelente método de administrar impactos.
Por fim, viva com mais tranquilidade, conheça os seus limites, faça um planejamento adequado á realidade que se deseja viver, sem nunca desconsiderar a importância de se ter um tempo só para você mesmo e, também, para aqueles que realmente se importam com o seu bem-estar.
Desta forma, certamente diminuiremos os casos de depressão, que assolam muitas pessoas exigentes demais consigo mesmas e, acredite, professor, nossos alunos não podem ficar sem saber destas verdades, pois muito mais do que nós, o futuro será ainda mais exigentes com eles e, nós, não queremos que eles vivam insatisfeitos e frustrados, pois se assim se tornarem, a felicidade será uma utopia.
Erika de Souza Bueno - Professora de Língua Portuguesa e Espanhol pela Universidade Metodista de São Paulo. Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, sociedade e família.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário